quinta-feira, 30 de setembro de 2021

 


 



Não saio muito bem
em fotografias.
Porque meu melhor lado
a foto não pega.
Não me faz bela
ou me faz jus

Porque meu melhor lado
não é o esquerdo.
Não é o direito.
É o de dentro.

Lilian Dalledone


 

O Brasil não é um país sério

Parlamentares conseguem piorar o Código Eleitoral brasileiro. Deputados votam e aprovam novo Código com previsão de quarentena de quatro anos para juízes e policiais.

 A Câmara dos Deputados concluiu, na madrugada da última quinta-feira (16), a votação do novo Código Eleitoral (Projeto de Lei Complementar 112/21). Com o placar de 273 votos a favor e 211 contra, foi aprovada a emenda que impõe o desligamento de seu cargo, quatro anos antes do pleito, para juízes, membros do Ministério Público, policiais federais, rodoviários federais, policiais civis, guardas municipais, militares e policiais militares. O texto ainda será encaminhado e examinado pelo Senado. 
 
A situação da "quarentena" criada pela Câmara é no mínimo inusitada. Ora, suponhamos a seguinte situação: um criminoso comete um delito e é capturado ainda em flagrante por um policial. Encaminhado a DP, é instaurado o competente inquérito. O Promotor de Justiça oferece denúncia contra o indigitado. O processo tramita normalmente e ao final é julgado por um Juiz de Direito. 
 
Pasmem... desses quatro personagens apenas o réu pode ser candidato a representar a vontade do povo, os demais têm que se afastar do cargo e aguardar o decurso do prazo de quatro anos!
 
Durma-se com uma legislação dessa! 
 
Teófilo Júnior

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

"E... saberei acariciar as flores, porque tu me ensinaste a ternura."


Pablo Neruda

 


 


 


"Somos uma civilização de solidões que se encontram e desencontram continuamente sem se reconhecer. Esse é o nosso drama, um mundo organizado para o desvinculo, onde o outro é sempre uma ameaça e nunca uma promessa."

Eduardo Galeano

 


terça-feira, 28 de setembro de 2021

Você sabia?

 



"Há o silêncio dos que se encontram.
Há o silêncio dos que se afastam.

Não, por favor, nada digas…

Se chegas, não preciso de palavras.
Se partes…
de que me servem as palavras?"

João Morgado - in 'Para Ti'

O Espelho


Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.

Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.

A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

Mia Couto

 


"Porque os dias vão pra nunca mais"


Marceli Jeneci

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 "Mais eu quero o presente, quero a realidade. Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede."
 

(Fernando Pessoa)


Pedra do púlpito, na Noruega

 


 


O fracasso pela educação


Observe um formigueiro. Estabelecida a trilha, as formigas vão e vêm num ritmo constante, só interrompido, aqui e ali, por aquelas rápidas paradinhas que de vez em quando dão, como que para comunicar-se com alguma conhecida. Elas faziam assim há vinte anos e, se dentro de vinte anos você observar esse ou outro formigueiro, verá a mesma rotina. Não há progresso na vida das formigas.

Observe a atividade humana. Observe qualquer atividade humana. E volte a fazê-lo passado um par de décadas. Você não a reconhecerá porque tudo terá mudado: o ambiente será diferente, os meios usados serão totalmente outros e o próprio produto da atividade terá aspecto distinto. O homem tem essa capacidade de transformar as coisas.

Entre, depois, numa sala de aula. Qualquer sala de aula. Você reconhecerá tudo o que havia ali ao tempo em que você mesmo frequentava os bancos escolares. Talvez o quadro-negro tenha esverdeado e a sineta apite; todo o resto, porém, está conservado como se algum preservacionista houvesse guardado a escola num vidro de formol. Estou exagerando? Talvez, mas não será difícil identificar, ali, a mesmice do formigueiro, exceto pelas condutas, que involuíram.

Há meio século, seria inaceitável que um professor dedicasse o tempo de suas aulas para formar adeptos às suas convicções políticas pessoais e alinhar alunos com seus próprios afetos e desafetos ideológicos. Para obter esse “espelhamento”, vêm as “narrativas”, as manipulações da história, as leituras do tempo presente, as “problematizações” e a sedução das utopias. Ou seja – nas palavras de José Dirceu, expressando seu temor ao movimento Escola Sem Partido – a conquista de corações e mentes.

