domingo, 31 de maio de 2020
Velório em Tempos Modernos
Um rapaz chegou em um velório e a primeira coisa que perguntou foi:
- Qual é a senha do Wi-Fi?
Um parente incomodado disse:
- Respeite o morto!
E ele perguntou:
- É tudo junto?
- Qual é a senha do Wi-Fi?
Um parente incomodado disse:
- Respeite o morto!
E ele perguntou:
- É tudo junto?
Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.
Definitivo
Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram
sonhadas e não se cumpriram.
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...
Bill Gates recomenda A grande gripe como leitura para a quarentena
Esta semana, Bill Gates divulgou em sua página do LinkedIn sua
tradicional lista de recomendação de leituras para o verão, que este ano
serão feitas no período de quarentena.
Um dos destaques da lista com cinco títulos é A grande gripe,
de John M. Barry, sobre o surto de gripe espanhola que assolou o
planeta há um século. O livro mostra como a ciência lidou com a doença e
as mudanças sociais que ocorreram na tentativa de conter aquela que se
tornaria a epidemia mais mortal de todos os tempos. Repleta de
informações e indispensável para os tempos atuais, a obra de Barry traz
do passado lições importantes que podemos adotar nos dias de hoje. De
acordo com Bill Gates, “embora 1918 tenha sido uma época muito diferente
da que vivemos, este livro é uma boa lembrança de que nós ainda estamos
lidando com os mesmos desafios”.
Outro título da lista é The ride of a lifetime, de Bob Iger,
a biografia do CEO da Disney responsável por importantes decisões, como
a aquisição da Pixar. A obra será publicada no Brasil pela Intrínseca
ainda no primeiro semestre de 2020.
Confira a postagem divulgada por Bill Gates com os livros de 2020.
Estão entre as recomendações recentes de Bill Gates também mais dois livros do nosso catálogo: Um cavalheiro em Moscou, destaque da lista do ano passado e que voltou a ser mencionado esse ano; e a biografia de Leonardo da Vinci, indicação da lista de 2018.
Um cavalheiro em Moscou
é uma obra de ficção que mostra com humor e leveza como alguns valores e
tradições vão sendo deixados para trás ao longo da história. O cenário
desse enredo é um hotel de luxo, onde um importante aristocrata é
condenado à prisão domiciliar e, com o passar dos anos, acaba ficando
alheio aos avanços do mundo externo. Ele decide então que é hora de
estreitar os laços com os funcionários do local, e consequentemente com o
que há lá fora.
Leonardo da Vinci é
a biografia definitiva de um dos maiores gênios do século XVIII,
escrita por Walter Isaacson, biógrafo conhecido por retratar as vidas de
Steve Jobs e Albert Einstein. A obra, com mais de 600 páginas, conta a
vida de Da Vinci com detalhes, abordando desde suas maiores
contribuições para arte e ciência até suas facetas mais desconhecidas.
Fonte: aqui
Fonte: aqui
sábado, 30 de maio de 2020
Outro lado do terror do Reich: Os bordeis de Auschwitz
Prisioneiras do campo de concentração de Auschwitz - Getty Images
Em Auschwitz e nove outros campos de extermínio nazistas, todo um programa de prostituição oficial foi estabelecido.
Digamos que ela se chamasse Eva. Como a esposa de Hitler.
Por motivos que ficarão óbvios, se já não são, as vítimas do tipo de
atrocidade de que vamos falar não deixaram seus nomes reais. Todas são
Frau A., Frau B.
Frau E. acaba de chegar ao campo de Auschwitz. Havia sido capturada por “conduta antissocial”, o termo que abrigava sem-tetos, alcoólatras, viciados, prostitutas
e figuras que não eram classificadas como prisioneiros políticos. Logo
na entrada, ela é separada das outras prisioneiras por um grupo da SS.
Muitas
histórias corriam a respeito do que acontecia nos campos nazistas. Quem
era separado na entrada eram velhos, crianças, quem não teria utilidade
no trabalho forçado. Eram mandados imediatamente para o “banho” nas
câmaras de gás.
E. sente que sua hora chegou. Mas os SS têm para ela não a morte
imediata, mas uma proposta. É um trabalho leve, de meras duas horas por
dia. Receberia uma ração extra e alojamento aquecido. Depois de seis
meses, seria libertada.
Era uma proposta que não podia ser
recusada. Quando ela é encaminhada para o banho, é só um banho mesmo.
Sem demoras, segue-se o exame médico. Um ginecologista testa, apalpa,
observa e faz perguntas sobre sua saúde, todas concentradas em sua vida
sexual. Depois diz que precisa passar por uma pequena cirurgia. Que
exige, porém, anestesia geral. No dia seguinte, Eva acorda com pontos no
abdômen.
Ao ter alta, é apresentada a seu alojamento. No lugar de
um uniforme, ganha um vestido e roupas de baixo. Coisa cara, tomada de
uma vítima mais rica. E, de fato, o lugar é muito mais decente que os
beliches infestados de percevejos aos quais estava acostumada. Recebe
também um café da manhã. E é a mesma ração dada aos guardas. São quase
20h, hora do expediente. “Fique quieta, faça o trabalho, e nada de ruim
vai acontecer”, é instruída.
Finalmente ela é conduzida ao local de trabalho. Um quarto. Antes que
possa terminar de ligar os pontos, um homem adentra. É um prisioneiro
como ela. Alemão, como ela. Um dos “triângulos verdes”, bandidos comuns
usados pelos nazistas como força de repressão. Ouve, por trás das
paredes, carrascos da SS dando risadinhas. E nota que há buracos nas
paredes. Eles seriam observados.
A escolha era trabalhar ou tomar
uma surra e ir parar na câmara de gás. Sete outros a visitam naquela
noite. E assim passaria a ser por três dias por semana mais as tardes de
domingo. Até dez homens por dia.
Todos os dias, Frau E. podia ver
pela janela a entrada do campo, logo em frente ao prostíbulo. Mas a
promessa de libertação nunca seria cumprida. Algumas ganhariam trabalhos
administrativos. Outras voltariam para o lugar de onde vieram. E havia
também as destinadas a Auschwitz II — Birkenau, a seção de extermínio.
