sexta-feira, 31 de julho de 2020
Humor: tentando a reeleição
Um prefeito em campanha para
reeleição, chega em uma comunidade no interior, perguntando aos
moradores do que eles precisam. Os moradores se aproximam e falam pra
ele:
- Doutor, nós temos dois problemas grandes aqui na nossa vila.
- Qual é o primeiro? Perguntou o candidato.
- Não temos médico. Respondeu um morador.
O candidato pegou o celular, saiu caminhando e falando alto:
- Eu falei que quero dois médicos aqui todos os dias, já a partir de amanhã e Pronto!
Ele desliga o celular e volta pros moradores falando:
- Pronto, primeiro problema resolvido, o secretário de saúde não deu à
devida atenção que vocês merecem, será demitido amanhã mesmo. Qual é o
segundo problema?
Uma moradora responde:
- Aqui não pega sinal de celular.
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Foi cedo demais
Quando as palavras não dizem
tudo eis que surge o silêncio como expressão. Quando o silêncio também teima em
nada dizer, o que nos resta é uma vontade incontida de chorar. Ainda bem que
Deus também criou as lágrimas como expressão.
Há pessoas que aportam em
nossa vida feito barquinho de papel navegando em riacho doce e, quando menos se
espera, aproxima-se calmo, silenciosamente. Sem vexame, baixa âncora e
tornam-se pinturas azuis colorindo o nosso céu. Foi nessa atmosfera que
encontrei José Camilo de Queiroz Júnior em minha vida, o nosso querido
“Juninho”, amigo de infância, sorriso largo, braços sempre dispostos ao
encontro do abraço. Não lembro-me de tê-lo visto triste ou irritado, não havia
espaço em seu coração para coisas menores.
Foi um homem grande na mais
ampla acepção da palavra. Custa-me caro essa despedida. Prefiro não fazê-la,
não escrever mais nada, parar por aqui. Amanhã, “Juninho”, nos encontraremos
para podermos dizer, entre sorrisos, que a morte perdeu o jogo e foi um grande
engano em sua vida, meu amigo!.
"Quem foi Cassandra na mitologia grega? Cassandra foi um dos 12
filhos de Príamo, rei de Tróia, e irmã de Heitor (que foi morto por
Aquiles). Ela é citada por Homero tanto em Ilíada quanto em Odisséia.
Cassandra é devota do deus Apolo e recebe deste o dom da profecia. Este
deus se apaixona perdidamente por Cassandra, filha de Príamo. Apolo
deseja uma relação sexual com Cassandra. Como Cassandra se recusa, esta
recebe um castigo divino, Apolo faz com que
ninguém acredite nas profecias de Cassandra. Cassandra prever a Guerra
de Tróia (e ninguém acredita); Cassandra prever a destruição de Tróia (e
ninguém acredita); na obra Odisséia, Cassandra tenta alertar a
população da cidade de Tróia sobre a artimanha de Ulisses (com seu
cavalo de madeira de presente), e ninguém acredita. Cassandra, devido as
suas profecias nada boas, passa a ser tratada como louca. Quando Tróia é
destruída, Cassandra se refugia no Templo da deusa Atena. O soldado
Ajax (como mostra a pintura de Joseph Slomon, de 1886) invade o templo e
a agarra violentamente. Cassandra chega a segurar a imagem da deusa
Atena que cai no chão. Cassandra sofre violência sexual."
Não raramente, somos instados na vida a proclamar as mais diversas
previsões. A experiência e o tempo nos capacita a antecipar conclusões
que nos parecem inevitáveis em nossas vidas. As nossas decisões sociais,
profissionais e até diárias geralmente implica em tomada de posições.
Na nossa sociedade contemporânea cada vez mais superficial e líquida,
não precisamos de muitas previsões para vivermos o mito de Cassandra e o
fugaz julgamento da nossa mais individual e deliberada loucura.
quarta-feira, 29 de julho de 2020
Convite Triste
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.
Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.
Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um umbigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.
Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
(Em: Brejo das Almas)
Carlos Drummond de Andrade
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.
Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.
Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um umbigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.
Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
(Em: Brejo das Almas)
Carlos Drummond de Andrade
E as nossas influências?
