segunda-feira, 30 de novembro de 2020


"Vivemos num sistema de mentiras organizadas, entrelaçadas umas nas outras. E o milagre é que, apesar de tudo, consigamos construir as nossas pequenas verdades, com as quais vivemos, e das quais vivemos.“

José Saramago

 


 


 


 


domingo, 29 de novembro de 2020

 



A Revolta da Vacina foi um motim popular ocorrido em 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Seu pretexto imediato foi uma lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, mas também é associada a causas mais profundas, como as reformas urbanas que estavam sendo realizadas pelo prefeito Pereira Passos e as campanhas de saneamento lideradas pelo médico Oswaldo Cruz.

 



Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons.

Cícero


"Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava."

José Saramago, em Levantado do Chão (contracapa)

Ilustração, Lee White

sábado, 28 de novembro de 2020


O túmulo britânico do guerreiro desconhecido (também conhecido como "A tumba do guerreiro desconhecido") contém um soldado britânico não identificado morto em um campo de batalha europeu durante a Primeira Guerra Mundial . Ele foi enterrado na Abadia de Westminster , Londres, em 11 de novembro de 1920, simultaneamente com um enterro semelhante de um soldado desconhecido francês no Arco do Triunfo na França, tornando ambos os túmulos os primeiros a homenagear os mortos desconhecidos da Primeira Guerra Mundial. É o primeiro exemplo de uma tumba do Soldado Desconhecido.


Nenhum médico é capaz de curar a cegueira da mente.

Texto Judaico

"A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo."


( Mário Quintana ).

Má ciência


Certos cientistas pertencem àquela espécie de sujeito meticuloso, detalhista, pente-fino mental que não deixa escapar coisa nenhuma.  Deve-se a esses indivíduos (certamente uma minoria) a fama de chatos que os cientistas têm.

Claro que não é preciso ser cientista para ser assim. Uma vez, um amigo meu, que era técnico de som, foi lá em casa para ouvir algo no toca-discos. No começo da música ele começou a olhar para o relógio e anunciou que o aparelho estava com defeito. Ao invés de 33 rotações e um terço, por minuto, que é a velocidade padrão, estava com 33 e dois terços. 

Eu perguntei: “Mas não é quase a mesma coisa?”. 

Ele estufou o peito, ofendido, e disse: “Para um leigo, sim”.

Charles Babbage, que no século 19 projetou a Máquina Diferencial (um computador mecânico que nunca pôde ser construído) escreveu certa vez uma carta ao poeta Lord Tennyson, a respeito do poema deste, “The Vision of Sin”, onde se lê a frase: “Every moment dies a man, every moment one is born” (“A todo instante um homem nasce, a todo instante um homem morre”). 

Incomodado com essa inexatidão – que deixaria estável a população mundial – Babbage sugeriu ao poeta:  “Sugiro que na próxima publicação do seu poema o verso diga: A todo instante um homem morre, a todo instante 1 1/16 nasce”. E complementa: “O número exato é extenso demais para caber no verso, mas acho que 1 1/16 é exato o bastante para um poema”. 

É um exemplo claro de preocupação com a perfeição do detalhe e total desconhecimento do que se passa no conjunto.

Vi agora um comentário em The Guardian, em 2005, sobre uma canção de Katie Melua, “Nine Million Bicycles”, que dizia: “Estamos a 12 bilhões de anos-luz da borda [do Universo] / É uma suposição. / Ninguém pode dizer que é verdade. / Mas eu sei que estarei sempre com você”.  

Simon Singh escreveu um artigo examinando esta estrofe e declarou que não apenas o número está errado mas é muito grave dizer que ele não passa de uma suposição (“a guess”). Diz ele que o tamanho do universo é um número (13.7 bilhões de anos-luz) estabelecido com grande precisão científica, e sugere que a estrofe passe a dizer: 

"Estamos a 13.7 bilhões de anos-luz 
da borda do Universo observável. 
É uma boa estimativa, com margens de erro bem definidas. 
Os cientistas dizem que é verdade, mas 
reconhecem que esse número pode ser melhorado. 
E com esta informação disponível, eu afirmo 
que sempre estarei com você”.

Ressalva: nem todos os cientistas são (e muitos poetas são) pessoas fanaticamente detalhistas e preocupadas com exatidão factual. É mais um caso de diferença de sensibilidades pessoais do que do modo de ver de suas profissões. 
 
Bráulio Tavares
Mundo fantasmo 





Há muitos anos, no tempo de minha infância, com tijolinhos construí pontes, castelos, sonhos e assombrações. Muito depois, veio o peso do tempo e de tudo quanto é mundo. Foi aí que me tornei adulto e nunca mais encontrei as minhas edificações.

Teófilo Júnior

 


 


 


Pai Nosso cantado com dialeto africano - Bana Yetu

sexta-feira, 27 de novembro de 2020


Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.

Fernando Pessoa.


"A vida sempre tem encontros. Tudo o resto são descoincidências."