Eterno tabu
A história aqui contada é uma composição de
diversos testemunhos, a grande maioria deles fragmentários ou dados não
por quem viveu, mas por quem ouviu falar ou conversou com elas.
Particularmente a descrição geral que Iga Bunalska, do Grupo de Estudos
de Auschwitz, publicou num trabalho recente.
Não aconteceu apenas em Auschwitz I. Foram dez deles, como em Sachsenhausen, Dachau
e Monowitz (também conhecido por Auschwitz III; um campo separado, a
vários quilômetros do mais famoso. Em todos, menos Auschwitz, as
prisioneiras vinham do campo feminino de Ravensbrück, de onde não só
eram mandadas para bordéis em campos de extermínio como para instalações
do Exército.
Numa estimativa citada por Insa Eschebach, diretora
do Centro Ravensbrück, foram no mínimo 200 delas. Vinte e uma das quais
trabalhavam no Bloco 24 de Auschwitz.
“Quando falamos nos bordéis, não há quase nenhuma fonte existente
sobre o assunto”, afirma a historiadora. “Parece que o assunto ainda é
um tabu. Depois da guerra, as pessoas fingiram que esse tema não
existiu.”
Além do profundo trauma pessoal, há um estigma da velha
moral sexual. Várias das mulheres forçadas à prostituição, usando o
triângulo preto, haviam sido presas por se prostituírem.
“É uma
ironia que, enquanto os nazistas tentavam restringir a prostituição nas
cidades alemãs, eles a institucionalizaram nos campos”, afirmou o
historiador alemão Robert Sommers, autor de Das KZ Bordell (O Bordel do
Campo de Concentração), em entrevista à Reuters.
Também havia o
risco bem real de serem vistas como colaboradoras — e as diversas cenas
de ex-amantes dos oficiais nazistas arrastadas pelas ruas e tendo os
cabelos raspados pela multidão enfurecida, na liberação, mostram que,
absolutamente, essa não era uma preocupação infundada.
O estigma
já existia enquanto os campos estavam abertos. Num documentário para a
TV pública alemã ARD, a prisioneira soviética Nina Mikhailovna, uma
civil de 20 anos capturada na Bielorrússia para trabalhos forçados, que
viveria em São Paulo antes de se estabelecer nos EUA, contou:
“Quando
descobrimos que uma garota no nosso bloco foi escolhida, nós a pegamos,
jogamos um lençol em cima dela e a espancamos com tanta força que ela
mal podia se mexer. Não era certo se ela se recuperaria. Elas só queriam
uma vida melhor, e nós as castigamos por isso”.
Produtividade
A
ideia partiu de Heinrich Himmler, comandante da SS e responsável pelo
programa de extermínio, engenheiro do Holocausto. Ele afirmou que isso
serviria para motivar os trabalhadores forçados. E, em suas palavras,
“evitaria homossexualismo” nos campos.
Parecia uma piada de mau
gosto — a maior de todos os tempos, se de fato era. Uma forma adicional
de humilhar os prisioneiros famélicos, não exatamente dispostos ao sexo
em sua condição. Essa foi a opinião expressa por vários deles.
“Qualquer
um que pense que o Bloco 24 era alguma espécie de presente aos
prisioneiros não entende Auschwitz”, afirmou o prisioneiro polonês Jozef
Szajna em seu testemunho. “Foi feito para humilhar as pessoas. Era só
mais um exemplo do cinismo e crueldade dos alemães. Os bordéis não eram
nada de excepcional. Só foram outro crime do Nacional Socialismo
alemão.”
Acreditasse ou não Himmler no que estava fazendo, o
primeiro campo abriu em Mauthausen/Gusen em 1942. Auschwitz ganharia o
seu em 30 de junho de 1943. Eles permaneceriam ativos até os últimos
dias.
Himmler não estendeu sua concessão aos judeus, que estavam lá com o
propósito de morrer, menos que trabalhar. Eram prisioneiros alemães e
eslavos que estavam nas duas pontas da cama. Judias, apesar de certas
histórias que hoje são muito contestadas, também não foram alistadas. A
única mulher que participou do programa e não era alemã ou eslava foi
uma prisioneira política holandesa.
O plano era destinado aos
trabalhadores especiais dos campos. Eram sobretudo prisioneiros alemães
por crimes comuns, servindo de kapos, seguranças internos, ou em funções
na indústria química I.G. Farben, instalada em Auschwitz III. Segundo o
historiador Robert Sommer, menos de 1% da população aprisionada visitou
os bordéis nos campos.
Piotr Setkiewicz, diretor do Centro de
Pesquisas do Museu de Auschwitz, afirma que os administradores punham
“um enorme valor na existência desse tipo de instituição no campo e,
como sua correspondência indica, tratavam isso como um fator central em
aumentar a produtividade dos prisioneiros”.
Os que visitavam eram
os que recebiam prêmios por superarem cotas de produção. Esse dinheiro
também servia para comprar cigarros, alimentos e outros privilégios. Os
15 minutos no bordel custavam 2 reichsmarks. Parte ia para a mulher,
parte para o campo. Um prisioneiro que quisesse participar do programa
precisava colocar o nome numa lista.
No fim do dia, no pátio onde
recebiam ordens, tinha seu nome chamado publicamente. Era então levado
ao Bloco 24, a Frauenhaus (casa das mulheres), como era chamada
eufemisticamente. Antes de terem acesso à prisioneira, eram postos nus
diante de um médico, que besuntava seus pênis com pomada antisséptica.
Alguns recebiam injeções.
Era oficialmente proibido, mas alguns
oficiais alemães também frequentaram os bordéis, subornando os
responsáveis. É de imaginar que tivessem uma atitude bem diferente da
dos prisioneiros. Nem todos os prisioneiros aceitaram o convite.
“Muitos,
especialmente os prisioneiros políticos bem informados, tentavam evitar
a exposição a chantagens por parte da SS”, testemunhou o sobrevivente
Fritz Kleinman. “Intrigas surgiram entre os clientes do bordel e
transferências punitivas e espancamentos foram o resultado das
escapadelas dos prisioneiros especiais.”