Querem que a gente tenha juízo? Como isso é possível? Desde pequenos vimos o Tarzan andando nu. A Cinderela chegava em casa a meia noite. O Pinóquio, coitado, mentia pra caramba. O Aladim era ladrão. O Batman não respeitava o trânsito e dirigia a 320km/h. A Branca de Neve morava com 7 homens e o Popeye fumava uma erva muito estranha que o deixava loucão! A Olívia Palito tinha anorexia. O Cascão não tomava banho. Cebolinha falava tudo errado. A Mônica baixava o pau nos meninos e a Magali era gulosa. O Mickey, vivia de enrolação, nunca casou com a Minie. O Pato Donald, também não casou com a Margarida, não trabalhava e os três sobrinhos sempre faltavam as aulas. Tio Patinhas era um mão de vaca pão duro. O Gastão não trabalhava e vivia da sorte. Dick vigarista vivia de falcatruas. O Pateta tinha dificuldades para ler. Enfim, esses foram os exemplos que tivemos desde pequenos... E hoje, passado os anos, querem que tenhamos juízo!
terça-feira, 28 de julho de 2020
É
fato, confirmado por diferentes e numerosas evidências, que as
serpentes possuíam patas e que estas foram perdidas ao longo da
evolução. Vale destacar a ocorrência de:
• Fósseis de serpentes com 2 ou 4 patas;
• Esporões pélvicos - vestígios de patas;
• "Pseudo-patas" em casos de atavismo.
• Fósseis de serpentes com 2 ou 4 patas;
• Esporões pélvicos - vestígios de patas;
• "Pseudo-patas" em casos de atavismo.
Arena evolucionista
Restos de navio de Barba Negra revelam que o pirata abandonou a embarcação de propósito
Um estudo analisou pedaços de chumbo que protegiam o casco do navio, deixado para trás em 1718 — mesmo ano da morte do pirata
Uma nova revelação surgiu sobre o lendário Barba Negra, 24 anos depois que o seu navio "Vingança da Rainha Anne"
foi descoberto na década de 1990. A embarcação, só identificada em
2011, agora gerou uma reviravolta no reinado de terror do pirata.
Antes,
acreditava-se que o fim dos dias marítimos de Barba Negra ocorreu após o
navio encalhar perto das ilhas Outer Banks da Carolina do Norte. Mas,
as evidências do naufrágio de 1718 sugerem que o aterramento não foi
acidental.
Historiadores costumavam supor que o pirata
calculou mal a profundidade de um banco de areia, no entanto, ao que
indica o estudo, o barco foi intencionalmente preso e abandonado na
areia, quando afundou abaixo d'água. A embarcação estava em mau estado e
com um vazamento sério quando o notório marinheiro a deixou para trás.
Para chegar à essa conclusão, o arqueólogo Jeremy Borrelli, da East
Carolina University, analisou pedaços de chumbo do navio e notou que
eles estavam muito danificados. Borrelli comparou as peças com objetos
semelhantes de outros sítios arqueológicos.
"O uso de tiras de
chumbo era uma prática comum dos marinheiros na época para fornecer
proteção adicional a áreas vulneráveis ou propensas a vazamentos do
casco", o pesquisador contou ao site Live Science.
Depois do naufrágio do "Vingança da Rainha Anne", alguns meses depois,
Barba Negra foi morto naquele mesmo ano de 1718, durante um combate com o
tenente Robert Maynard e seus homens da Marinha Real Britânica.
Estima-se que ele tinha na época entre 35 a 40 anos de idade.
Fonte
Vanessa Centamori - Revista Aventuras na História
segunda-feira, 27 de julho de 2020
Quem foi Celso Furtado?
Celso
Monteiro Furtado nasceu a 26 de julho de 1920 em Pombal, no sertão
paraibano, filho de Maria Alice Monteiro Furtado, de família de
proprietários de terra, e Maurício de Medeiros Furtado, de família de
magistrados. Após seus estudos secundários no Liceu Paraibano e no
Ginásio Pernambucano do Recife, chega ao Rio em 1939, entra para a
Faculdade Nacional de Direito e começa a trabalhar como jornalista na
Revista da Semana. Em 1943, é aprovado no concurso do DASP para
assistente de organização, indo trabalhar no Rio e em Niterói. No ano
seguinte, cursa o CPOR, conclui o curso de Direito e é convocado para a
Força Expedicionária Brasileira. Com a patente de aspirante a oficial,
segue para a Itália, servindo, na Toscana, como oficial de ligação junto
ao V Exército norte-americano, e sofre um acidente em missão durante a
ofensiva final dos aliados no Norte da Itália.