Isto tudo seria grave por si mesmo, não fossem as consequências. O resultado se faz nítido no ambiente escolar, na perda de posições relativas de nosso país no ranking internacional, nos muitos milhares de vagas não preenchidas no mercado para recursos humanos qualificados, no desperdício de talentos em proporções alarmantes, na pobreza intelectual que amplia a pobreza material, nas seduções da vida nas drogas e de seu tráfico, na desordem e na desarmonia social. Pasmem leitores: até para a política, objeto de tanta manipulação, faltam – e como faltam! – recursos humanos qualificados.

Presenciamos, então, o rotundo fracasso de um sistema que, por diferentes motivos, frustra alunos, professores, pais, investidores e a nação como um todo. O que se fornece a quem mais necessita é de uma injustiça que brada aos céus nos planos material, intelectual, emocional, ético, estético e espiritual. É o que acontece quando a política e a ideologia são as grandes novidades…

Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 
Percival Puggina - Puggina.org

domingo, 26 de setembro de 2021

 


"Sou feliz e não admito que ninguém me acorde."


(Martha Medeiros)

 


O Nome da Rosa, de Umberto Eco

Quando o abade cego pergunta ao investigador William de Baskerville: ′′Que almejam verdadeiramente?"

Baskerville responde: ′′ Eu quero o livro grego, aquele que, segundo vocês, nunca foi escrito. Um livro que só trata de comédia, que odeiam tanto quanto risos. Provavelmente é o único exemplar conservado de um livro de poesia de Aristóteles. Existem muitos livros que tratam de comédia. Por que esse livro é precisamente tão perigoso?"
 
O abade responde: ′′ Porque é de Aristóteles e vai fazer rir ".
 
Baskerville replica: ′′ O que há de perturbador no fato de os homens poderem rir?"
 
O abade: ′′O riso mata o medo, e sem medo não pode haver fé. Aquele que não teme o demônio não precisa mais de Deus".
 
Legado Filosófico 


Gosto muito de ovo. Ovo frito. Ovo escaldado, com pão torrado. Coisa boba, o fato é que comecei a pensar sobre as razões por que gosto de ovo. Lembrei-me…

Meu pai era viajante. Passava a semana fora de casa. Voltava às sextas-feiras, no trem das oito. Noite escura, o trem das oito vinha apitando na curva, resfolegando de cansado, expelindo enxames de vespas vermelhas, chamuscava uma paineira, entrava na reta, passava a dez metros da nossa casa, todos nós estávamos lá, o pai com a cabeça de fora, sorrindo, e todos corríamos para a estação. Ele vinha com fome e sujo. Água quente não havia. Mas não tinha importância.

Da leitura do Evangelho havíamos aprendido de Jesus, no lava-pés, que quem está com os pés limpos tem o corpo inteiro limpo. A coisa, então, era lavar os pés. E esse era o costume geral lá em Minas. Minha mãe esquentava água no fogão de lenha, punha numa bacia e eu lavava os pés do meu pai. Depois de limpo, ele se assentava à mesa e o que tinha para comer era sempre a mesma coisa: arroz, feijão, molho de tomate e cebola, ovo frito e pão. Ele me punha assentado ao joelho e comia junto.

Ah, como é gostoso comer pão ensopado no molho de tomate, pão lambuzado no amarelo mole do ovo! Era um momento de felicidade. Nunca me esqueci. Acho que quando enfio o pão no amarelo mole do ovo eu volto àquela cena da minha infância. Os poetas, somente os poetas, sabem que um ovo é muito mais que um ovo… 

 

Rubem Alves, crônica do livro “Ostra feliz não faz pérola”. Editora Planeta, 2008

sábado, 25 de setembro de 2021

 


 


Ana Jácomo

"Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir.”

“Homem”, uma palavra de significado embotado


Como podemos expressar ideias universais presentes nos indivíduos sem a noção clássica de Homem?

Em abstrato, igualdade não quer dizer muita coisa quando aplicada aos homens. Na tradição liberal, igualdade remete às leis: nobre ou plebeu, rico ou pobre, gozar dos mesmos direitos elementares. Essa concepção de igualdade provavelmente vem do cristianismo, segundo o qual todos os homens — o ladrão, o médico, o estuprador, o professor — são feitos à imagem e semelhança de Deus. Isso torna os homens igualmente dignos num nível elementar. Após a II Guerra, esse sentimento de igualdade de dignidade foi laicizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Que hoje sejamos treinados para ouvir “igualdade” e pensar em dinheiro é preocupante. Nem o genocídio dos judeus europeus, que tinham dinheiro para levar uma vida de classe média antes de perder os direitos e a dignidade, foi capaz de ensinar o quão mesquinha é essa concepção de igualdade.