Decisão forçada
Laqueaduras
como no caso que abre a matéria não eram universais. E, feitas nas
condições do campo, algumas terminavam em morte. As mulheres que não
eram esterilizadas poderiam terminar grávidas e sofrer abortos forçados,
que também podiam acabar em morte.
Uma história contada pela
sobrevivente Zofia Bator-Stepien relata que uma moça que ela conheceu se
inscreveu imediatamente no programa. “Quando o médico terminou de
examiná-la, perguntou se ela fazia a menor ideia de para onde estava
indo. Ela disse que não, mas ouviu que ela ganharia muito pão.”
O
médico também avisou: “Pense cuidadosamente sobre isso, porque, mesmo
que isso te dê uma chance de sobreviver a Auschwitz, você pode querer
ser mãe no futuro, e isso não será possível”. Ao que ela respondeu: “Não
quero ser mãe. Só quero pão”.
E isso nos leva a um ponto central:
a questão de muitas das mulheres terem sido voluntárias, de que há
relatos, como outro caso contado por Zofia Bator-Stepien, delas à
vontade com o cargo, desfilando em roupas de luxo e maquiagem pelo
campo, e inclusive tentando continuar quando dispensadas.
“É impossível falar em livre-arbítrio quando você leva em conta as
condições em que elas eram forçadas a tomar essa decisão”, registrou a
sobrevivente Nanda Herbermann (1903-1979) em seu livro-testemunho Der
Gesegnete Abgrund (O Abismo Abençoado).
Nanda, uma católica presa
por divulgar material antinazista, foi forçada a cuidar do bloco de
prostitutas em Ravensbrück. Ou, como define Insa Eschebach: “Sei que
pensamos sobre isso por uma perspectiva diferente, mas, para muitas
delas, foi uma decisão muito simples: era ou o bordel e a sobrevivência
ou a câmara de gás”.
As relações com prisioneiros podiam ser
amigáveis. Frau B., um dos casos lembrados numa exibição recente do
Centro Ravensbrück, afirmou que eles tendiam a ser respeitosos. “Estavam
presos por anos e ficavam felizes em terem qualquer contato humano”,
afirmou.
Ela lembrou que, vez ou outra, a sessão se limitava a uma
conversa. B. também comentou sobre a vigilância dos guardas. “Estávamos
tão dessensibilizadas que simplesmente pensávamos: ‘Que se dane, morram
de olhar, malditos’.”
Mas nem sempre os olhares eram por
voyeurismo. E essa é uma outra parte da perfídia dessa história. Os
prisioneiros do triângulo rosa eram observados não apenas por guardas
mas por médicos especialmente designados.
Cerca de 100 mil gays
foram presos pelos nazistas e, desses, entre 5 mil e 15 mil foram
mandados para os campos de extermínio. Não se sabe quantos sobreviveram,
mas o número é provavelmente bem baixo.
O triângulo rosa marcava
um prisioneiro para atrocidades homofóbicas pelos guardas e outros
prisioneiros. Há casos de SS brincando de tiro ao alvo com seus
triângulos cor-de rosa. A eles eram dados trabalhos dos mais
extenuantes.
E tudo isso não era simplesmente pela ideia de
extermínio. Mas de procurar uma “cura gay”. O trabalho extenuante era
parte do “tratamento”. Vários sofreram com experimentos feitos com
hormônios, outros foram castrados.
E,
em Auschwitz, Himmler em pessoa ordenou um experimento mais
“psicológico”: sexo forçado com as trabalhadoras do Bloco 24, uma vez
por semana. Não é preciso entrar em detalhes para entender como foi uma
experiência traumática para os dois lados.
Fracasso
Do ponto
de vista mais cínico e prático possível, o programa dos bordéis foi um
fracasso. “Por tudo o que descobri, não funcionou”, diz Sommer.
“Pouquíssimas pessoas estavam em condições físicas de realmente
usá-los.”
Não há dados, mas historiadores como Sommer e Isa
acreditam que a maioria das prostitutas, dado simplesmente não estarem
passando fome, sobreviveu ao período no campo.
Mas, a essas,
restaria um injustificável estigma para o resto da vida. “Não sabemos de
nenhuma que tenha sido compensada pelo que passou”, afirma o
historiador. “É importante que essas mulheres recebam de volta parte de
sua dignidade.”
Aventuras na História
Coronavírus: caso a vacina fique pronta, quem deverá tomar primeiro?
Com a pandemia preocupando toda a população, especialistas ao redor
do mundo inteiro lutam para desenvolver uma vacina. Esse
processo normalmente leva anos, então a tarefa de trazê-la à tona o mais
rápido possível é muito desafiadora. Mesmo que os cientistas
desenvolvam uma vacina segura e amplamente eficaz, planejar como
administrá-la a bilhões de pessoas envolve uma série de protocolos. No
início, a oferta será escassa e, dependendo de como a suspensão será
feita, pode ser potencialmente difícil de transportá-la. Sendo assim,
além de precisar descobrir essa vacina, também há o desafio de suprir a
necessidade de tantas pessoas. A abordagem mais provável, portanto, é
oferecer a vacina, inicialmente, apenas a membros de grupos específicos.
No entanto, alguém terá que decidir quais grupos serão prioridade — e
por qual país começar, caso a distribuição seja mundial.
Essa ordem será difícil de entender. Mesmo que a resposta seja
"quem corre mais risco de morrer", os dados epidemiológicos ainda não
estão claros sobre qual grupo atende com mais urgência a esse
critério. As pessoas mais velhas têm maior probabilidade de ficar
gravemente doentes e morrer, mas os pesquisadores ainda estão tentando
descobrir o papel que as crianças desempenham como transportadoras do
coronavírus, por exemplo.
Dezenas de empresas estão disputando a corrida pela entrega da
primeira vacina comprovadamente eficaz contra a COVID-19 — a exemplo da Moderna,
que já aprovou sua primeira fase de testes com humanos na Califórnia.