Em 1946, ganha o prêmio Franklin D.
Roosevelt, do Instituto Brasil-Estados Unidos, com o ensaio "Trajetória
da democracia na América". Viaja para a França, inscreve-se no curso de
doutoramento em economia da Universidade de Paris-Sorbonne, e no
Instituto de Ciências Políticas. Envia reportagens para a Revista da
Semana, Panfleto e Observador econômico e financeiro, entre outras,
narrando sua experiência como integrante de uma brigada francesa de
reconstrução de uma estrada na Bósnia, e sua participação no Festival da
Juventude em Praga. Em 1948, é feito doutor em economia pela
Universidade de Paris, com a tese "L'économie coloniale brésilienne",
dirigida por Maurice Byé, obtendo a menção très bien. De volta ao
Brasil, retoma o trabalho no DASP e junta-se ao quadro de economistas da
Fundação Getúlio Vargas, trabalhando na revista Conjuntura econômica.
Casa-se com Lucia Tosi.
Em 1949, instala-se em Santiago do Chile
para integrar a recém-criada Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL), órgão das Nações Unidas que se transformará na única escola de
pensamento econômico surgida no Terceiro Mundo. Nasce seu filho Mário.
No ano seguinte, quando o economista argentino Raúl Presbisch assume a
secretaria-executiva da CEPAL, é nomeado Diretor da Divisão de
Desenvolvimento, e até 1957 cumpre missões em diversos países do
continente, como Argentina, México, Venezuela, Equador, Peru e Costa
Rica, e visita universidades norte-americanas onde então se inicia o
debate sobre os aspectos teóricos do desenvolvimento. É de 1950 seu
primeiro ensaio de análise econômica, "Características gerais da
economia brasileira", publicado na Revista brasileira de economia, da
FGV. Em 1952, "Formação de capital e desenvolvimento econômico" é seu
primeiro artigo de circulação internacional, traduzido para o
International Economic Papers, da Associação Internacional de Economia.
Em 1953, preside no Rio o Grupo Misto
CEPAL-BNDE, que elabora um estudo sobre a economia brasileira, com
ênfase especial nas técnicas de planejamento. O relatório do Grupo
Misto, editado em 1955, será a base do Plano de Metas do governo de
Juscelino Kubitschek. Em 1954, com um grupo de amigos, cria o Clube de
Economistas, que lança a revista Econômica Brasileira. Nasce seu filho
André. Em 1956, mora na Cidade do México, em missão da CEPAL. Passa o
ano letivo de 1957-58 no King's College da Universidade de Cambridge,
Inglaterra, a convite do professor Nicholas Kaldor. Aí escreve a
Formação econômica do Brasil, que será seu livro mais difundido.
De volta ao Brasil, desliga-se
definitivamente da CEPAL e assume uma diretoria do BNDE. É nomeado, pelo
presidente Kubitschek, interventor no Grupo de Trabalho para o
Desenvolvimento do Nordeste. Elabora para o governo federal o estudo
"Uma política de desenvolvimento para o Nordeste", origem da criação, em
1959, da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), com
sede no Recife. Em 1961, como seu superintendente, encontra-se em
Washington com o presidente John Kennedy, cujo governo decide apoiar um
programa de cooperação com o órgão, e, semanas depois, com o ministro
Ernesto Che Guevara, chefe da delegação cubana à conferência de Punta
del Este, para discutir o programa da Aliança para o Progresso. Em 1962 é
nomeado, no regime parlamentar, o primeiro titular do Ministério do
Planejamento, quando elabora o Plano Trienal apresentado ao país pelo
presidente João Goulart por ocasião do plebiscito visando a confirmar o
parlamentarismo ou a restabelecer o presidencialismo. No ano seguinte
deixa o Ministério do Planejamento e retorna à Superintendência da
SUDENE, quando concebe e implanta a política de incentivos fiscais para
os investimentos na região.
