sexta-feira, 30 de setembro de 2022
"Pensamos que a mão que a fez cozinheira podia tê-la feito princesa? Que detrás daquelas carnes abundantes existe qualquer coisa de parecido com o que existe em nós próprias, que nos presumimos melhores que ela? E agora vem a pergunta final: quem somos nós e o que somos, de fato? O que se passou antes de nós? O que virá depois? Talvez o venhamos a saber, mas então será demasiado tarde."
José Saramago in
" Terra do Pecado"
- Quando se chega à minha idade, Maria Leonor, há dois caminhos a escolher. O primeiro, o mais seguido, é o da contemplação passiva, da recordação das alegrias passadas, disfarçando a nossa incapacidade para as sentir de novo; o outro, aquele que eu palmilho, é o da alegria decidida e enérgica, tanto mais quanto mais raros e brancos vão sendo os cabelos na nossa cabeça (...).
O primeiro caminho é a impotência declarada de viver; o segundo é a vontade tenaz de não ceder nunca, de aguentar a vida enquanto a morte não chega...
José Saramago in
"Terra do Pecado"
quinta-feira, 29 de setembro de 2022
terça-feira, 27 de setembro de 2022
segunda-feira, 26 de setembro de 2022
Onde Deus fala estabelece-se um grande silencio. E sobre Ele surgem as metáforas, que é um jeito de dizer o que não pode ser dito. Não podemos falar sobre Deus, mas podemos falar sobre as coisas humanas. Teologia são poemas que tecemos como redes sobre a SAUDADE de algo cujo nome esquecemos. Qual deles é verdadeiro? Poemas não podem ser verdadeiros. Mas devem ser belos. E é por isto que têm o poder mágico de possuir o corpo...
Rubem Alves
domingo, 25 de setembro de 2022
Clarice Lispector
"Sou feliz na hora errada.
Infeliz quando todos dançam.
Me disseram que os aleijados se rejubilam
assim como me disseram que os cegos se alegram.
É que os infelizes se compensam".
sábado, 24 de setembro de 2022
quinta-feira, 22 de setembro de 2022
quarta-feira, 21 de setembro de 2022
terça-feira, 20 de setembro de 2022
segunda-feira, 19 de setembro de 2022
domingo, 18 de setembro de 2022
sábado, 17 de setembro de 2022
Fernando Pessoa
(...)
Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros — cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.
Ah, deixem-me sossegar
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?
sexta-feira, 16 de setembro de 2022
quinta-feira, 15 de setembro de 2022
O censo
O meu primeiro emprego temporário de contrato assinado que tive, inclusive, a necessidade de abrir conta no Banco para recebimento do salário foi como recenseador do IBGE no Censo Demográfico, no ano de 1991. Para mim, foi uma experiência fantástica.
Percorri ruas e ruelas desta cidade de Pombal-PB. Ouvi muitas histórias que não faziam parte da pesquisa, mas que as pessoas gostavam e se sentiam felizes em relatar. Em quase todo domicílio havia sempre um cafezinho ou uma xicara de chá à nossa espera. Claro que também haviam os domicílios menos amistosos, sisudos, mas tudo fazia parte do trabalho do jovem recenseador.
Dentre tantas circunstâncias, um fato que me chamou bastante a atenção foi o de ter encontrado o mesmo marido e chefe de família em 03 domicílios diferentes. Aquele "Sultão" nordestino não se constrangia em responder-me as mesmas perguntas alterando apenas o nome das companheiras.
Havia também um senhor muito gentil de apelido "Doca" que só aceitava ser entrevistado depois do pôr do sol. Um Califa tupiniquim. Visitei-o a "boquinha" da noite.
João do Pife não me recebeu. Resistia à entrevista sob o argumento de que o Governo queria era tirar-lhe o aposento. Não iria me dá informação alguma. E de fato não deu. Concluo, portanto, que do cômputo final daquele Censo faltou João do Pife.
Fiquei também responsável pela coleta de dados e preenchimento dos longos questionários em parte do bairro dos Pereiros, indo da padaria de Lourival até o antigo matadouro, contemplando também toda a área do cabaré da cidade.
Na primeira "casa da luz vermelha" quem me recebeu fora o Sultão. Agora, com o cuidado e o pedido de discrição para que suas três mulheres não tomassem conhecimento de sua presença no "baixo meretrício". Assenti tranquilizando-o e garantindo-lhe a devida reserva.
Passados os anos, hoje recebi em minha casa uma jovem simpática com um tablet na mão dirigindo-me perguntas. Tentei contar-lhe histórias, fugir um pouco das perguntas oficiais do IBGE, em vão ofereci-lhe água, café e uma cadeira de balanço para descansar.
A competente e focada jovem não oportunizou contar-lhe um pouco desses causos e de outros mais. Após roubar-lhe uma foto como registro, despediu-se educadamente e saiu por aí a contar pessoas sem importar-lhes suas histórias, transformando domicílios em algoritmos, talvez tenha sido bem melhor assim.
Teófilo Júnior
quarta-feira, 14 de setembro de 2022
O nosso mundo
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Os meus sonhos agora são mais vagos...
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!
A vida, meu Amor, quer vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!
Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...
Florbela Espanca
in "Livro de Sóror Saudade"
segunda-feira, 12 de setembro de 2022
domingo, 11 de setembro de 2022
sábado, 10 de setembro de 2022
A lua foi ao cinema
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
Paulo Leminski
Fotografia da cidade de: Tiradentes: MG.
Retirada do Pinterest.
sexta-feira, 9 de setembro de 2022
quinta-feira, 8 de setembro de 2022
quarta-feira, 7 de setembro de 2022
terça-feira, 6 de setembro de 2022
Um perguntou ao outro:
- "Vc acredita em vida após o parto?"
O outro respondeu:
- "É claro. Tem que haver algo após o parto. Talvez nós estejamos aqui para nos preparar para o que virá mais tarde."
- "Que tipo de vida seria esta?"
O segundo disse:
- "Eu não sei, mas haverá mais luz do que aqui. Talvez nós poderemos andar com as nossas próprias pernas e comer com nossas bocas. Talvez teremos outros sentidos que não podemos entender agora."
O primeiro retrucou:
- "Isto é um absurdo. O cordão umbilical nos fornece nutrição e tudo o mais de que precisamos. O cordão umbilical é muito curto. A vida após o parto está fora de cogitação."
O segundo insistiu:
- "Bem, eu acho que há alguma coisa e talvez seja diferente do que é aqui. Talvez a gente não vá mais precisar deste tubo físico".
O primeiro contestou: - "Bobagem, e além disso, se há realmente vida após o parto, então, por que ninguém jamais voltou de lá?"
- "Bem, eu não sei", disse o segundo, " mas certamente vamos encontrar a Mamãe e ela vai cuidar de nós."
O primeiro respondeu:
- "Mamãe? Vc realmente acredita em Mamãe? Isto é ridículo. Se a Mamãe existe, então, onde ela está agora?"
O segundo disse:
- "Ela está ao nosso redor. Estamos cercados por ela. Nós somos dela. É nela que vivemos. Sem ela este mundo não seria e não poderia existir."
Disse o primeiro:
- "Bem, eu não posso vê-la, então, é lógico que ela não existe."
Ao que o segundo respondeu:
- "Às vezes, quando vc está em silêncio, se vc se concentrar e realmente ouvir, vc poderá perceber a presença dela e ouvir sua voz amorosa".
Este foi o modo pelo qual um escritor húngaro explicou a existência de Deus... Salmos.139:2-16.
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