Aprovadas as etapas laboratoriais e após passarem por três etapas de
estudos clínicos, o próximo passo é conseguir o aval das agências
regulamentadoras (no caso dos Estados Unidos, a FDA) para, então,
iniciar a fase comercial.
"É inevitável que a vacina chegue de
maneira mais lenta do que gostaríamos. Não vamos ter 350 mil doses sendo
distribuídas no primeiro dia", relata Andrew Pavia, chefe de doenças
pediátricas infecciosas na Universidade de Utah, ao USA Today. A maioria
dos especialistas concorda que a vacina deverá ser administrada,
primeiro, a quem está mais exposto ao risco de contrair COVID-19 (como
trabalhadores da área da saúde, que atuam na linha de frente no combate
ao vírus, bombeiros, policiais e atendentes de lojas e supermercados),
ou a quem possa desenvolver sintomas mais agressivos — os chamados
grupos de risco.
Em entrevista à Wired, Andreas Handel, especialista em doenças
infecciosas da Universidade da Georgia, explica que quanto mais
refinadas forem essas diretrizes, melhor podemos definir os grupos mais
vulneráveis, tanto em relação ao risco que eles têm de se infectar
quanto ao risco de resultados graves. Para ele, talvez as pessoas com
alto risco de contrair a doença, mas com menor risco de apresentarem
maus resultados, devam ser as primeiras da fila. Isso pode significar
priorizar as pessoas com empregos de alta exposição que envolvem muito
contato público ou resolver os problemas sistêmicos que levaram as
pessoas mais pobres, afro-americanas e latinas a enfrentar mais doenças e
mortes por COVID-19. De qualquer forma, isso não é nem um pouco fácil.
A corrida dos países em busca da vacina
Quanto
à ordem dos países na fila de espera da vacina, ainda há um grande
desafio a ser resolvido — e é aí que medicina, política e economia se
cruzam. Com bilhões de vidas e trilhões de dólares, e o mundo inteiro
dependendo de uma vacina para a COVID-19, os cientistas estão
trabalhando para criar uma candidata eficaz e segura o mais rápido
possível. Isso porque a prioridade para qualquer país é proteger os
próprios cidadãos, e os governos podem reservar suprimentos produzidos
dentro de suas fronteiras para uso próprio e doses de estoque para
futuras ondas de contágio. Especialistas alertam que, mesmo após o
desenvolvimento de uma vacina bem-sucedida, pode levar anos até ser
suficiente para ajudar outros países.
Em entrevista ao Voice of
America, Bryan Mercurio, professor de Direito da Universidade de Hong
Kong e especialista em patentes de medicamentos, estimou que a China e
os EUA tentariam convencer os países a aprovar sua vacina primeiro.
Segundo ele, desde os primeiros dias do surto na China, o governo deixou
claro que está procurando um campeão nacional nesta corrida global pela
cura. Na China, o desenvolvimento de uma vacina é visto como
um jogo olímpico.
E, de fato, algumas candidatas a vacina chinesas já estão em estágio
avançado. Após sair da etapa pré-clínica, os estudos clínicos
(randomizados, controlados) em humanos precisam de mais três etapas até
serem concluídos. Geralmente, a primeira envolve um grupo menor de
pessoas, a segunda um grupo maior e a terceira um grupo grande e bem
controlado, com uma série de diretivas e variáveis a serem analisadas.
Segundo a Aliança Global para Vacinas e Imunização (Gavi), o CanSino
Biologics Inc, com sede em Tianjin, atualmente já se encontra na segunda
fase, com um estudo que envolve 108 indivíduos do Hospital Tongji, em
Wuhan, onde começou a pandemia. Enquanto isso, o Wuhan Institute também
já tem uma vacina na segunda fase do estudo clínico, com 96 pessoas em
três faixas etárias diferentes recebendo as doses. Nesse caso, o ensaio
clínico iniciou em 23 de abril.
Logo atrás, na primeira fase,
estão a BioNTech, da Alemanha, a Universidade de Oxford, no Reino Unido,
e o Beijing Institute, também da China. Moderna e Inovio
Pharmaceuticals, nos EUA também já se encontram nessa primeira fase.
Enquanto isso, a NOVAVAX, dos EUA e a Universidade de Queenland, da
Austrália, ainda estão na etapa pré-clínica, a um passo de ingressar
essa primeira fase.
Peter Smith, ex-presidente do Comitê Consultivo Global de
Segurança de Vacinas da OMS, disse também ao Voice of America que a
Organização Mundial da Saúde estava incentivando mais países e empresas a
se unirem aos esforços para produzir uma vacina segura e eficaz:
"Quanto mais grupos tentarem desenvolver uma vacina, melhor. Certamente
precisaremos de mais de um para atender à capacidade necessária".
Também
à Wired, Peter Hotez, decano da National School of Medicine no Baylor
College of Medicine, pontua: "A história nos mostra que as primeiras
vacinas licenciadas geralmente não são as mesmas utilizadas amplamente.
Normalmente, elas são substituídas por outras após os anos iniciais",
explica. "Vamos melhorar isso", espera o professor.
E quanto ao Brasil?
A
essa altura, imaginamos que essa seja uma questão que venha à tona.
Acontece que o país conta com as fábricas de Bio-Manguinhos/Fiocruz e
com o Instituto Butantã, dois dos maiores centros da América Latina. Em
entrevista ao jornal O Globo, Akira Homma, pesquisador emérito da
Fiocruz, disserta que um dos desafios é que ainda não se conhece a
plataforma tecnológica que será usada, o que dificulta a
adaptação. Segundo ele, a fundação “está em contato com grandes
laboratórios” do mundo, para parcerias: "Se houver uma plataforma
tecnológica de que não dispomos, muito distante da nossa, demorará mais
para produzirmos", aponta.
Por sua vez, também em entrevista ao Globo, José Gomes Temporão, que
foi ministro da Saúde durante a epidemia de H1N1, diz que as instalações
do Instituto Butantã permitiram, na época, a imunização de 100 milhões
de pessoas, e ressalta a possibilidade do mesmo instituto ser usado para
o coronavírus. Para ele, tudo vai depender da tecnologia utilizada, e
não se sabe se será mais ou menos complexa, ou se demandará uma produção
mais lenta ou mais breve. "Mas o Brasil é o único país em
desenvolvimento que tem duas grandes fábricas, e isto nos dá uma
vantagem", afirma.