O Ato Institucional nº 1, publicado três
dias depois do golpe militar de 31 de março de 1964, cassa os seus
direitos políticos por dez anos. Têm início seus anos de exílio. Ainda
em abril, aceita um convite para dar seminários em Santiago do Chile.
Meses depois, em New Haven, Estados Unidos, será pesquisador graduado do
Instituto de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Yale. Faz
conferências em diversas universidades norte-americanas e participa de
vários congressos sobre a problemática do Terceiro Mundo. Em 1965,
muda-se para a França, a convite da Faculdade de Direito e Ciências
Econômicas da Universidade de Paris, e assume a cátedra de professor de
Desenvolvimento Econômico. É o primeiro estrangeiro nomeado para uma
universidade francesa, por decreto presidencial do general de Gaulle.
Permanecerá nos quadros da Sorbonne por vinte anos. Em junho de 1968 vem
ao Brasil pela primeira vez após sua cassação, a convite da Câmara dos
Deputados. No correr do decênio de 1970, faz diversas viagens a países
da África, Ásia e América Latina, em missão de agências das Nações
Unidas. No mesmo decênio, é professor-visitante da American University,
em Washington, da Columbia University, em Nova York, da Universidade
Católica de São Paulo e da Universidade de Cambridge, onde é o primeiro
ocupante da cátedra Simon Bolívar e é feito Fellow do King's College.
Entre 1978-81, integra o Conselho Acadêmico da recém-criada Universidade
das Nações Unidas, em Tóquio. No mesmo período, recebe um mandato do
Commitee for Developement Planning, da ONU. Entre 1982-85, como diretor
de pesquisas da Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, dirige em
Paris seminários sobre a economia brasileira e internacional.
A partir de 1979, quando é votada a Lei da
Anistia, retorna com frequência ao Brasil, reinsere-se na vida política e
é eleito membro do Diretório Nacional do PMDB. Casa-se com a jornalista
Rosa Freire d'Aguiar. Em janeiro de 1985 é convidado pelo recém-eleito
presidente Tancredo Neves para participar da Comissão do Plano de Ação
do Governo. É nomeado embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica
Européia, em Bruxelas, assumindo o posto em setembro. Integra a Comissão
de Estudos Constitucionais, presidida por Afonso Arinos, para elaborar
um projeto de nova Constituição. Em março de 1986 é nomeado ministro da
Cultura do governo do presidente José Sarney; sob sua iniciativa, é
aprovada a primeira lei de incentivos fiscais à cultura. Em julho de
1988 pede demissão do cargo, retornando às atividades acadêmicas no
Brasil e no exterior.
De 1987-90 integra a South Commission,
criada e presidida pelo presidente Julius Nyerere, e formada por países
do Terceiro Mundo para formular uma política para o Sul. Entre 1993-95 é
um dos doze membros da Comissão Mundial para a Cultura e o
Desenvolvimento, da ONU/UNESCO, presidida por Javier Pérez de Cuéllar.
Entre 1996-98 integra a Comissão Internacional de Bioética da UNESCO. Em
1997 é organizado em Paris, pela Maison des Sciences de l'Homme e a
UNESCO, o congresso internacional "A contribuição de Celso Furtado para
os estudos do desenvolvimento", reunindo especialistas do Brasil,
Estados Unidos, França, Itália, México, Polônia e Suíça. No mesmo ano é
criado pela Academia de Ciências do Terceiro Mundo, com sede em Trieste
(Itália), o Prêmio Internacional Celso Furtado, conferido a cada dois
anos ao melhor trabalho de um cientista do Terceiro Mundo no campo da
economia política. É Doutor Honoris Causa das universidades Técnica de
Lisboa, Estadual de Campinas-UNICAMP, Federal de Brasília, Federal do
Rio Grande do Sul, Federal da Paraíba e da Université Pierre
Mendès-France, de Grenoble, França.
Em agosto de 1997 é eleito para a cadeira
nº 11 da Academia Brasileira de Letras. Empossado em 31 de outubro, é
saudado pelo Acadêmico Eduardo Portella.
domingo, 26 de julho de 2020
Lampião quase vira cláusula da Constituição de 1934
Lampião, o cangaceiro, quase vira cláusula da Constituição da República de 1934.