Igualdade como uniformidade

Os que clamam por igualdade pensando em dinheiro têm em vista a uniformidade das riquezas. Uma outra uniformidade pela qual se clama é a uniformidade de pensamento. Em nosso tempo, esta é uma demanda premente da parte dos progressistas: reparemos que, de acordo com a propaganda, algo tão subjetivo quanto um sentimento — o ódio — é letal em si mesmo. Nunca se empreendeu, na história ocidental, o projeto de extirpar um sentimento da humanidade. Ao contrário, sempre lidamos com a ideia de continência e cultivo pessoal: as tendências existem, os sentimentos existem, mas os homens são falíveis. Humo sum, humani nihil a me alienum puto: “Sou um homem, não acho que nada de humano seja alheio a mim.” Este é o mote clássico. Hoje, é difícil encontrar quem tenha a humildade de dizer em público que sente ódio, pois é um mero homem, um mortal aquém de seres divinos.

Então hoje vivemos numa época em que é normal alguns criminalizarem um sentimento humano, imputando-o somente a outros. Fica tácito que eles, os progressistas, não odeiam ninguém. Não carregam essa mácula que outrora se supunha tingir toda a humanidade.

E com a campanha educativa contra o ódio pretendem acabar com a criminalidade. Todo homicídio pode ser explicado através de algum preconceito. O preconceito, a seu turno, é fomentado pelo discurso de ódio. Uma piada pode ser enquadrada como discurso de ódio. Resultado: piadas matam. Para acabar com homicídios não é mais necessário fortalecer a polícia, mas sim a doutrinação que os cidadãos recebem a fim de não sentirem mais ódio. Tem aquele bordão feminista que manda ensinar os homens a não estuprarem — seria um bordão, se não pretendesse com isso substituir a ação policial e a prevenção da parte da mulher. Parece que, se os homens forem suficientemente doutrinados, aí, e só aí, o estupro será combatido.

A uniformidade do pensamento nos está sendo apresentada como essencial à vida em sociedade.

O caso da criminalidade é batido há anos. Mas agora vemos também a mesma concepção se transpor para a ciência: discordâncias acerca da maneira como a pandemia está sendo gerida devem ser tachada de fake news, e fake news deve ser crime. Se discordâncias forem expostas por uma pessoa, a sociedade inteira corre o risco de virar antivacina terraplanista. Assim como as feministas diziam que uma piada mata, os famigerados especialistas hoje dizem que fake news matam.

O curioso é que terraplanistas existem há um bom tempo, inclusive associados ao movimento antivacina. Entendia-se, até pouco tempo atrás, que desinformação se combate com informação. Nem todos os terraplanistas são passíveis de serem dissuadidos, mas não se trabalhava com a necessidade de uniformizar totalmente o pensamento de cada indivíduo na sociedade. Trabalhávamos, em vez disso, apenas com a formação de consensos e com a noção de maioria. A maioria era mais poderosa, mas os direitos das minorias deveriam ser respeitados. Bastava que os terraplanistas fossem minoria, e tudo estava certo. A sociedade não ia desmoronar por causa deles.

Hoje, não. O a própria ideia de direito de minoria foi esvaziada e virou lacração. Se você, ou um cientista renomado, ou um doidinho, expressarem ceticismo quanto à vacinação de covid, tudo se passa como se a dúvida fosse contagiosa e as pessoas fossem todas morrer por causa disso, deixando de tomar a vacina salvadora.

Molda-se uma sociedade que não aceita senão a uniformidade do pensamento.

Gênero humano

Existe outra razão para ser difícil encontrar quem proclame: Humo sum, humani nihil a me alienum puto. A razão é que está difícil dizer-se homem e ser entendido.