Por Nathan Vieira
Fonte: Wired, USA Today, Gavi, Voice of America, O Globo
‘Ensinando a tristeza’
Meus amigos, com a melhor das intenções, têm se queixado, dizendo que
há muita tristeza no intervalo das coisas que escrevo. Essa observação
mexeu comigo. Fez-me lembrar uma crônica que escrevi faz muito tempo.
Era sobre a poeta Helena Kolody, que eu acabara de descobrir. Seus poemas não são alegres. São alegres-tristes.
Dentre os escritos da Helena Kolody encontrei este mínimo poema: “Buscas ouro nativo entre a ganga da vida. Que esperança infinita no ilusório trabalho… Para cada pepita, quanto cascalho”.
Gosto
de ler as Escrituras Sagradas. Mas leio como quem garimpa ouro. Para se
encontrar uma pequena pepita, quanto cascalho há de se jogar fora! Acho
até que foi arte de Deus… Foi ele mesmo que misturou cascalho e
pepitas, alegria e tristeza, pra separar os maus dos bons leitores. Os
maus leitores não sabem separar as pepitas do cascalho…
Nas minhas garimpagens pelas Escrituras Sagradas encontrei esta pepita: “Melhor é a tristeza que o riso. Porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”.
Esse texto me apareceu na memória quando eu pensava sobre uma pergunta estranha que me perseguia: “Pode-se ensinar compaixão?”.
Essa pergunta surgiu quando minha neta, sem razão alguma, deixou a mesa
no meio do almoço e foi para a sala da televisão chorar. Fui atrás dela
para entender a razão do seu choro. Ela me disse: “Vô, quando eu vejo uma pessoa chorando, o meu coração fica triste junto ao coração dela…”.
Sem o saber, a menina havia definido o que é a compaixão. Eu não disse. Quem disse foi a Adélia, que “a poesia é pura compaixão”. A poesia é triste. E acrescentou, pra ninguém entender, “por prazer da tristeza eu vivo alegre”.
Haverá uma pedagogia da tristeza? Estranho pensar que um professor, ao iniciar o seu dia, possa dizer para si mesmo: “Vou ensinar tristeza aos meus alunos…”.
Eu mesmo nunca havia pensado nisso. E todos os terapeutas, não
importando a sua seita, em última instância estão envolvidos numa
batalha contra a tristeza. E agora eu digo esse absurdo, que tristeza é
pra ser ensinada, pra fazer melhor o coração.
A poesia nasce da tristeza. Alberto Caeiro era amigo da sua tristeza: “Mas
eu fico triste como um pôr de sol quando esfria no fundo da planície e
se sente a noite entrada como uma borboleta pela janela”. E concluiu: “Mas minha tristeza é sossego porque é natural e justa e é o que deve estar na alma…”. Num outro lugar, Fernando Pessoa escreveu algo mais ou menos assim: “Ah! A imensa felicidade de não precisar de estar alegre…”.
Existe
uma perturbação psicológica ainda não identificada como doença. Ela
aparece num tipo a que dei o nome de “o alegrinho”. O alegrinho é aquela
pessoa que está o tempo todo esbanjando alegria, dizendo coisas
engraçadas, e querendo que os outros riam. Ele é um flagelo. Perto dele
ninguém tem a liberdade de estar triste. Perto dele todo mundo precisa
estar alegre… Porque ele não consegue estar triste, o alegrinho não
consegue ouvir a beleza dos noturnos de Chopin, nem sentir as sutilezas da poesia da Cecília Meireles,
nem gozar o silêncio triste da beleza do crepúsculo. Sempre alegrinho,
na sua alma não há espaço para sentir a compaixão. Para haver compaixão,
é preciso saber estar triste. Porque compaixão é sentir a tristeza de
um outro.
Houve um menino que chorou ao ler a estória O patinho que não
aprendeu a voar. Aconteceu assim: o seu pai comprou o livro esperando
que eu, o autor, fosse um alegrinho e que o livro iria fazer seu filho
dar muitas risadas. Voltou no dia seguinte muito bravo. Trazia o livro
na mão, para devolvê-lo. Ao invés de dar risadas, no fim da estória o
seu filho pôs-se a chorar. A estória é, de fato, triste. Eu a escrevi
para o meu filho que estava passando por uma crise de vagabundagem. O
seu prazer nas vagabundagens era tanto que ele não queria saber de
aprender. O patinho também não queria saber de aprender. Não pôde voar
com seus irmãos quando chegou a estação das migrações.
O menininho
tinha razões para chorar? Não. As razões do seu choro não eram dele.
Eram do patinho. Ele sofria o sofrimento do patinho. O seu coração batia
junto ao coração do patinho. Mas o patinho não existia. Era apenas um
personagem inventado de uma estória do mundo do “era uma vez”. E o
menino sabia disso. Mas, a despeito disso, ele chorava. Aqui está um dos
grandes mistérios da alma humana: a alma se alimenta com coisas que não
existem.
Eu havia levado minha filha de seis anos para ver o E.
T. Ao fim do filme ela chorava convulsivamente. Jantou chorando. Resolvi
fazer uma brincadeira: “Vamos no jardim ver a estrelinha do E. T.!”.
Fomos, mas o céu estava coberto de nuvens. Não se via a estrelinha do E.
T. Improvisei. Corri para trás de uma árvore e disse: “O E. T. está
aqui!”. Ela me disse: “Não seja tolo, papai. O E. T. não existe!”.
Contra-ataquei: “Não existe? E por que você estava chorando se ele não
existe?”. Veio a resposta definitiva: “Eu estava chorando porque o E. T.
não existe…”.