As investidas do Rei do Cangaço contra cidades, fazendas e , mais
ainda, seus confrontos com as forças policiais, renderam discursos
inflamados no Congresso Nacional.
Documentos guardados nos Arquivos do Senado e da Câmara mostram que
os parlamentares trataram do tema na tribuna em inúmeras ocasiões.
Em 1926, o senador Pires Rebello (PI) discursou:
— Quem vive nesta capital da República [Rio], poderá achar que o
governo tem feito a felicidade completa dos brasileiros. Ofuscados pelos
brilhos da luz elétrica, é natural que os cariocas não saibam que
naquele vasto interior existem populações aquadrilhadas fora da lei que
zombam da Justiça e ridicularizam governos.
As investidas de Lampião eram tão brutais que, na Assembleia Nacional
Constituinte de 1934, deputados nordestinos — a Assembleia não teve
senadores — redigiram cinco propostas para que a nova Constituição
previsse o combate ao cangaço como obrigação do governo federal.
A repressão cabia as volantes, batalhões itinerantes das polícias dos
estados. O que parte dos constituintes desejava era que o Exército
reforçasse a ação das volantes. O deputado Negreiros Falcão (BA)
afirmou:
— Os Lampiões continuam matando, roubando, depredando, desvirginando
crianças e moças e ferreteando-lhes o rosto e as partes pudendas sem que
a União tome a menor providência. Os estados por si sós, desajudados do
valioso auxílio federal, jamais resolverão o problema.
O deputado Teixeira Leite (PE) lembrou que os governos estaduais eram carentes de verbas, armas e policiais:
— A força policial persegue os bandoleiros, prende-os quando pode e
mata-os quando não morre. Hostilizados de todos os lados, recolhem-se à
caatinga e se tem a impressão de que o bando se extinguiu. Mera ilusão. O
vírus entrou apenas num período de latência. Cessada a perseguição, os
facínoras repontam mais violentos e sequiosos de sangue e dinheiro,
apavorando os sertanejos e a polícia.
Leite explicou por que seria diferente com o Exército em campo:
— Que bando se atreveria a aproximar-se de uma zona onde
estacionassem tropas do Exército, com armas modernas, transportes
rápidos e aparelhos eficientes de comunicação?
Outra vantagem era que as tropas federais podiam transitar de um
estado a outro. As estaduais não tinham tal liberdade — e os cangaceiros
tiravam proveito disso. Uma vez encurralados em Alagoas, por exemplo,
os bandidos escapavam para Sergipe, Bahia ou Pernambuco, estados nos
quais as volantes alagoanas não podiam atuar.
Nenhuma das propostas que davam responsabilidade ao governo federal
vingou, e a Constituição de 1934 entrou em vigor sem citar o cangaço.
— Na nova Constituição, vamos invocar o nome de Deus. Vamos também
constitucionalizar Lampião? — ironizou o deputado Antônio Covello (SP).
Para o deputado Francisco Rocha (BA), o cangaço exigia “remédio social”, e não “remédio policial”:
— As causas do cangaceirismo são a falta de educação, estrada e
justiça e a organização latifundiária preservando quase intactas as
antigas sesmarias coloniais, para não mencionar a estúpida ação policial
dos governos.
Segundo o jornalista Moacir Assunção, autor de Os Homens que Mataram o Facínora, sobre os inimigos de Lampião, o cangaço surgiu na Colônia e tinha a ver com o isolamento da região:
— O sertão ficava separado do litoral e mantinha uma ligação muito
tênue com Lisboa e, depois, com o Rio. O que prevalecia não era a
justiça pública, mas a justiça privada. Era com sangue que o sertanejo
vingava as ofensas. Muitos aderiram ao cangaço em razão de brigas de
família ou abusos das autoridades. Uma vez cangaceiros, executavam a
vingança contando com a proteção e a ajuda do bando.
Lampião entrou no cangaço após a morte de seu pai pela polícia, em 1921.
— O cangaceiro não era herói. Era bandido mesmo — esclarece Assunção.
— A aura de herói tem a ver com um atributo valorizado pelo sertanejo
do passado: a valentia. O cangaceiro enfrentava a polícia sem medo, de
peito aberto. Isso era heroísmo.