Mia Couto

 


 


Malena - Ennio Morricone

 


 


Roberta Sá - Me erra

Frase

“A infância é ver o mundo como algo que não está acabado. Aquele adulto que não se surpreende com nada, sinto dizer, mas está morto”.

Mia Couto

ALICE VIEIRA, in O QUE DÓI ÀS AVES (Caminho, 2009)


Já nem silêncios nos restam
De tudo o que antigamente nos sobrava
Das madrugadas limpas
Onde o canto das aves nos ensinava
O caminho de casa

Hoje os teus olhos perderam-se pelas ameaças da noite
E sei que só eu espero ainda o milagre
De um gesto perfeito (outros dirão perdido)
Que traga de volta à minha pele as marcas do suor
Com que falavas de mim como de um país
A que irias sempre regressar

- mas isso era no tempo em que
Ainda guardavas na algibeira as palavras da infância
Com que entraras um dia no meu corpo e na minha vida

E tudo tinha o destino tranquilo
De uma criança a atirar pedras à lua

Escultura de ©Philippe Faraut

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Em 18 de novembro de 1307


Guilherme Tell acerta flechada em maçã na cabeça do seu filho para escapar da morte

Um dos heróis da Suíça, Guilherme Tell teria disparado uma flechada certeira em uma maçã, colocada na cabeça do seu filho, que estava amarrado a uma árvore, em um dia como este, no ano de 1307. Caso errasse a flechada, Guilherme Tell seria morto. Esta, pelo menos, é a versão contada por Aegidius Tschudi, um historiador católico conservador. Guilherme Tell e seu filho foram presos pelo tirano Hermann Gessler, pois eles haviam desrespeitado sua autoridade.

Gessler, para testar a lealdade do povo, tinha ordenado que fosse pendurado um chapéu com as cores da Áustria em um poste numa praça de Altdorf. Todos que passassem por ali deveriam que fazer uma saudação respeitosa ao chapéu, que era vigiado por soldados. Guilherme Tell e seu filho não fizeram a saudação e, por isso, foram presos. Tell era conhecido por ser um homem forte, bom escalador e exímio atirador. Por conta destes atributos, o tirano resolver testar as qualidades de Tell em seu próprio filho. Tell teria feito o tiro certeiro com sua besta (ou balestra), uma arma do tipo arco e flecha, com gatilho.

Depois que Tell acertou a maçã, em meio a aplausos em praça pública, Gessler notou que o herói havia preparado duas flechas. Perguntado pelo tirano porque havia feito isso, Tell hesitou e depois confessou que, caso matasse o seu filho, a segunda flecha seria para assassinar Gessler. Indignado, o tirano cumpriu sua promessa em manter Tell vivo, mas, para isso, ficaria preso para sempre. Tell foi acorrentado em um barco, com destino ao castelo de Küsnacht. Gessler e seus soldados também subiram na embarcação. Contudo, no meio da viagem, houve uma tempestade, e Tell foi solto para ajudar no salvamento. Tell conduziu o barco com segurança para terra firme e, no final, conseguiu escapar. Pouco depois, encontrou o tirano e o matou com aquela mesma flecha já reservada. Segundo a lenda, este evento marcou o início de uma revolta, que ocorreu em 1o. de janeiro de 1308 e que levou ao nascimento da Federação Suíça. De acordo com Tschudi, Tell teria morrido afogado em 1354, ao tentar salvar uma criança do afogamento, no rio Schächenbach, em Uri, um estado da Suíça.

Fonte: Hoje na história

Humor

 


 


REGGAE 2019 Melo de Vanusa ♡ REGGAE REMIX 2019

quarta-feira, 25 de novembro de 2020


A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.

Escultura de areia

 


 


Humor

 


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Que queijo você tá comprando?

 



 "Às vezes, a melhor maneira de chamar a atenção de alguém é explodindo alguma coisa!"

 


 


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Frase

“No aconchego da noite, o impossível ganha a suposição do visível. Nessa ilusão descansam os nossos fantasmas .”

Mia Couto “Cada homem é uma raça “

 


 


O sentido da vida!

domingo, 22 de novembro de 2020

"Conclave": a eleição de um Papa


Saiu recentemente pelo selo Alfaguara (da Companhia das Letras) um romance que traduzi há algum tempo e que agora estou folheando para recordar algumas passagens.

Conclave (2016) de Robert Harris conta os bastidores de uma história que sempre tive alguma curiosidade de conhecer: a eleição de um Papa pelo Colégio dos Cardeais, em Roma. Para quem quiser saber em detalhe como são os rituais, os procedimentos, os regulamentos, os critérios, me parece uma boa introdução ao assunto.