Volto então à pergunta que fiz sem saber a
resposta. O menino chorou ao ler a estória do patinho. Mas o patinho não
existia. Minha filha chorou ao ver o filme do E. T. Mas o E. T. não
existia. Pensei então que um caminho para se ensinar compaixão,
que é o mesmo caminho para se ensinar a tristeza, são as artes que
trazem à existência as coisas que não existem: a literatura, o cinema, o
teatro. As artes produzem a beleza. E a beleza enche os olhos d’água…
Meus amigos podem ficar tranquilos. Sou triste sim. Mas minha tristeza “é natural e justa e é o que deve estar na alma…”. Volto às Escrituras Sagradas: “Com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”. É isso que desejo ensinar aos meus alunos…
Rubem Alves, no livro “Pimentas – para provocar um incêndio, não é preciso fogo”. {contos} Editora Planeta, 2012.
A histórica carta do presidente Donald Trump ao Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde
Um documento histórico traduzido para o português. A carta do Presidente dos EUA para o diretor-geral da OMS. Uma importante peça para análise da geopolítica atual. Confira:
................
CASA BRANCA
WASHINGTON, DC
18 de maio de 2020
À sua excelência
Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus
Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Genebra, Suíça
Estimado Dr. Tedros:
Em 14 de abril de 2020, eu suspendi as contribuições dos Estados
Unidos da América à Organização Mundial da Saúde enquanto meu governo
investiga a falha da Organização em responder ao surto da COVID-19. Essa
investigação confirma muitas das sérias preocupações que apontei mês
passado e identificou outras que a OMS deveria ter se ocupado,
especialmente com a alarmante falta de independência da Organização em
relação à República Popular da China. Baseado nessa investigação, agora nós sabemos o seguinte:
A OMS ignorou consistentemente relatórios confiáveis do surto do
vírus e Wuhan, no princípio de dezembro de 2019 – ou até antes disso,
incluindo relatórios do jornal médico Lancet. A OMS falhou em
investigar com independência relatórios confiáveis que conflitavam
diretamente com a versão oficial do governo chinês, até aqueles que
vinham de fontes da própria Wuhan.
Ainda em 30 de dezembro de 2019, o escritório da organização em
Pequim sabia que havia uma grande preocupação de saúde pública em Wuhan.
Entre 26 e 30 de dezembro, a imprensa da China destacou a evidência do
surgimento de um novo vírus em Wuhan, baseando-se em dados de um
paciente enviados a várias empresas chinesas que trabalham com genomas.
Além disso, durante esse período, o Dr. Zhang Jixian – médico do
Hospital Provincial de Medicina Chinesa e Ocidental, de Hubei – disse às
autoridades médicas da China que um novo coronavírus estava causando
uma nova doença que, àquela altura, afligia aproximadamente 180
pacientes.
No dia seguinte, autoridades taiwanesas repassaram à OMS informações
que indicavam a transmissão entre seres humanos do novo vírus. Ainda
assim, a Organização resolveu não compartilhar nenhumas dessas
informações ao resto do mundo, provavelmente por razões políticas.
As Regulações Sanitárias Internacionais exigem dos países que
informem o risco de uma emergência sanitária dentro do prazo de 24
horas. Mas a China não informou à OMS sobre os casos severos de
pneumonia de origem desconhecida em Wuhan até 31 de dezembro de 2019, embora seja provável que tivessem conhecimento desses casos dias ou semanas antes.
De acordo com o Dr. Zhang Yongzhen, do Centro Clínico Público de
Shanghai, ele próprio contou às autoridades chinesas, em cinco de
janeiro de 2020, que havia sequenciado o genoma do vírus. Não havia
publicação dessa informação senão seis dias depois, em onze de janeiro
de 2020, quando o Dr. Zhang, de per si, postou a descoberta na internet.
No dia seguinte, as autoridades chinesas interditaram seu laboratório
para “retificações”. Até mesmo a OMS reconheceu a postagem do Dr. Zhang
como um grande ato de “transparência”. Mas a Organização tem estado
visivelmente calada tanto em relação ao fechamento do laboratório do Dr.
Zhang como em relação à sua afirmação de que ele havia notificado as
autoridades chinesas sobre sua descoberta seis dias antes.
A Organização Mundial da Saúde tem feito repetidas afirmações sobre o
coronavírus que são grosseiramente imprecisas ou enganosas.
Em 14 de janeiro de 2020, a OMS gratuitamente reiterou a agora
refutada tese da China de que o coronavírus não era transmissível entre
seres humanos, afirmando que “investigações preliminares
conduzidas pelas autoridades chinesas não encontraram evidências claras
de uma transmissão entre seres humanos do novo coronavírus (2019-nCov)
identificado em Wuhan, China”. Essa afirmação estrava em conflito direto com os relatórios censurados vindos de Wuhan.
Em 21 de janeiro de 2020, o presidente chinês Xi Jinping supostamente
pressionou você a não declarar o surto do coronavírus uma emergência. Você
cedeu a essa pressão no dia seguinte e disse ao mundo que o coronavírus
não configurava uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação
Internacional. Apenas uma semana depois, em 30 de janeiro de 2020, evidências acachapantes indicando o contrário forçou-o a mudar de curso.
Em 28 de janeiro de 2020, após encontro com o presidente Xi em
Pequim, você elogiou o governo chinês por sua “transparência” em relação
ao coronavírus, anunciando que a China havia estabelecido um “novo
padrão para o controle de surtos” e “deu tempo ao mundo”. Você
não mencionou que a China tinha, àquela altura, silenciado ou punido
diversos médicos por denunciarem o vírus nem mencionaram a restrição às
instituições chinesas de publicar informações sobre ele.
Mesmo após tardiamente declarar o surto uma Emergência de Saúde
Pública de Preocupação Internacional em 30 de janeiro de 2020, você
falhou em não pressionar a China pelo imediato acolhimento de uma equipe
de especialistas em medicina da OMS. Como resultado, essa equipe
emergencial não desembarcou na China senão duas semanas depois, em 16 de
fevereiro de 2020. E mesmo então, a equipe não foi autorizada a visitar
Wuhan até os dias finais de sua estada na China. Destaque-se que a OMS se calou quando a China negou a dois membros norte-americanos da equipe o pleno acesso a Wuhan.
