segunda-feira, 30 de setembro de 2019
domingo, 29 de setembro de 2019
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada…
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio…
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo…
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in “Infinito Pessoal”
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada…
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio…
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo…
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in “Infinito Pessoal”
sábado, 28 de setembro de 2019
O taxista Biela pegou uma corrida para o município de Montenegro. Pé
quente. Logo avisou ao passageiro que não conhecia o caminho, não tinha
ideia de onde ficava tal cidade. Sem problemas, sessenta e tantos
quilômetros de Porto Alegre, o passageiro foi indicando o caminho.
Chegando lá, dinheiro no bolso, Biela feliz, mas perdidão, não tinha
ideia de como voltar à Capital. De novo o passageiro deu a dica. Mostrou
a rodoviária:
- Espera sair um ônibus e siga atrás. Eles vão todos para Porto Alegre.
O taxista ficou atento. Um ônibus grande, lotado, fechou a porta e
partiu. Biela seguiu no encalço do coletivo. Deu azar, era uma linha
tipo pinga-pinga, parava em tudo que era vilarejo, mas o taxista seguia
firme, cada vez mais perdido, sem a menor ideia de onde estava. Para
aqui, para ali, entra numa cidade, entra em outra, o dia anoitecendo e
nada de chegar em Porto Alegre. Biela ficando agoniado, mas seguindo o
maldito ônibus, até que não suportou a ansiedade. Aproveitou uma das
tantas paradas e abordou o motorista.
- Amigo, eu sou taxista, estou seguindo o seu ônibus.
- Sim, eu percebi.
- Estamos muito longe da Capital? A que horas o senhor chega em Porto Alegre?
- Porto Alegre? Eu estou seguindo em direção a fronteira, Porto Alegre fica a 300km, no sentido contrário!
- Sim, eu percebi.
- Estamos muito longe da Capital? A que horas o senhor chega em Porto Alegre?
- Porto Alegre? Eu estou seguindo em direção a fronteira, Porto Alegre fica a 300km, no sentido contrário!
Biela foi colocado atrás de um outro ônibus, desta vez no sentido
certo. Chegou a Porto Alegre no meio da madrugada, o tanque do táxi
vazio, o prejuízo no bolso, mas finalmente em casa. Corrida para fora da
Capital nunca mais.
Mauro Castro
“É preciso escrever com as mãos limpas
o eco da poesia que corre
entre as margens de erro da vida;
e emendar o céu…
com o olhar simples
de quem apanha as estrelas distraídas
e voa, para que se abracem,
encurtando a distância
que, sob qualquer circunstância,
cabe inteira num poema.
Sem fragmentos, respiração suspensa
e uma história imóvel
entre os gracejos de um copo de vinho
que aviva veloz, a memória da tua voz
doce e calma a léguas de mim…
É preciso corrigir a lonjura sempre que chove
e o dilúvio da cidade solitária se abate sobre os nossos corações.
… escorrem as emoções, ao sul
desaguando no mar azul
que te traz…
e só termina nos meus olhos.”
Rita Nascimento
o eco da poesia que corre
entre as margens de erro da vida;
e emendar o céu…
com o olhar simples
de quem apanha as estrelas distraídas
e voa, para que se abracem,
encurtando a distância
que, sob qualquer circunstância,
cabe inteira num poema.
Sem fragmentos, respiração suspensa
e uma história imóvel
entre os gracejos de um copo de vinho
que aviva veloz, a memória da tua voz
doce e calma a léguas de mim…
É preciso corrigir a lonjura sempre que chove
e o dilúvio da cidade solitária se abate sobre os nossos corações.
… escorrem as emoções, ao sul
desaguando no mar azul
que te traz…
e só termina nos meus olhos.”
Rita Nascimento
Um doido varrido
Às vezes temos revelações inesperadas décadas depois.
Há um sujeito casado com uma colega da
mãe dos meus filhos. Por algum motivo, nestes mais de 20 anos
pós-separação, eu cruzava muito com ele. Ele ou me cumprimentava
efusivamente ou me ignorava por completo.
Eu achava que ele era de lua ou tinha um parafuso a menos.
Hoje, na saída do cinema, esgueirando-se
entre as pessoas, passaram em fila a colega — oi, tudo bem? –, o tal
sujeito — que me ignorou, agindo verdadeiramente como um grosso — e uma
cópia idêntica dele — que me cumprimentou alegremente — oi, Milton, tudo
bem, sempre no cinema ou com um livro na mão, hein? Ele até me abraçou e
bateu nas minhas costas.