Em 1935, com a nova Constituição já em vigor, o senador Pacheco de
Oliveira (BA) apresentou um projeto de lei que destinaria 1,2 mil contos
de réis aos estados para repressão ao cangaço. O dinheiro sairia do
orçamento da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, responsável
pela abertura de açudes, poços e estradas no sertão.
A grande preocupação de Oliveira eram os criminosos que atacavam os trabalhadores e atrasavam as obras.
— Um engenheiro avisou sobre o risco que corria seu pessoal. Como não
lhe chegassem recursos, lançou mão do único expediente que lhe era
praticável: armou os trabalhadores.
Os cangaceiros matavam os operários por terem ciência de que a
chegada do progresso ao sertão colocaria em risco o futuro das
quadrilhas nômades.
Fonte: Agência Senado
Tema
Deliberadamente
utilizamos
todas as zonas erógenas
submissos
aos animais
que transitavam a pele
submissos
a nossa disponibilidade
imerecida
sacudida
por buzinas
chuvas repentinas confundindo
as marcas de um caminho já
percorrido
Deliberadamente
entre suor e grunhido
molhado
o ritual foi cumprido
Só então nos devolvemos
Eunice Arruda
utilizamos
todas as zonas erógenas
submissos
aos animais
que transitavam a pele
submissos
a nossa disponibilidade
imerecida
sacudida
por buzinas
chuvas repentinas confundindo
as marcas de um caminho já
percorrido
Deliberadamente
entre suor e grunhido
molhado
o ritual foi cumprido
Só então nos devolvemos
Eunice Arruda
Cortininha de filó
Para mim prima é mesmo que irmã, a gente respeita, mas Bela, sei lá!, tinha uns
rompantes que até me assustavam. Naquela noite, por exemplo. Eu me embalava
distraidíssimo na rede. Desde menino que durmo pouco, a Bela estava careca de saber e
quando menos espero quem é vejo diante de mim? A Bela. A Bela dormia de pijama, minha tia
achava camisão indecente, que pijama protege, a menina pode se mexer à vontade,
frioleiras de velha. Pois a Bela me aparece apenasmente de blusa de pijama! Não entendi,
francamente. e se não estivesse como estava acordado, poderia até imaginar que sonhava:
a Bela ali de pijama decepado. Só para provocar como me provocou, que logo fiquei
agitadíssimo, me virando e revirando na rede, e a Bela feita uma estátua, nem uma
palavra dizia, à espera eu acho de atitude minha, mas cadê coragem?, que conforme disse
prima é irmã, e de irmã não se olha coxa, não se olha bunda, irmã pode ficar pelada
que a gente nem enxerga peitinho, cabelinho, nada. A danada da Bela sabia muitíssimo bem
o que estava fazendo, que chegou um ponto que não suportei semelhante sofrimento, a dois
metros da dona de um corpo fantástico. Me levantei da rede e me senti empurrado para os
braços da Bela, que sem mais aquela me estrangulou que nem apuizeiro, e hoje penso que
ela só esperava mesmo que me levantasse da rede, porque tudo o mais foi com ela,
começando por me levar pelo escuro como guia de cego e sem nenhuma-nenhuma cerimônia
deitou-se comigo na cama, que depois é que eu soube que os titios tinham saído, a gente
estava só em casa e eu bestando na rede, quando bem podia estar há tempos naquele céu.
A única coisa que fiz mesmo foi tirar a blusa do pijama dela e mais nada, que ela cuidou
do resto, professora ,mais que escolada, e para começar espetou-me com os peitinhos num
abraço que quase me mata. A Bela tinha prática, um fogo tremendo. E começou a maior das
confusões, eu nuínho também, que nem sabia o que era minha perna e perna da Bela, as
mãos da Bela me amassando a ponto de deixar em carne viva o meu bilu-bilu, que parece que
ela estava com raiva do meu bilu-bilu, mas não era raiva e sim uma aflição que deu de
repente na diaba da minha prima, que queria fazer tudo ao mesmo tempo, mas tinha só duas
mãos, pegava no meu troço, largava, pegava de novo, se esfregava e parava de se
esfregar. Agora vejo que não era prática coisíssima nenhuma da Bela, mas uma comichão
que se alastrava lá nela. De repente parou, a respiração cortada em miudinhos, dando a
impressão de que tinha brincado a tarde toda de juju. E eu, lógico, parei também e
ficamos feitos dois patetas, olhando o teto, quer dizer, a Bela é que olhava o teto, que
eu não sabia se tínhamos terminado, se me vestia e ia embora para a rede. Nós
estávamos colados, braços, coxas e pernas, de alto a baixo, parece que eu estava com uma
febre de quarenta graus ou mais. Me sentia ótimo, ela podia olhar o teto o resto da vida
e aí eu fechei os olhos e flutuava lele-leve, não sentia nada por baixo de mim, é como
se estivesse voando, fora da cama, como se por baixo não houvesse coisa sólida, só ar.