Harris é um autor de vários best-sellers, dos quais traduzi também há pouco tempo Munique, onde ele conta o complicado processo da negociação e assinatura do Tratado de Munique em 1938, entre a Inglaterra e a Alemanha. Um tratado que ainda hoje dá muito o que falar, porque adiou por um ano o começo da II Guerra Mundial. Para uns, deu tempo a que Hitler se fortalecesse, e revelou fraqueza por parte do Primeiro Ministro inglês, Neville Chamberlain. Para outros (o livro mostra isso, não sei até que ponto é rigorosamente fiel aos fatos), Chamberlain conseguiu ganhar tempo e preparar a Inglaterra para a guerra, que era mesmo inevitável àquela altura.

Harris é um pesquisador cuidadoso, e em Conclave ele produz ao mesmo tempo um romance histórico, um romance de mistério e um thriller de suspense.

Romance histórico porque ao fim e ao cabo está retratando um processo de transição do poder numa das instituições mais antigas e mais politizadas do mundo, a Igreja Católica Romana. Como diria com ironia o pessoal de Campina Grande, “ali dentro só tem menino inocente”. É uma alcatéia de políticos lupinos que, independentemente da verdade e do ardor de sua fé mística, são capazes de...  Bem, leiam o livro.

Um romance de mistério porque há umas três ou quatro situações inexplicáveis que o protagonista, o Cardeal Lomeli, precisa entender por completo, o que lhe exige um certo trabalho detetivesco, que ele cumpre sem a tranquilidade filosófica e sem o faro dedutivo do Padre Brown de Chesterton, mas com uma coragem moral admirável.

Um thriller de suspense porque no transcorrer das votações, com cardeais se tornando sucessivamente favoritos ao Papado, vão surgindo inevitavelmente os problemas, as denúncias, as suspeitas, os confrontos, e tudo que envolve a revelação brusca de fatos que alteram por completo o equilíbrio das forças em jogo.

Mesmo quando as verdades que desvela são (para ele) estarrecedoras, Lomeli, que é o decano do Colégio dos Cardeais, a quem cabe organizar e conduzir a eleição do novo Papa, não deixa de lembrar:
 

Claro que uma cópia chegaria à imprensa mais cedo ou mais tarde. Isso acontecia com tudo. O próprio Cristo não havia profetizado, de acordo com o Evangelho de Lucas, que “nada há de oculto que não se torne manifesto, e nada em segredo que não seja conhecido e venha à luz do dia”?  (p. 207)

O romance conduz a um final surpreendente, do qual não darei qualquer spoiler aqui, porém mais do que uma surpresa dramática o que ele tem de eficaz é a reconstituição de um ambiente descrito com conhecimento de causa, porque não são poucos os detalhes canônicos e administrativos que é preciso levar em conta.

A experiência de traduzir um livro assim também se torna interessante por outro aspecto. Quando a gente traduz um livro de ficção científica, que transcorre em outro planeta, etc., depende inteiramente de duas coisas: a capacidade de descrição do autor, e a capacidade de visualização do leitor/tradutor. É um ambiente que não existe, precisa ser imaginado, e a experiência nos ensina que há escritores excelentes para conceber enredos extraordinários mas com poucas luzes para reproduzir a imagem visual de um ambiente, seja um deserto alienígena, uma cidade futurista ou o interior de uma nave.

Hoje em dia, no entanto, é possível pesquisar a fundo quando se trata de um ambiente real. Conclave decorre inteiramente nos domínios da Cidade do Vaticano, principalmente na Basílica de São Pedro, onde acontecem as votações, e na Casa Santa Marta, onde os cardeais ficam confinados, incomunicáveis com o mundo exterior, dormindo e fazendo refeições (e politicando, claro) até que a eleição esteja consumada.

É um conforto, para um tradutor (e para um autor também, decerto) poder com meia dúzia de cliques ter acesso a imagens reais do lugar onde a ação transcorre e desse modo ser capaz de visualizar posições relativas, distâncias, luminosidade, “clima” reinante naquele ambiente físico. Em se tratando de um romance realista, como é o caso, a sensação de estar presente no local é essencial para que as escolhas de vocabulário, de dicção, de ritmo, sejam escolhas condizentes com o universo descrito.

Abaixo, algumas imagens da Casa Santa Marta, dos aposentos dos cardeais e da sala de refeições.

 







Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo

Charge

 


 

Não importa se todos estão no mesmo poço. O importante é olhar para as estrelas!


(...) A "democracia racial" que nós fingimos é a mais cínica, a mais cruel das mistificações. Quando andou por aqui, Jean-Paul Sartre fez cinco, seis ou dez conferências. E sempre que o gênio falava, era um sucesso tremendo. Gente em pé, sentada, pendurada, trepada etc. etc. Na última palestra, o filósofo perdeu a paciência. Vira-se para dois ou três brasileiros, que o lambiam com a vista, e perguntou: — “E os negros? Onde estão os negros?”.

Nelson Rodrigues, no livro "A Menina Sem Estrela". (Cap. LXVI / Ed. Cia das Letras; 1.ª edição [1993]).

Obra: "Cabeça de Negro", 1906 - Arthur Timótheo.