Pois é, o cara tem um irmão gêmeo com o mesmo corte de cabelo e tudo. E eu pensando que ele fosse doido varrido.
Milton Ribeiro
Como eu te amo
Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;
Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,
Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:
Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
Gonçalves Dias
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;
Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,
Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:
Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
Gonçalves Dias
Frase
É bem difícil descobrir o que gera a felicidade; pobreza e riqueza falharam nisso.
Minha culpa
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem Sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
A MINHA "RÁDIO"
(Trecho de uma crônica minha, cujo título é: “Professor, por Acaso”)
A mim, ao caçula, quase tudo era permitido (menos jogar bola!). Resolvi, então, montar o “studio” (na época era pecado falar estúdio) de uma “rádio” num quartinho lá de trás (foi lá que aprendi a gostar de ler).
Meu quartinho era o ideal. “Montei”, então, minha “rádio”.
O microfone era um saleiro, pendurado a um arame que, por sua vez, era pendurado ao telhado. Nas paredes, prateleiras exibindo disquinhos de papel, envoltos com embalagens transparentes de cigarros. Os disquinhos eram conseguidos, sobretudo, nas capas da revista Contigo, que traziam réplicas perfeitas dos LPs. e compactos lançados na época.
Dei muito trabalho a minha mãe, com essa “rádio”. O quarto era empoeirado, cheio de livros, e havia, também, uma caranguejeira grande, para quem eu olhava com muito medo, mas não ousava pedir ajuda a ninguém, sob pena de minha “rádio” ser desmontada.
A minha “rádio” era “perfeita”. Apesar de ter apenas 8 anos, dividia a programação direitinho. A “rádio” tinha noticiários, programas de diskjóquei, programas de esporte e atendia a muitos ouvintes imaginários. Quem sabe, Waldízia, filha de Dudu Viola, não iria ligar para mim?
Mas por que dei trabalho à minha mãe?
Acontece que a poeira, os livros, as traças, o fato de ficar falando o dia todo (o horário de minha rádio era das 13 – eu estudava de manhã – às 18) irritavam minha garganta; sobretudo as amígdalas (o médico um dia até ameaçou operar), e... coitada da minha mãe! Uma vez por mês, tinha que ir ao Samdu, às cinco da manhã, tirar ficha para que, somente às nove, eu fosse atendido, e o médico passasse (invariavelmente!) Tetrex líquido. Eu perguntava à minha mãe: “Por que a senhora não me dá o Tetrex, sem precisar desse sofrimento?”.
Minha mãe, austera, como sói acontecer aos Cavalcanti:
- Não. Só com receita médica.
Na época a que estou me referindo, não havia diferença entre jornalista e radialista. O jornalista era radialista e vice-versa. Não havia essa tal “habilitação” dentro do curso de Comunicação Social. Aliás, nunca consegui entender como é que o sujeito vai ter que “optar” entre falar e redigir. Coisas da ditadura militar, que foram absorvidas pelo regime “democrático”.
João Trindade
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
A lágrima
– Faça-me o obséquio de trazer reunidos
Cloreto de sódio, água e albumina…
Ah! Basta isto, porque isto é que origina
A lágrima de todos os vencidos!
Cloreto de sódio, água e albumina…
Ah! Basta isto, porque isto é que origina
A lágrima de todos os vencidos!
-“A farmacologia e a medicina
Com a relatividade dos sentidos
Desconhecem os mil desconhecidos
Segredos dessa secreção divina”
Com a relatividade dos sentidos
Desconhecem os mil desconhecidos
Segredos dessa secreção divina”
– O farmacêutico me obtemperou. –
Vem-me então à lembrança o pai Yoyô
Na ânsia física da última eficácia…
Vem-me então à lembrança o pai Yoyô
Na ânsia física da última eficácia…
E logo a lágrima em meus olhos cai.
Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu Pai
Do que todas as drogas da farmácia!
Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu Pai
Do que todas as drogas da farmácia!
Augusto dos Anjos
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
Sofredora
Cobre-lhe a fria palidez do rosto
O sendal da tristeza que a desola;
Chora – o orvalho do pranto lhe perola
As faces maceradas de desgosto.
O sendal da tristeza que a desola;
Chora – o orvalho do pranto lhe perola
As faces maceradas de desgosto.
