sábado, 30 de janeiro de 2021
Desaparece da Torre de Londres um dos corvos que, segundo lenda, garantem sobrevivência da monarquia
Superstição afirma que, caso aves abandonem local, monarquia britânica irá cair. Merlina, descrita como um pássaro de caráter independente, não é vista há semanas e pode ter morrido; cuidador garante que há seis corvos 'fixos' por decreto real e um de sobra e por isso não há motivo para preocupação.
Sete corvos vivem na Torre de Londres, seis por decreto real e um como 'reserva'
Foto: Reprodução/Youtube/Historic Royal Palaces
Um dos corvos da Torre de Londres, dos quais uma tradição afirma que, caso abandonassem o local, a monarquia britânica cairia, desapareceu e gerou preocupações de que esteja morto, anunciou o Palácio Real nesta quinta-feira (14).
Merlina, descrita como um pássaro de caráter independente, não é vista há semanas nesta histórica fortaleza nas margens do rio Tamisa.
É "uma notícia realmente preocupante", afirmou a Torre de Londres em sua página na internet, considerando que "sua ausência contínua indica que pode ter morrido".
Segundo uma lenda muito enraizada, se os corvos abandonassem a torre, o reino "desabaria" e o país seria "afundado no caos".
De acordo com um decreto real, supostamente emitido por Carlos II no século 17, deve haver seis deles no local a qualquer momento. Para garantir que seja assim, algumas penas das asas são cortadas e um ou dois corvos substitutos são mantidos.
Os responsáveis pela torre, construída a partir de 1078 e que agora guarda as joias da coroa, após ter sido ao longo dos séculos uma prisão e até um arsenal, enviaram uma mensagem para tranquilizar os britânicos: "Atualmente temos sete corvos na Torre, um a mais que os seis necessários".
Desde que se uniu ao grupo, Merlina foi "inquestionavelmente" a "rainha dos corvos", segundo esta instituição, dependente dos palácios reais históricos. Embora às vezes voasse, até agora sempre voltava a seus companheiros Poppy, Erin, Jubilee, Rocky, Harris, Gripp e Georgie.
Apesar de a ameaça do colapso do reino ser "um mito e uma lenda", o cuidador das aves, Chris Skaife, se mostrou cauteloso em suas declarações à BBC: "Temos sete corvos na Torre de Londres, seis por decreto real, e tenho mais um de sobra, então por enquanto está tudo bem".
Por France Presse- G1
Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.
MIGUEL DE CERVANTES
In: Dom Quixote de la Mancha
Imagem: desenho de Pablo Picasso "Dom Quixote" (1955)
O espírito que anda
Encontrei o Fantasma por acaso como moeda de troca de outros gibis. A história do "espírito que anda" me fascinou de imediato e não foi difícil tornar-se um leitor voraz daqueles quadrinhos. Leio até hoje.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
A cor do silêncio
as ruas estão vazias
o tempo não esboça sorrisos
não há paralelepípedos nas esquinas da solidão
não há flores no jardim da saudade
apenas notícias de um vento viral
que assola os corações
não se ouve a voz do destino
e a nuvem cinza se aproxima…
Charlan Fialho
Il. Wayne Brezinka
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Direito x Lei
Há coisas que parecem simples mas que emocionam a gente. Quando o direito bater de frente com a lei, não hesite, fiquei com o direito!
Soneto XII
"Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...
o Menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...
E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...
Eras tu... que, ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!..."
Mário Quintana, in A Rua dos Cataventos - 1940
O padeiro
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento — mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o
meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo
café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente.
Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a
campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
— Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não, senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina — e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E
às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa,
além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma
crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho
na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de
humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é
ninguém, é o padeiro!”
E assobiava pelas escadas.
Rio, maio, 1956.
Rubem Braga, no livro “Ai de ti, Copacabana”. Rio de Janeiro: Record, 2010.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
Vença seus medos
O medo sempre aconselha a desistir. Sempre convida a fugir do novo, da incerteza, do risco.
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
segunda-feira, 25 de janeiro de 2021
Amor
Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minh'alma, meu coração...
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento,
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Álvares de Azevedo
domingo, 24 de janeiro de 2021
Frutos e flores
Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me trespassa.
Marina Colasanti
sábado, 23 de janeiro de 2021
Hitler tinha um canário: notas sobre o sentimentalismo
As três experiências
Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por quê, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.
Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o voo necessário, e eu ficarei sozinha. É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei cumprindo o destino de todas as mulheres.
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
Espero em Deus não viver do passado. Ter sempre o tempo presente e, mesmo ilusório, ter algo no futuro.
O tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna. E depois morrer vai ser o final de alguma coisa fulgurante: morrer será um dos atos mais importantes da minha vida. Eu tenho medo de morrer: não sei que nebulosas e vias lácteas me esperam. Quero morrer dando ênfase à vida e à morte.
Só peço uma coisa: na hora de morrer eu queria ter uma pessoa amada por mim ao meu lado para me segurar a mão. Então não terei medo, e estarei acompanhada quando atravessar a grande passagem. Eu queria que houvesse encarnação: que eu renascesse depois de morta e desse a minha alma viva para uma pessoa nova. Eu queria, no entanto, um aviso. Se é verdade que existe uma reencarnação, a vida que levo agora não é propriamente minha: uma alma me foi dada ao corpo. Eu quero renascer sempre. E na próxima encarnação vou ler meus livros como uma leitora comum e interessada, e não saberei que nesta encarnação fui eu que os escrevi.
Está-me faltando um aviso, um sinal. Virá como intuição? Virá ao abrir um livro? Virá esse sinal quando eu estiver ouvindo música?
Uma das coisas mais solitárias que eu conheço é não ter a premonição.
Clarice Lispector
Texto extraído do livro “Aprendendo a viver”, Clarice Lispector. (Crônicas). Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.
O adeus de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
Nas mulheres jovens, a beleza supre o espírito. Nas velhas, o espírito supre a beleza. Barão de Montesquieu
A França e a soja brasileira
Pálida Inocência
Por que, pálida inocência,