sexta-feira, 30 de junho de 2023
O homem; as viagens
O homem, bicho da Terra tão pequeno
Chateia-se na Terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Toca para a Lua
Desce cauteloso na Lua
Pisa na Lua
Planta bandeira na Lua
Experimenta a Lua
Coloniza a Lua
Civiliza a Lua
Humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
Pisa em Marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado
Vamos a outra parte?
Claro – diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus
O homem põe o pé em Vênus,
Vê o visto – é isto?
Idem
Idem
Idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o Sol, falso touro
Espanhol domado.
Testam outros sistemas fora
Do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(Estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar, colonizar, civilizar
Humanizar o homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria de conviver.
A palavra mágica. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 81-83.
Carlos Drummond de Andrade
Granã Drummond
quarta-feira, 28 de junho de 2023
terça-feira, 27 de junho de 2023
domingo, 25 de junho de 2023
Séculos antes de D. Dunning e J. Kruger, Darwin já cantou a bola.
"(...) a ignorância mais frequentemente gera confiança do que o conhecimento: são os que sabem pouco, e não os que sabem muito, que afirmam de uma forma tão categórica que este ou aquele problema nunca será resolvido pela ciência."
Adm L.
sábado, 24 de junho de 2023
- Alguma coisa.
- E que é que estás a ler?
- Um romance. Mas cala-te. Se falas, a chama mexe-se e mexem-se-me as letras.
O outro afastou-se para não estorvar, mas era tal a atenção que o velho prestava ao livro que não suportou ficar-se à margem.
- De que é que trata?
- Do amor.
Perante a resposta do velho, o outro aproximou-se com renovado interesse.
-Não me lixes. Com fêmeas ricas, das que fervem?
O velho fechou o livro num repente fazendo tremer a chama do candeeiro.
- Não. Trata-se do outro amor. Do que dói.
Luis Sepúlveda, in 𝘖 𝘝𝘦𝘭𝘩𝘰 𝘘𝘶𝘦 𝘓𝘪𝘢 𝘙𝘰𝘮𝘢𝘯𝘤𝘦𝘴 𝘥𝘦 𝘈𝘮𝘰𝘳
Imagem de Rush Norman Rockwell (EUA, 1894-1978)
Pablo Neruda & Mathilde Urrutia
“Eu Simplesmente Amo-te.
Eu amo-te sem saber como, ou quando, ou a partir de onde. Eu simplesmente amo-te, sem problemas ou orgulho: eu amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu, tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se.”
quinta-feira, 22 de junho de 2023
quarta-feira, 21 de junho de 2023
"Diz-se que o nosso corpo tem a forma de um abraço. Talvez por isso a tarefa de abraçar seja tão simples, mesmo quando temos de percorrer um longo caminho. O abraço tem uma incrível força expressiva. Comunica a disponibilidade de entrar em relação com os outros, superando o dualismo, fazendo cair armaduras e motivos, cedendo, nem que seja por instantes, na defesa do espaço individual. Há uma tipologia vastíssima de abraços, e cada uma delas ensina alguma coisa sobre aquilo que um abraço pode ser: acolhimento e despedida, congratulação e luto, reconciliação e embalo, afeto ou paixão. Os abraços são a arquitetura íntima da vida, o seu desenho invisível, mas absolutamente presente; são plenitude consentida ao desejo e memória que revitaliza. Todos nos reconhecemos aí: em abraços quotidianos e extraordinários, abraços dramáticos ou transparentes, abraços alagados de lágrimas ou em puro júbilo, abraços de próximos ou de distantes, abraços fraternos ou enamorados, abraços repetidos ou, porventura, naquele único e idealizado abraço que nunca chegou a acontecer mas a que voltamos interiormente vezes sem conta."
[José Tolentino Mendonça | A Revista Expresso | Edição 2256 | 22/01/16]
terça-feira, 20 de junho de 2023
segunda-feira, 19 de junho de 2023
Provérbio
Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça.
Provérbio africano
Frase
"Para Lacan, a linguagem é um presente tão perigoso para a humanidade quanto o cavalo de Tróia foi para os troianos: ela se oferece para nosso uso gratuitamente, mas, depois que a aceitamos, ela nos coloniza".
— Slavoj Zizek - In: "Como Ler Lacan".
