domingo, 31 de outubro de 2021

 


Na infância,
o que se ouve
ou o que se vê
não sobe para o cérebro.
Desce para o coração
e aí fica escondido.
 
Humberto de Campos

“Não foram as bruxas que queimaram.
Foram mulheres.
Mulheres que eram vistas como:
Muito bonitas,
Muito cultas e inteligentes,
Porque tinham água no poço, uma bela plantação (sim, sério),
Que tinha uma marca de nascença,
Mulheres que eram muito habilidosas com fitoterapia,
Mulheres pretas,
Mulheres indígenas,
Quilombolas,
Mulheres da cura,
Mulheres parteiras
Mulheres de muitos saberes,
Muito altas,
Muito quietas,
Muito ruivas,
Mulheres que tinham uma forte conexão com a natureza,
Mulheres que dançavam,
Mulheres que cantavam,
ou qualquer outra coisa, realmente.
Qualquer mulher estava em risco de serem queimadas nos anos 1600.
Mulheres eram jogadas na água e se podiam flutuar, eram culpadas e executadas. Se elas afundassem e se afogassem, eram inocentes.
Mulheres foram jogadas de penhascos.
As mulheres eram colocadas em buracos profundos no chão.
Por que escrevo isso?
Porque conhecer nossa história é importante quando estamos construindo um novo mundo.
Quando estamos fazendo o trabalho de cura de nossas linhagens e como mulheres.
Para dar voz às mulheres que foram massacradas, para dar-lhes reparação e uma chance de paz.
Não foram as bruxas que queimaram.
Foram mulheres.”
 
Fia Forsström

Os professores, por Valter Hugo Mãe

 


(texto em português de Portugal)

Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade.

A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria do mundo em que o mundo se tem vindo a tornar.

Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe.

Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesses crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo.

Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes.

Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se tivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível.

Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias.

Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto.

As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.

Autobiografia Imaginária | Valter Hugo Mãe | JL Jornal de Letras, Artes e Ideias | Ano XXII | Nº 1095 | 19 de Setembro de 2012.

Fonte: SPGL

 



A biologia diz que após a relação sexual, o homem deposita cerca de 200 a 300 milhões de espermatozoides; todos começam a nadar para cima, se forma uma grande competição dentro da trilha para encontrar o óvulo; De todos os milhões que são depositados, na realidade apenas entre 300 e 500 chegam ao local (outros se cansam no caminho, porque não é uma corrida fácil), e dessa quantidade, os que conseguem chegar ao óvulo, apenas um fertiliza o ovo e, nesse caso, o vencedor é você.

Você já pensou nisso?

Você correu sem os olhos e sem as pernas e venceu.

Você fez uma corrida despreparado e venceu.

Você correu sem ajuda e venceu.

O que te faz pensar que você vai perder agora?

Agora que você tem olhos e pernas, agora que você tem planos, visões e sonhos, você não desistiu no primeiro dia, então não pode desistir, agora é um insulto ao seu Criador.

Não importa o que você esteja passando agora, aceite isso como um desafio e lembre-se de que GANHOU desde o útero.

Você que chegou até aqui já é um campeão e ser vitorioso já lhe faz uma pessoa corajosa e desafiadora. Vencer de novo passa a ser apenas um detalhe!

Frase

Afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte".

José Saramago

 

sábado, 30 de outubro de 2021


Os fios invisíveis são os laços mais fortes...

Friedrich Nietzsche


 

 



“O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso.”


Mia Couto “E se Obama Fosse Africano?”.
Fotografia @ Jimmy Nelson


Breve nos cinemas

 


 


O coração do homem é muito parecido com o mar, ele tem suas tempestades, suas marés e suas profundezas, ele tem suas pérolas também..!

Vincent Van Gogh

 



 - Carlos Drummond de Andrade, no livro "Amar se aprende amando". Rio de Janeiro: Record, 2001

 


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

 


 


 



"Amar ou ter amado, isso basta. Não pergunte mais nada. Não há outra pérola para ser encontrada nas dobras escuras da vida. ”

Victor Hugo, Os Miseráveis


 A força não vem das capacidades físicas; vem de uma vontade indomável.

Mahatma Gandhi

 


 


 


Frase

"O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes."

 

Mia Couto 

No livro "Vozes Anoitecidas"

Amor que morre


O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!

Florbela Espanca

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

 


Frase

"Quando descobrimos que absolutamente nada é definitivo, inclusive a vida, compreendemos a inutilidade do orgulho, a tolice das disputas, a estupidez da ganância e a incoerência das tolas mágoas."

(Da net – Autoria não identificada)