terça-feira, 29 de setembro de 2020
O tele-autógrafo
A lua foi ao cinema
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
Paulo Leminski
segunda-feira, 28 de setembro de 2020
domingo, 27 de setembro de 2020
Campanha das eleições municipais começa neste domingo
Os candidatos estarão liberados, por exemplo, a pedir votos e divulgar propostas nas ruas, na internet e na imprensa escrita. Já a propaganda gratuita em rádio e televisão do primeiro turno – marcado para 15 de novembro – será veiculada de 9 de outubro a 12 de novembro.
sábado, 26 de setembro de 2020
A arte do enfrentamento
Tancredo Neves sustentava nos anos 1980, em palestra a estudantes, que às vezes o enfrentamento é necessário. Contou que era vereador em São João Del Rey, e, atacado, escreveu uma furiosa carta de três páginas para o adversário.
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
Cadastro Nacional de Estupradores
Um ótima notícia para o combate a violência. O Cadastro nacional de estupradores foi aprovado pelo senado e segue agora para sanção presidencial.
Esse cadastro sairá de uma cooperação entre União, Estados e municípios. De acordo com a proposta, o banco de dados do cadastro deverá conter características físicas, impressões digitais, perfil genético (DNA), fotos e endereço residencial dos condenados por estupro.
Em caso de condenado em liberdade condicional, o cadastro deverá conter também os endereços residenciais dos últimos três anos e as profissões exercidas nesse período.
Fonte: Do face do Luiz Philippe de Orleans e Bragança
Com informações da Agência Senado
As pequenas doenças da eternidade
"Falava como se a obra mandasse nela. Margarida costurava, enquanto Júlio, o mais novo dos filhos a penteava com uma escova de madrepérola. Júlio era o seu amigo preferido. Uma vez e outra assisti àquela encenação e vi como, no final o meu amigo recolhia os cabelos tomados no chão para os erguer de encontro à janela. Cada cabelo brilhava como se fosse um fio de lã tricotando nuvens. Naquele momento Maralto espreitava pela janela, mas não eram nuvens que ele queria ver. Esperava pela chegada do marido. Sabia que ele a estava a trair com outra, algures num quarto da cidade. Margarida tinha os olhos em maré vaza. Mas fazia de conta de que não havia espera, de que não havia marido, de que não havia cidade. Era então que o seu menino a salvava. Penteava a mãe, dizia ele, para que ela nunca morresse.
(...)
Adoecemos porque foi essa a nossa escolha. No falso sofrimento da pequena doença esquecemos as verdadeiras e incuráveis dores com que nascemos e iremos morrer.
(...)
E agora que os filhos todos já tinham saído de casa, restava-lhe Júlio com sua infatigável escova de madrepérola. A minha presença, dizia-me ela à despedida, ajudava-a a varrer a saudade desses ausentes. Até que um dia se descobriu que o Júlio sofria do coração. Uma válvula disseram. Eu não queria ouvir: doía-me saber que o Júlio estava doente. Havia um erro. O coração de Júlio era infinito.
(...)
Até que a alma se tornou um peso. Incapaz de correr, Júlio abandonou o seu lugar como avançado de centro da nossa equipa. Restou-lhe o papel de árbitro.
(...)
Um dia foi a vida quem assinalou falta contra Júlio Maralto. A minha mãe acordou-me cedo e levou-me pela estrada de asfalto que conduzia ao cemitério.
(...)
As pessoas debruçavam-se sobre ela e dedicavam-lhe o impossível conforto de gestos e palavras. Maria Maralto permanecia alheia. Quando me aproximei, porém, ela segurou-me no braço e fixou-me longamente para murmurar: agora é que viver já não tem cura.
(...)
Agora, todas as tardes, vou visitar Margarida, mirrada dentro do vestido negro. Naquele corpo tão magro e escasso, não cabem nem pequenas nem grandes doenças. Já contei todos os seus ossos, anuncia como um relato dos seus afazeres diários. E conclui: os ossos que traz no corpo são os que bastam, uns para suster lembranças, outros para devolver à terra. Contempla os muros como se esperasse que eles florisseme ergue o pescoço para dizer que está pronta. Empunho a escova e penteio os seus cabelos cada dia mais brancos. A vizinha não demora a adormecer. E eu me retiro, pé ante pé, para não interromper as eternidades da vizinha Maria Maralto "
Mia Couto
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende!
quinta-feira, 24 de setembro de 2020
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
terça-feira, 22 de setembro de 2020
Folhas de Rosa
Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo...
E falo-lhes d’amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume de outrora
Flutua em volta delas, docemente...
Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m’embriaga
O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que refletia outrora tantos risos,
E agora reflete apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...
Florbela Espanca
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais... Vinicius de Moraes