sábado, 30 de julho de 2022

 

"Pensamentos valem 
e vivem pela observação exata ou nova,
 pela reflexão aguda ou profunda; 
não menos querem a originalidade, 
a simplicidade e a graça do dizer".
 
Machado de Assis 


A felicidade precisa estar onde nós estamos, não importa quantos sonhos ainda  temos para passar a limpo com as nossas ações.  Não importa o tanto de realizações que ainda podemos concretizar.  Não importa quantas pendências nos aguardam.  Ou ela está onde nós estamos ou não está em lugar nenhum.

Ana Jácomo 

Ir embora é como debulhar o quebra-cabeça da vida. Os pedaços do que somos vão ficando no caminho. Os pedaços do caminho vão nos tornando.

Mel Fronckowiak



 


Onde Deus fala estabelece-se um grande silencio. E sobre Ele surgem as metáforas, que é um jeito de dizer o que não pode ser dito. Não podemos falar sobre Deus, mas podemos falar sobre as coisas humanas. Teologia são poemas que tecemos como redes sobre a SAUDADE de algo cujo nome esquecemos. Qual deles é verdadeiro? Poemas não podem ser verdadeiros. Mas devem ser belos. E é por isto que têm o poder mágico de possuir o corpo..." 

Rubem Alves

 


sexta-feira, 29 de julho de 2022

TEMPUS FUGIT - Ainda na faculdade de Direito

 



 

Frase

 

Os homens distinguem-se entre si também neste caso: alguns primeiro pensam, depois falam e, em seguida, agem; outros, ao contrário, primeiro falam, depois agem e, por fim, pensam.
 
Leon Tolstói


"- Falha-se sempre na vida, no momento em que se morre.
- Sim, quando se morre cedo demais - exclama Pierre.
- Morre-se sempre demasiado cedo... ou demasiado tarde."
 
Jean-Paul Sartre in
"Os Dados Estão Lançados"

 



 

"Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso!."

Bertold Brecht

 


"Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado"
 
Clarice Lispector

 

"E seguiu tocando a vida. Porque, no fundo, sabia que era tudo o que podia fazer. Viver e ter esperanças."

Khaled Hosseini - no livro 'A Cidade do Sol'

 


Testamento da mulher suspensa

 


Eis o que vos deixo:
um leve gosto
de renascer lembrada.
 
E um falso desejo de ser esquecida.
 
Que eu virei
buscar a espuma da onda
que ficou para sempre por quebrar.
 
Beleza não me bastou:
o que quis ser
foram cetins de fogo,
pétalas de cinza depois do abraço.
 
Nem flor invejei:
o que mais ilumina
vem de um oceano escuro.
 
Esperanças tive: todas naufragaram
ante cansaços e remorsos.
Procurei ilhas e mares:
só havia viagens,
travessias de água
nos olhos de quem amei.
 
Num mundo com remédios parcos
não clamei bravuras.
Injusto é viver
em perecível ser.
 
Menina,
aprendi a desenrolar tapetes
em rasos pátios voadores,
varandas maiores que o mundo
onde o tempo à nossa mão vinha beber.
 
Meus pequenos dedos
rasgaram céus,
mas o ensejo era largo:
em mim secaram
lembranças de um mar antigo.
 
Assim,
tudo o que sou
já fui
na criança que sonhou ser tudo.
 
Meus lutos, sem emenda, carrego:
viuvez de mulher
não vem de marido.
 
Vem do amor não mais sonhado.
 
Com a fragilidade de um riso
enfrentei ruínas e derrotas
e apenas a vida, calada, me calou.
 
Tudo falei com meus amantes.
Perante o amor, porém, não tive palavra.
O que da vida me restou:
pegadas alheias sob meus pés molhados.
 
Viver sabe quem ainda vai viver.
 
Deixo-me,
mulher que quase foi,
à mulher que nunca fui.
 
Mia Couto, no livro Tradutor de Chuvas.
Arte de Cecilia Lueza: Elevado III - Madeira, tinta, resina. 48 x 24 x 4 pol. 2014 -

quinta-feira, 28 de julho de 2022


Eu não sou da forma como me visto,
não sou da forma como me comporto,
não sou o que eu como,
muito menos o que eu bebo.
Não sou o que aparento ser:
Eu sou o que ninguém vê!
 
Clarice Lispector

 


Tomada da Bastilha, 14 de julho 1789.

 


Somos todos criaturas de um dia; tanto quem se lembra como quem é lembrado. Tudo é efêmero: tanto a memória quanto o objeto da memória. Está para chegar o tempo em que terás esquecido tudo. O tempo em que todos se esquecerão de ti. Pensa que, em breve, não serás ninguém e não estarás em nenhum lugar.

Marco Aurélio

 


Peço-te humildemente, o mais humildemente possível. Perdão. Não por te deixar, mas por ter ficado tanto tempo.

Marguerite Yourcenar

quarta-feira, 27 de julho de 2022

 


 


Se você passar um dia inteiro
com alguém muito rico,
sua conta bancária não vai aumentar. 
 