Foi quando a Bela virou-se para mim e começou a passar as unhas pela barriga me causando
uma friagem e umas cócegas e pegou desta vez com uma delicadeza que até me espantou, o
meu negócio inchadíssimo, parecendo que tinha sido picado por um enxame de cabas. Ela
olhava para ele de muito perto, virava e revirava o cartuchinho de carne, um picolé
quente, que não derretia. Percebi indecisão na Bela. E então falou a única palavra
naquela noite, uma palavra só, palavra de três letras, que eu morro e não esqueço essa
palavra:
“Vem!”
Ora, a Bela tinha cada uma! "Vem." Ir aonde se eu estava ali? Ela falou "vem" muito, muito delicadamente, me puxou e eu tudo deixava, deixei, fui deixando, a Bela pelo visto sabia muito bem o que estava querendo. “Vem." Ela me guiou que eu não sabia nem a décima parte da missa, às vezes se .impacientava com a minha santa burrice e para a Bela deve ter sido um trabalho dos seiscentos, mas ela insistia e insistia, acabou me botando de bruços por cima dela. Aí abriu as pernas e eu fiquei feito um bobo naquele espação sem saber o que fazer. A Bela fez tudo, tudo,.e gemia como se doesse e devia doer. Foi quando percebi que uma cortina de papel se rasgava e eu entrei por um corredorzinho ensopado. Aí deu nela um nervoso, sei lá o que foi!, ela me empurrou, me expulsando com raiva, eu mais que depressa saí, que não era nada besta de contrariar a Bela. Então percebi uma bruta mancha no lençol. O lençol tinha bem no centro um laguinho de sangue.
“Vem!”
Ora, a Bela tinha cada uma! "Vem." Ir aonde se eu estava ali? Ela falou "vem" muito, muito delicadamente, me puxou e eu tudo deixava, deixei, fui deixando, a Bela pelo visto sabia muito bem o que estava querendo. “Vem." Ela me guiou que eu não sabia nem a décima parte da missa, às vezes se .impacientava com a minha santa burrice e para a Bela deve ter sido um trabalho dos seiscentos, mas ela insistia e insistia, acabou me botando de bruços por cima dela. Aí abriu as pernas e eu fiquei feito um bobo naquele espação sem saber o que fazer. A Bela fez tudo, tudo,.e gemia como se doesse e devia doer. Foi quando percebi que uma cortina de papel se rasgava e eu entrei por um corredorzinho ensopado. Aí deu nela um nervoso, sei lá o que foi!, ela me empurrou, me expulsando com raiva, eu mais que depressa saí, que não era nada besta de contrariar a Bela. Então percebi uma bruta mancha no lençol. O lençol tinha bem no centro um laguinho de sangue.
Haroldo Maranhão
Haicais
Consolo
A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.
Os andaimes
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
Pescaria
Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.
Romance
E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.
O haicai
Lava, escorre, agita
a areia. E enfim, na bateia,
fica uma pepita.
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.
Os andaimes
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
Pescaria
Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.
Romance
E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.
O haicai
Lava, escorre, agita
a areia. E enfim, na bateia,
fica uma pepita.
Guilherme de Almeida
Hino à dor
Dor, saúde dos seres que se fanam,
Riqueza da alma, psíquico tesouro,
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam..
És suprema! Os meus átomos se ufanam
De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
De que as próprias desgraças se engalanam!
Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.
Com os corpúsculos mágicos do tato
Prendo a orquestra de chamas que executas...
E, assim, sem convulsão que me alvorece,
Minha maior ventura é estar de posse
De tuas claridades absolutas!
Augusto dos Anjos
Riqueza da alma, psíquico tesouro,
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam..
