sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Afinal, onde nos escondemos?


Logo cedo resolvi ir à feira. Meu filho adora bananas e eu a multiplicidade que aquela reunião de cores, barracas, gritos e preços proporcionam, cuidei logo de comprar uma dúzia da fruta na primeira quitanda de lona.

Na segunda "tarimba", uma cena inusitada! O vendedor, que também era o proprietário estava visivelmente embriagado. - Ele bebe para esquecer as mágoas doutor, sentenciou a mulher que o amparava fisicamente com certa dificuldade.

Sorri e fiquei pensando com os meus botões: não me parece muito razoável aduzir que alguém se esconda na bebida. Não faz sentido, a verdade é que nos escondemos, de fato, é na nossa sobriedade, na nossa razão, na nossa vida social e comunitária.

Um exemplo clássico desse nosso “esconderijo” são, hodiernamente, as redes e mídias sociais. Num breve périplo pelo facebook, instagram ou qualquer outra grande plataforma midiática e social, podemos concluir, sem muito esforço, que ali vivemos em um grande palco de aparências, um mundo digital idealizado por um inconsciente coletivo construído em um comportamento social, econômico e político cioso de uma idealização que não somos, inclusive, de um parâmetro de beleza que não temos. A necessidade que temos de fotografar, de exibir, de bem nos apresentarmos nesse universo digital revela o quanto estamos carentes de vivermos intensamente nossos momentos individuais. E a vida é isso, momentos.

O excesso de exposição funciona justamente como uma máscara, um esconderijo que nos impossibilita demonstrar nossas carências, nossos afetos, nossas derrotas, nossas dores e nossas vontades, e vontade aqui está empregada como representação do nosso eu. Nas redes sociais tudo parece mais fácil e mais feliz. A vida pesa menos em nossos ombros ao passo que dividimos e publicitamos nossas idealizações com o outro.

Indubitavelmente, as redes sociais são as mais explícitas formas de se esconder de nós mesmos. Elas nos atraem pela “necessidade” que temos de demonstrarmos belos, felizes e realizados, quase sempre, fruto de nossas cobranças e dos grandes obstáculos da vida real, impostas por nossas paredes interiores e que não conseguimos ultrapassá-las.  

O celular, com sua minúscula tela, tem facilitado a expansão desse nosso circo fantasioso e ideal, ao mesmo tempo em que, igualmente, tem consigo roubar o nosso tempo seduzindo-nos com um universo cenográfico que não nos pertence, um mundo de excessiva e cruel exposição sem alicerces e que tem conseguido nos afastar do “eu” que realmente nos pertence e do que verdadeiramente somos, maquiando nossas fraquezas, nossas feiuras, nossos problemas e impotências. O tempo, nessa nossa vida fugaz, é sempre muito caro. Consumi-lo nessa nossa caverna digital, não nos adiciona nada.

É desafiador percebermos onde estamos mergulhados e somente a racionalidade pode nos apontar essa profundidade.

A racionalidade é a nossa conveniência. É ela que, quase sempre, abaixa a cortina, apaga os refletores, põe fim aos aplausos ou às vaias e encerra os nossos espetáculos sempre que, convenientemente, julgarmos necessário nos escondermos.

 

Teófilo Júnior

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