Com cirurgias linguísticas, a ideia de ser um homem vem se tornando cada vez mais embotada. Em latim, homo vale para homem e para mulher; o homem do sexo masculino era o vir, que veio a dar em varão em português. Em grego também havia um substantivo humano, ἄνθρωπος (anthropos), para designar o homem sem especificar o sexo. As palavras em português derivadas do grego que têm a ver com a humanidade têm ánthropos na composição: antropologia, antropocentrismo, filantropia… As palavras relativas ao homem do sexo masculino usam “andrós”, o genitivo de ἁνήρ (anér): misandria, poliandria, andrógino…

Em um português transigente com ambiguidades, homem às vezes é entendido como sinônimo de varão, e às vezes é entendido como espécime do gênero humano.

Mas quem disse que hoje podemos falar em gênero humano e ter a certeza de ser entendidos? Martelam-nos que existe um espectro de gênero: gênero masculino, gênero feminino, gênero neutro, gêneros não-binários. Por causa disso inventaram “todes”, para abranger quem não se identifica nem com homem, nem como mulher.

Se cada indivíduo pode pertencer a um gênero diferente, e se “homem” é só mais um gênero, como poderemos expressar a ideia clássica de Homem sem cair em abstrações coletivistas?

Ora, muito já se fez contra os homens em nome da Humanidade – muita coerção da atual pandemia se faz em seu nome. Mas este é um problema num nível mais elementar: como podemos expressar ideias universais presentes nos indivíduos sem a noção clássica de Homem? As frases: “O Homem é racional” e “A Humanidade é racional” são diferentes. A primeira é muito mais clara. A segunda pode soar como “A Rússia é uma potência bélica”, que não faz de nenhum russo, em particular, uma potência bélica. Além disso, sacrificar russos para salvar a Rússia faz perfeito sentido. Que espanto haverá, então, quando se propuser a eliminação de alguns milhões de homens (chamados eufemisticamente de “população”) para salvar a Humanidade?
 
 Por Bruna Frascolla - GazetadoPovo

Gazeteiros históricos

Não é de hoje a falta de disposição dos deputados para o trabalho. Campos Salles, que presidiu o Brasil entre 1898 e 1902, enviou uma carta ao então presidente da Câmara, deputado Xavier da Silveira, em que solicita sua “intervenção” para “obter o comparecimento dos deputados na sessão da Câmara”. Campos Salles se queixa em sua carta de 8 de abril de 1901 que “até hoje não temos um Orçamento sequer votado pela Câmara”. E adverte: “Nada pode ser mais grave do que isto”. Vai mais além: “É preciso não só que (os deputados) compareçam, mas que permaneçam durante a sessão, pois a praga é: entrar por uma porta e sair pela outra”.

DiáriodoPoder 


O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore.

Manoel de Barros

O Brasil não é um país sério!


Parlamentares conseguem piorar o Código Eleitoral brasileiro. Deputados votam e aprovam novo Código com previsão de quarentena de quatro anos para juízes e policiais.

A Câmara dos Deputados concluiu, na madrugada da última quinta-feira (16), a votação do novo Código Eleitoral (Projeto de Lei Complementar 112/21). Com o placar de 273 votos a  favor e 211 contra, foi aprovada a emenda que impõe o desligamento de seu cargo, quatro anos antes do pleito, para juízes, membros do Ministério Público, policiais federais, rodoviários federais, policiais civis, guardas municipais, militares e policiais militares. O texto ainda será encaminhado e examinado pelo Senado. 

A situação da "quarentena" criada pela Câmara é no mínimo inusitada. Ora, suponhamos a seguinte situação: um criminoso comete um delito e é capturado ainda em flagrante por um policial. Encaminhado a DP, é instaurado o competente inquérito. O Promotor de Justiça oferece denúncia contra o indigitado. O processo tramita normalmente e ao final é julgado por um Juiz de Direito

Pasmem... desses quatro personagens apenas o réu pode ser candidato a representar a vontade do povo, os demais têm que se afastar do cargo e aguardar o decurso do prazo de quatro anos!

Durma-se com uma legislação dessa! 

Teófilo Júnior


 

 



Macrofotografia do pavio de uma vela recém apagada. Note as minúsculas partículas de parafina que compõem a fumaça que sai da vela. O mundo micro é realmente outro universo.


 

sexta-feira, 24 de setembro de 2021


 “O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam, mas, para os que amam, o tempo é eternidade”.                       

                                                                                             (William Shakespeare)

 

 


 


 


"Algum dia, o poder será dado à ternura..."

Rubem Alves


 “O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto”

                                                                                               (Thomas Huxley)