Se você passar um dia inteiro
com alguém de rara beleza,
você não vai ficar mais bonito. 
 
Porém, se você passar um dia inteiro com alguém feliz, de riso fácil, alegre e que sempre tem uma conversa solta e positiva, você voltará para sua casa bem mais leve e feliz.
 
Cerque-se de pessoas lindas
e ricas de alma,
porque isso é contagioso.
 
(ad)

 

Ava Gardner cumprimentando a rainha Elizabeth II.

 

Ouve a fonte translúcida da quinta
Cercada de varandas onde a ausência
De alguém eterna mora e se debruça.
 
Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 26 de julho de 2022

A beleza não existe. Só está na mente dos seres humanos’ – diz neurocientista Francisco Mora

 

O belo não existe no mundo em que vivemos, ouvimos ou tocamos. Não reside em nada do que nos cerca. Só está na mente dos seres humanos

Quando escuto em um grande auditório o último movimento da Nona Sinfonia de Beethoven, tocada por uma grande orquestra, e com um grande coral, experimento “algo” que me transporta. É algo sublime, algo que me domina, me subjuga, me torna pequeno. Também não posso evitar esse outro sentimento diferente, que deixa meus olhos colados àqueles sóis flamejantes, àqueles céus azuis retorcidos pela tempestade pintados por Van Gogh. Olhar para aquelas pinturas me subjuga. Sem dúvida, todo mundo sabe que estou falando de beleza. Ao falar dessa maneira, parece evidente que contemplamos uma beleza que é inerente ao que se ouve ou se vê, mas não é assim. A beleza não existe no mundo que vemos, ouvimos ou tocamos. Não existe em nada que nos rodeia. O mundo não possui nenhuma beleza; não é, em nada, uma propriedade inerente a ele. A beleza é criada pelo cérebro humano. Só existe na mente dos seres humanos. É um prodígio do cérebro.

Antes, é verdade, pensava-se que a beleza era um atributo imanente às coisas do mundo ou constitutivo da obra artística criada. A beleza tinha sua existência em si mesma, no objeto ou nos estímulos sensoriais externos, e a pessoa era apenas um sujeito passivo, contemplativo. Em outras palavras, a beleza era objetiva, com uma presença externa e eterna no mundo. Hoje sabemos, pelo contrário, que a beleza é algo subjetivo, criado pelo ser humano e que não está fora, no mundo sensorial. Hoje entendemos que a beleza é criada pelo ser humano depois de observar e perceber certas características do objeto que ele contempla. A beleza é, na verdade, uma construção mental composta de percepções, emoções, sentimentos e conhecimento.

No centro da nossa experiência de beleza está esse algo mais emocional que nasce daquilo que percebemos. Um algo mais emocional evocado, como um fio invisível, pelas palavras ao se ler um poema, ou a visão de uma pintura ou escultura, ou o sublime som de uma sinfonia, de uma paisagem de verdes com múltiplos tons, de um alvorecer de cores sem formas ou um rosto de proporções perfeitas. Mas, precisamente por ser uma emoção produzida naquele cérebro profundo, onde se depositam as memórias mais íntimas e pessoais em cada ser humano, nem todos percebem a beleza da mesma maneira ou nas mesmas coisas. Além disso, é aquela emoção —que quando banhada de consciência se torna sentimento— que faz com que cada um, cada ser humano, experimente sua própria beleza, única e diferente de qualquer outra.

De fato, a apreciação da beleza é, em grande parte, produto da experiência pessoal e da própria educação recebida. Tudo isso faz com que alguns percebam, de um modo especial, a beleza na pintura, mas não na música (Sigmund Freud seria um bom exemplo), ou que na pintura alguns valorizem as cores, mas não tanto as formas ou os traços borrados do movimento ou o figurativo estático. Ou, claro, que a música (de apreciação estética tão multifacetada — sustenidos harmônicos, contrapontos, acordes, ritmos e as infinitas combinações de graves, agudos e silêncios) seja percebida de modo tão diverso por tantas pessoas diferentes. (…)

Por que O Nome da Rosa, romance de Umberto Eco, cativou centenas de milhares de pessoas do começo ao fim e fez com que tantas outras perdessem o interesse antes de terminar a leitura? O que afasta tantas pessoas de Stravinski e, no entanto, as aproxima de Mozart ou Beethoven? O que tantas pessoas que admiram tão profundamente a arte de Velázquez rejeitam nas pinturas de Picasso? O que faz as esculturas de Chillida serem, para muitos, “pedras sem arte”, mas que torna as esculturas de Rodin tão evocadoras de beleza? O que provoca o entusiasmo e a admiração ao Duomo de Milão, mas que não produz o mesmo efeito para muitos em relação ao Guggenheim de Bilbao?