Você, também, enalteceu as restrições que a China impôs sobre as
viagens domésticas, mas, inexplicavelmente, foi contra o meu fechamento
das fronteiros dos Estados Unidos, ou a proibição de ingresso, em
relação às pessoas vindas da China. Eu estabeleci a proibição de ingresso independentemente do seu desejo. O
seu jogo político nessa questão foi mortal, já que outros governantes,
confiando nas suas recomendações, demoraram em impor restrições que
teriam salvo vidas em relação a viagens para e da China.
Inacreditavelmente, em três de fevereiro de 2020, você reiterou sua
posição, opinando que, em razão de a China estar fazendo um grande
trabalho protegendo o mundo do vírus, as restrições de viagens estavam
“causando mais mal do que bem”. Ainda àquela altura o mundo soube que,
antes de fechar a cidade de Wuhan, as autoridades chinesas permitiram
que mais de cinco milhões de pessoas deixassem a cidade e muitas dessas
pessoas embarcaram para diversos destinos internacionais ao redor do
mundo.
Em 03 de fevereiro de 2020, a China estava pressionando países fortemente a suspender ou evitar restrições de viagem. Essa
campanha de pressão foi impulsionada pelas afirmações incorretas que
você fez naquele dia, dizendo ao mundo que a disseminação do vírus fora
da China era “mínima e lenta” e que “as chances da disseminação fora da China [eram] bem pequenas”.
Em 03 de março de 2020, a OMS citou dados oficiais chineses para minimizar o seríssimo risco de disseminação assintomática,
dizendo ao mundo que “a COVID19 não é tão transmissível como a
influenza” e que, diferentemente da influenza, essa doença não era
prioritariamente transmitida por “pessoas que estavam infectadas mas não
estavam ainda doentes”. A evidência chinesa que a OMS trouxe ao mundo,
“demonstrou que somente um por centro dos casos reportados não
apresentam sintomas, e a maioria deles desenvolvem sintomas dentro de
dois dias”. Muitos especialistas, entretanto, citando dados do Japão, da
Coreia do Sul e de outros países, questionaram fortemente essas
afirmações. Agora está claro que as afirmações da China, repetidas ao mundo pela OMS, estavam extremamente erradas.
Quando você finalmente declarou que havia uma pandemia do vírus, em
onze de março de 2020, ele havia matado mais de quatro mil pessoas e
infectado mais de cem mil pessoas em ao menos 114 países ao redor do
mundo.
Em 11 de abril de 2020, diversos embaixadores africanos informaram ao
Ministério de Relações Exteriores chinês a respeito do tratamento
discriminatório dispensado a africanos com relação à pandemia em
Guangzhou e outras cidades na China. Você estava ciente de que as
autoridades chinesas estavam implementando uma campanha de quarentenas
forçadas, despejos e negando serviços a cidadãos desses países. Você
não comentou sobre as ações de discriminação racial por parte da China.
Porém, sem base alguma, você rotulou como racistas as reclamações bem
fundamentadas de Taiwan sobre a má condução feita por você dessa
pandemia.
Durante toda essa crise, é curioso que a OMS venha insistindo em elogiar a China por sua suposta “transparência”. Consistentemente, você tem se somado a esses elogios, a despeito da China ter sido qualquer coisa menos transparente. No
começo de janeiro, por exemplo, a China ordenou a destruição de
amostras do vírus, desprovendo o mundo de informação essencial. Mesmo
agora, a China continua a minar as Regulações Sanitárias Internacionais
ao recusar-se a compartilhar dados precisos e de forma ágil, amostras
virais e isoladas e por reter informações vitais sobre o vírus e sua
origem. E, até hoje, a China continua a negar acesso
internacional a seus cientistas e laboratórios relevantes, isso tudo
enquanto segue ampla e imprudentemente culpando e censurando seus
próprios especialistas.
A OMS tem falhado em publicamente exigir da China que permita uma
investigação independente sobre as origens do vírus, apesar do recente
endosso dessa investigação pelo seu próprio Comitê de Emergência. A
falha da OMS em exigir essa investigação levou estados membros da OMS a
adotar a resolução “COVID-19 Response” na Assembleia Mundial da Saúde, a
qual ecoa a solicitação dos Estados Unidos e muitos outros por uma
pesquisa imparcial independente e abrangente de como a OMS lidou com a
crise. A resolução também pede por uma investigação sobre as origens do
vírus, a qual é necessária para o mundo saber a melhor forma de combater
a doença.
Talvez pior do que todas essas falhas é o fato de sabermos que a OMS poderia ter feito muito melhor. Poucos anos atrás, sob a direção de uma outra Diretora Geral, a OMS mostrou ao mundo o tanto que tem a oferecer. Em
2003, em resposta ao surto da SARS na China, a Diretora Geral Harlem
Brundtland anunciou corajosamente o primeiro aviso de emergência em
viagens da OMS em 55 anos, recomendando evitar viagens para o e do
epicentro da doença no sul da China. Ela também não hesitou em
criticar a China por ameaçar a saúde global ao tentar esconder o surto
através de seu expediente usual de prender quem denuncia algo e ao
censurar a imprensa.
Muitas vidas poderiam ter sido salvas se você tivesse seguido o exemplo da Dra. Brundtland.
Está claro que os seus repetidos erros e da sua organização na resposta à pandemia têm sido extremamente custosos ao mundo. O único caminho à frente para a OMS é se ela puder de fato demonstrar sua independência da China. Meu
governo já começou tratativas com você sobre como reformar a
Organização. Mas uma ação é necessária, rapidamente. Não temos tempo a
perder.
É por isso que é meu dever, como presidente dos Estados Unidos,
informar a você que, se a OMS não se comprometer com melhorias
substantivas nos próximos 30 dias, eu irei alterar para permanente o meu
congelamento temporário da contribuição dos Estados Unidos à OMS e irei
reconsiderar nossa filiação na Organização. Não posso permitir
que os dólares dos pagadores de impostos norte-americanos continuem a
financiar uma Organização que, no seu formato atual, claramente não está
servindo aos interesses dos Estados Unidos da América.