"Mouth" (Brigitte Bardot's Lips), 1963 - Gerhard Richter
sábado, 17 de junho de 2023
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis
Art"adrian limani"
(...) Que coisa incrível é um livro. É um objeto achatado feito de árvore com partes flexíveis nas quais nós imprimimos uma porção de rabiscos escuros e esquisitos. Mas basta olhar para ele e você está dentro da mente da pessoa, talvez de alguém morto há milhares de anos. Através dos milênios, um autor está falando claramente e silenciosamente dentro da sua cabeça, diretamente a você. A escrita talvez seja a maior das invenções humanas, unindo pessoas que nunca conheceram umas às outras, cidadãos de épocas distantes. Os livros rompem os grilhões do tempo. Um livro é a prova de que os humanos são capazes de realizar magia.
— Carl Sagan, no livro "Cosmos". Trad. Paul Geiger. — 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
Obra: "Book tower", (#) - Quint Buchholz.
(...) Quando são dois, a vida é possível. Sozinho, parece que não se consegue mais arrastá-la. Desistimos de puxar. É a primeira forma de desespero. Mais tarde, entendemos que o dever é uma série de aceitações. Olhamos para a morte, olhamos para a vida e consentimos.
— Victor Hugo, no livro "Os Trabalhadores do Mar". (Primeira parte | Cap. VII / Ed. UNESP. Trad. Jorge Coli; 1.ª edição [2023]).
Obra de Anne Magill.
Velho
Estás morto, estás velho, estás cansado!
Envolve-te o crepúsculo gelado
Que vai soturno amortalhando as vidas
Ante o repouso em músicas gemidas
No fundo coração dilacerado.
A cabeça pendida de fadiga,
Sentes a morte taciturna e amiga,
Que os teus nervosos círculos governa.
Estás velho estás morto! Ó dor, delírio,
Alma despedaçada de martírio
Ó desespero da desgraça eterna.
Cruz e Souza
quarta-feira, 14 de junho de 2023
Um dos momentos mais felizes da fotografia esportiva intitulada "Um Abraço Negro". Nela, o atacante Diego Souza, após marca um gol pelo Palmeieras, recebe um abraço do lateral Armero.
A foto é de autoria de Alexandre Battibugli e foi publicada pela revista Placar de 2009.
A imagem nos parece atualíssima e merecia a construção de um belo texto, sobretudo, pelo movimento racista que persiste na Espanha e na Europa como um todo. Ao que parece, o velho mundo não consegue dissociar-se das barbáries do passado, da deflagração das guerras e da perseguição aos povos.
Teófilo Júnior
terça-feira, 13 de junho de 2023
Uma questão de honestidade
Eram 10 horas da manhã quando um turista entrou numa estação de metrô de Estocolmo, capital da Suécia. O homem ficou surpreendido com a ordem com que as pessoas transitavam e respeitavam os sinais e as placas. Mas o que mais chamou a sua atenção foi que, na entrada para o comboio, um dos acessos giratórios dava passagem livre e gratuita.
Intrigado, ele perguntou à encarregada da estação: “porque é que esse acesso é livre?” E ela respondeu: “essa é uma passagem destinada a pessoas que não têm dinheiro para pagar, ou alguém que tenha alguma emergência, esqueceu a carteira em casa ou não tem dinheiro em espécie naquele momento”.
Surpreendido, o turista perguntou: “E o que acontece se a pessoa tiver dinheiro e não quiser pagar?”. Ao que a funcionária respondeu de pronto: “Mas porque alguém faria isso? Qual seria o motivo?”
O turista ficou em silêncio por alguns segundos, sem se dar conta que não tinha uma resposta. Atrás dele tinha uma fila de gente pagando bilhete e deixando o acesso de passagem livre completamente vazio.
O turista entrou no comboio e ficou pensando sobre como se comporta a sociedade de uma maneira geral.
Uma das chaves para se ter um país desenvolvido são os valores que têm os seus cidadãos, sendo o mais importante desses valores a honestidade. Quando um povo é honesto, ele se liberta. E ao se transformar esse valor em algo natural, ele entra num estado de desenvolvimento superior. Por isso os países mais desenvolvidos são os que mais se preocupam com EDUCAÇÃO, e se preocupam em formar cidadãos de bem.
O mundo se transforma através de pequenas condutas, uma sociedade formada de valores vai ter melhores cidadãos, que a vão ajudar a prosperar. Nesse mundo tão corrido pelo poder, a honestidade e a honra passaram para segundo plano… Você não precisa de dinheiro para ser uma boa pessoa, para ser pontual, para ser ético, digno. Gostar do que faz e ter uma boa conduta, custa ZERO. E com muito pouco se pode transformar o mundo. Nenhum legado é tão rico quanto a honestidade.
segunda-feira, 12 de junho de 2023
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