Essa emoção que subjaz à apreciação da beleza é aquela que se expressa no prazer diante do que se vê ou se ouve. O prazer, como expressão emocional inconsciente, é o componente básico na apreciação da beleza. Mas não o prazer relacionado a esses prazeres básicos, aqueles que sustentam a sobrevivência do indivíduo, tais como os obtidos a partir da comida, da bebida, da sexualidade, do jogo ou do sono, quando estamos privados deles. O prazer associado com a beleza não é o prazer do desejo e do orgasmo, que consumado pontualmente nos empurra “sem razão, e como isca engolida, a manter-se vivo” (William Shakespeare). O prazer, o deleite referido à beleza é conseguido pelos ingredientes neuronais adicionados no cérebro àqueles outros mais básicos. (…) São prazeres gerados em parte pela cultura em que se vive e além do cérebro emocional e de sua atividade primitiva. São prazeres que surgem de uma interação muito próxima entre o córtex cerebral humano e o cérebro emocional, por isso nenhum animal os possui. Dessa interação nasce a consciência, a compreensão, o entendimento, a razão humana.

Precisamente este último, a interação com as coisas do mundo (percepção), produz o conhecimento, o outro ingrediente básico para a percepção da beleza. Porque a beleza é isso em sua essência, prazer e conhecimento e, neste último, a capacidade cognitiva de perceber a ordem, a proporcionalidade, a simetria, a clara delimitação do que é percebido. E tudo isso tem muito a ver com a educação recebida e com a cultura em que nascemos e vivemos. (…) Basta pensar que poucos cidadãos da Idade Média ou até do Renascimento poderiam ter encontrado beleza na figuras humanas torcidas, nos vermelhos policromados e flamejantes das árvores, nos amarelos vivos dos campos de trigo ou nos azuis giratórios e atormentados das pinturas de Van Gogh, ou na obra de Antonio Gaudí (…) A arte, portanto, e com ela a beleza, é uma verdade subjetiva para cada um. Verdade para a qual muitas pessoas tiveram expressões como “valeu a pena viver para experimentá-la”. Sem dúvida, a beleza é um fenômeno cerebral que mudou o mundo dos seres humanos e as mitologias e verdades vivas de cada sociedade, cultura ou nação. A beleza, que não existe no mundo, é talvez um dos grandes prodígios criados pelo cérebro humano.

Francisco Mora é doutor pelas universidades de Granada (Espanha) e Oxford (Inglaterra) e professor universitário. Publicou livros de ensaios, como El Reloj de la Sabiduría (2005) e Neurocultura (2007). Este trecho forma parte de Mitos y Verdades del Cerebro (Paidós), lançado em 23 de outubro de 2018

Fonte: Revista Prosa Verso e Arte

 


segunda-feira, 25 de julho de 2022

Frase

 

A viagem só se torna assustadora quando não temos para onde regressar.

Teófilo Júnior

"(...)
vês
como a morte
me ensinou
a obediência da espera?"
 
Mia Couto in
"Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

 


 

O implacável tempo...

 

"Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso!."

Bertold Brecht

domingo, 24 de julho de 2022

 


 


O Beijo da Morte (El beso de la muerte) é uma escultura de mármore, encontrada no cemitério Poblenou, em Barcelona.

A escultura retrata a morte, na forma de um esqueleto alado, beijando a testa de um belo jovem. A obra suscita perguntas variadas: é êxtase no rosto do jovem? Resignação? Ou, nas palavras de Georges Bataille: "Se, cruel, não nos convida a morrer de arrebatamento, a arte pelo menos tem a virtude de colocar um momento de nossa felicidade em um plano igual ao da morte". 
 
O erotismo do beijo é inescapável - a escultura mostra o jovem acolhendo a morte. A cena é paradoxal: ao mesmo tempo romântica e horripilante. Atrai e repele, o desejo de tocar combina-se com o desejo de fugir. É um beijo de paixão, mas um beijo mortal e destruidor. 
 
Schopenhauer lembra que "a morte é a musa da filosofia" e, por isso, Sócrates definiu a filosofia como "preparação para a morte". Sem a morte, seria mesmo difícil que se tivesse filosofado.
 
Via Alta Cultura
Via Nota Terapia

 


O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica.
Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus.

I Coríntios 8:1-3

 


sábado, 23 de julho de 2022

 


É importante perceber que o despertar depende de você.

Roberto Shinyashiki

 


Honoré de Balzac

A influência que os lugares exercem
sobre a alma, é um fato digno de atenção.
Somente aqueles verdadeiramente libertos
dos maus sentimentos é que conseguem
desfrutar da verdadeira paz de espírito".
 
Honoré de Balzac - Comédia humana

 


 


 


Frase

 

É tarde. Nenhum sono repõe o que não vivi. Agora resta um único desfecho: de novo acordar por dentro. E acordar sempre até que volte a ser cedo .

Mia Couto

 


 


 


sexta-feira, 22 de julho de 2022

 


 


 


Cervantes

"Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo.

Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas, e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas intenções que lia, que para ele não havia história mais certa no mundo."
 
Miguel de Cervantes - in 'Dom Quixote'

 

"O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar de quem por ele passa indiferente."

Mário Quintana