Atenciosamente,
Donald Trump
Fonte e créditos: Jornaldacidadeonline
Sem Deus. Religião só a oficial: materialismo e divindades comunistas
China força professores cristãos a renunciar à fé para que alunos sejam doutrinados segundo o comunismo
No esforço contínuo do governo comunista chinês para esmagar o
cristianismo dentro de suas fronteiras, os professores na China agora
estão sendo instruídos a renunciar à fé ou enfrentar as consequências.
O site Bitter Winter
relatou que esse movimento começou no país comunista logo após o
ditador Xi Jinping salientar em uma conferência nacional de educação que
a tarefa fundamental da educação é treinar construtores e sucessores do
socialismo. Desde o discurso de Xi há quase dois anos, a pressão sobre os professores para doutrinar os alunos vem aumentando.
Um exemplo é uma professora de jardim de infância, membro da Igreja
Católica estatal, que disse ao site que tinha medo de ir à igreja por
causa da crescente pressão que estava recebendo da administração da
escola. Ela disse ao Bitter Winter que é constantemente ameaçada
para desistir de sua fé nos últimos sete meses. Ela disse que recebeu
críticas de seus superiores, que incluem comentários como “alguns
professores continuam mantendo crenças religiosas enquanto o Partido
Comunista as alimenta”.
“O controle do Estado sobre a ideologia está se tornando cada vez mais rígido, particularmente no campo da educação”, disse a professora. “Se
os professores mantêm crenças religiosas, e não apenas seguem o Partido
Comunista, isso se torna um problema político para o governo”.
A diretora da professora também a alertou que o financiamento do
governo também poderia ser retirado do condado se funcionários do
governo soubessem sobre sua fé. O financiamento é concedido como parte de um Prêmio de Civilização Espiritual, concedido a comunidades designadas como “civilizadas”, isto é, ‘desenvolvidas economicamente e livres de religião”.
“Fiquei sabendo que outro município teve todos os seus prêmios de
“civilização” revogados porque uma equipe de inspeção descobriu dois
estudantes da escola primária cantando hinos cristãos”, disse a professora ao Bitter Winter.
“Os professores são obrigados a doutrinar as crianças com ideologia patriótica, fazê-las acreditar e elogiar o Partido”, continuou ela. “Além
disso, as escolas designaram pessoal especial para monitorar e relatar
professores e alunos religiosos. Eles foram instruídos a desistir de sua
fé, e alguns foram designados como alvos principais da vigilância das
autoridades, temendo que eles desenvolvam ‘influência
contrarrevolucionária, conspirem com forças estrangeiras e causem
caos'”.
Thaís Garcia - ConexãoPolítica
sexta-feira, 29 de maio de 2020
"Tem gente que é só passar pela gente
que a gente fica contente. Tem gente que sente o que a gente sente e
passa isto docemente. Tem gente que vive como a gente vive, tem gente
que fala e nos olha na face, tem gente que cala e nos faz olhar. Toda
essa gente que convive com a gente, leva da gente o que a gente teme
passa a ser gente dentro da gente. Um pedaço da gente em outro alguém."
quinta-feira, 28 de maio de 2020
Uma Nação só Vive porque Pensa
Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est. A força e a
riqueza não bastam para provar que uma nação vive duma vida que mereça
ser glorificada na História - como rijos músculos num corpo e ouro farto
numa bolsa não bastam para que um homem honre em si a Humanidade. Um
reino de África, com guerreiros incontáveis nas suas aringas e
incontáveis diamantes nas suas colinas, será sempre uma terra bravia e
morta, que, para lucro da Civilização, os civilizados pisam e retalham
tão desassombradamente como se sangra e se corta a rês bruta para nutrir
o animal pensante. E por outro lado se o Egipto ou Tunis formassem
resplandescentes centros de ciências, de literaturas e de artes, e,
através de uma serena legião de homens geniais, incessantemente
educassem o mundo - nenhuma nação mesmo nesta idade do ferro e de força,
ousaria ocupar como um campo maninho e sem dono esses solos augustos
donde se elevasse, para tornar as almas melhores, o enxame sublime das
ideias e das formas.
Só na verdade o pensamento e a sua criação suprema, a ciência, a literatura, as artes, dão grandeza aos Povos, atraem para eles universal reverência e carinho, e, formando dentro deles o tesouro de verdades e de belezas que o Mundo precisa, os tornam perante o Mundo sacrossantos. Que diferença há, realmente, entre Paris e Chicago? São duas palpitantes e produtivas cidades - onde os palácios, as instituições, os parques, as riquezas, se equivalem soberbamente. Porque forma pois Paris um foco crepitante de Civilização que irresistivelmente fascina a Humanidade - e porque tem Chicago apenas sobre a terra o valor de um rude e formidável celeiro onde se procura a farinha e o grão?
Porque Paris, além dos palácios, das instituições e das riquezas de que Chicago também justamente se gloria, possui a mais um grupo especial de homens -Renan, Pasteur, Taine, Berthelot, Coppée, Bonnat, Falguières, Gounot, Massenet - que pela incessante produção do seu cérebro convertem a banal cidade que habitam num centro de soberano ensino. Se as Origens do Cristianismo, o Fausto, as telas de Bonnat, os mármores de Falguières, nos viessem de além dos mares, da nova e monumental Chicago - para Chicago, e não para Paris, se voltariam, como as plantas para o Sol, os espíritos e os corações da Terra.
Se uma nação, portanto, só tem a superioridade porque tem pensamento, todo aquele que venha revelar na nossa pátria um novo homem de original pensar concorre patrioticamente para lhe aumentar a única grandeza que a tornará respeitada, a única beleza que a tornará amada; - e é como quem aos seus templos juntasse mais um sacrário ou sobre as suas muralhas erguesse mais um castelo.
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes' - Mantida a orotgráfia original
A solidão amiga
A noite chegou, o trabalho acabou, é
hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a
televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém
à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você
deseja é não estar em solidão...
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.
Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.
Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.
Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"
Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:
"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!
Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.
Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.
Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."
E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."
Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.
E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:
"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."
Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.
O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...
A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.
Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.
Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.
Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.
Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"
Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:
"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!
Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.
Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.
Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."
E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."
Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.
E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:
"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."
Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.
O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...
A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.
Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.
Rubem Alves
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