És suprema! Os meus átomos se ufanam
De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
De que as próprias desgraças se engalanam!
Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.
Com os corpúsculos mágicos do tato
Prendo a orquestra de chamas que executas...
E, assim, sem convulsão que me alvorece,
Minha maior ventura é estar de posse
De tuas claridades absolutas!
Augusto dos Anjos
sábado, 25 de julho de 2020
O segredo do poder
Empossado governador de Minas, nos
anos 1940, Milton Campos marcou audiência com uma comissão de
correligionários de Curvelo, à frente o deputado Raimundo Sapateiro, o
único trabalhador eleito pela UDN. Como Campos demorou a receber o grupo, Sapateiro acabou cochilando numa confortável poltrona da antessala.
O próprio Milton Campos o despertou: “Então, Raimundo, já conhecia o palácio? Gostou?”
O trabalhador deputado respondeu: “Gostei muito, governador. E só agora entendi por que os políticos brigam tanto pelo poder. É porque ele é muito macio…”
DiáriodoPoder
Cinema
MIRAGE (Drama - 2004) - Origem: República da Macedônia.
Perseguido incessantemente por seus colegas e forçado a suportar uma
vida familiar dolorosa, um sensível menino macedônio procura uma maneira
de lidar com a sua miséria. Depois de uma professora gentilmente
incentivá-lo a participar de um concurso de poesia, ele começa a ter
esperança no futuro. Mas quando seus sonhos são destruídos, ele busca a
orientação de um mercenário que o ajuda a endurecer.
A complicada arte de ver
Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse
os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a
cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria!
Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já
fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas,
cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca
havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se
refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral
de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se
transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo
aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que
vejo me causa espanto."
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os
órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua
física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto
do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na
visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".
Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...
Rubem Alves
William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".
Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...
Rubem Alves
sexta-feira, 24 de julho de 2020
(...)
Amar ou ter amado é o bastante. Depois, não exijam mais nada. Além
dessa não existe outra pérola escondida entre as dobras obscuras da
vida. Amar é completar-se.
— Victor Hugo, no livro "Os Miseráveis". (Quinta Parte: Jean Valjean | Livro Sexto: a noite branca | Cap. II: Jean Valjean continua com o braço na tipoia / Ed. Cosac & Naify/Casa da Palavra; 1.ª edição [2002]).
Obra: "The Lovers", 1873 - John Atkinson Grimshaw.
— Victor Hugo, no livro "Os Miseráveis". (Quinta Parte: Jean Valjean | Livro Sexto: a noite branca | Cap. II: Jean Valjean continua com o braço na tipoia / Ed. Cosac & Naify/Casa da Palavra; 1.ª edição [2002]).
Obra: "The Lovers", 1873 - John Atkinson Grimshaw.
Insônia
É meia-noite.
Só as minhas mãos dormem.
Só as minhas mãos dormem.
Longe de mim,
a noite pesa,
imperpétua prisão.
Haverá algures
um outro chão,
onde ninguém tenha sido enterrado.
Nesse lugar
aprenderei a dormir.
Até lá, só, me espero
para além do sono.
A insónia
é o medo do amanhã
voltar a ser ontem.
Mia Couto “Vagas e Lumes"
a noite pesa,
imperpétua prisão.
Haverá algures
um outro chão,
onde ninguém tenha sido enterrado.
Nesse lugar
aprenderei a dormir.
Até lá, só, me espero
para além do sono.
A insónia
é o medo do amanhã
voltar a ser ontem.
Mia Couto “Vagas e Lumes"
quinta-feira, 23 de julho de 2020
quarta-feira, 22 de julho de 2020
terça-feira, 21 de julho de 2020
O mito da caverna
O
mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em
correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do
fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são
projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e
objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros
ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as
situações. (Platão)
Do face de Marcelo Faria
Do face de Marcelo Faria
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Estão abertas as inscrições para o Concurso Nacional Novos Poetas, Sarau Brasil 2020.
Inscreva-se em: www.concursonovospoetas.com.br
Inscreva-se em: www.concursonovospoetas.com.br
Realização: Vivara Editora Nacional.
Apoio cultural: Revista Universidade
Apoio cultural: Revista Universidade
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