Quando o rosário de seu pranto rola,
Das brancas rosas do seu triste rosto
Que rolam murchas como um sol já posto
Um perfume de lágrimas se evola.
Das brancas rosas do seu triste rosto
Que rolam murchas como um sol já posto
Um perfume de lágrimas se evola.
Tenta às vezes, porém, nervosa e louca
Esquecer por momento a mágoa intensa
Arrancando um sorriso à flor da boca.
Esquecer por momento a mágoa intensa
Arrancando um sorriso à flor da boca.
Mas volta logo um negro desconforto,
Bela na Dor, sublime na Descrença.
Como Jesus a soluçar no Horto!
Bela na Dor, sublime na Descrença.
Como Jesus a soluçar no Horto!
Augusto dos Anjos
Sexo por comida
O general Augusto Heleno espantou-se com a repórter policial da Folha
de S. Paulo, segundo a qual não haveria miseráveis e pedintes nas ruas
da Venezuela.
A própria Folha de S. Paulo, em editorial, desmentiu-a:
“Se nações fracassam, está aí a Venezuela chavista a reforçar a hipótese.
De 2014 para cá, a economia do
país encolheu 60%. Se a derrocada continuar, o que é provável, chegará a
2022 reduzida a um terço do que era uma década antes. A inflação anual atinge 10 milhões por cento: os preços dobram ao ritmo das epidemias, a cada 22 dias.
Espalham-se doenças que se julgavam controladas, como a difteria. Nos hospitais, as faltas de energia matam pacientes. Outros, como portadores do HIV, morrem porque não há medicamentos.
Pessoas pobres passam dez horas por dia na fila para obter alimento, e a subnutrição campeia. Meninas trocam sexo por comida, e a gravidez juvenil dispara. Quatro milhões de venezuelanos, quase 15% da população, já fugiram do país, segundo estimativas.”
O Antagonista
terça-feira, 24 de setembro de 2019
Vítima do dualismo
Ser miserável dentre os miseráveis
— Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!
— Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!
Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!
Psiquê biforme, o Céu e o Inferno absorvo…
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,
Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!
Augusto dos Anjos
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
Despedida
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
Simultaneidade
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.
- Você é louco?
- Não, sou poeta.
domingo, 22 de setembro de 2019
Cerca de um terço dos neandertais tinha alguma deficiência
Dos 50 esqueletos de neandertais desenterrados em todo o mundo, cerca de um terço tinha algum tipo de deficiência.
Muitas das exibições em museus que mostram neandertais fortes e
saudáveis são enganosas, pois de acordo com evidências arqueológicas,
eles mais pareciam ter saído de uma guerra.
Segundo Penny Spikins, arqueóloga da Universidade de York, dos 50
esqueletos de neandertais desenterrados em todo o mundo, cerca de um
terço tinha algum tipo de deficiência.
“Por um lado, os neandertais eram saudáveis porque andavam muito por aí.” Disse Spikins.
“Mas há uma taxa de lesões muito
alta, além da desnutrição, então quase todos os esqueletos tem sinais de
ferimentos graves ou doenças apenas por causa do estilo de vida que
eles levavam.”
Exemplos de neandertais deficientes incluem o ‘Shanadar Man’, um homem de 40 a 50 anos encontrado em uma caverna no Iraque.
Ele tinha um braço e uma perna murchos, estava cego de um olho e provavelmente surdo.
Eles viviam em sociedades móveis, e a sobrevivência era difícil, há evidências de muitos períodos de fome.
Há um outro exemplo também, de Lachapelle aux Saints, na França, um
homem neandertal que tinha artrite severa que devia ter sido cuidada por
pelo menos seis meses, o que sugere que os neandertais estavam muito
motivados a cuidar uns dos outros.
Se levarmos esse último caso em consideração, podemos observar que os
cuidados e a assistência à saúde são mais antigos do que pensávamos,
datam aproximadamente 1,5 milhão de anos atrás, pelo menos 17 dos 50
esqueletos neandertais analisados revelam evidências de que eles
cuidavam de indivíduos doentes ou feridos.
FONTE / Daily Mail
Táxi getulista
O presidente Getúlio Vargas queria fincar o PTB em solo paulista e
mandou a sobrinha Ivete Vargas se candidatar a deputada federal por São
Paulo.
Eleita com o peso do sobrenome ilustre, ela pegou um avião e seguiu para a capital do Estado. Ao desembarcar, um jornalista logo a provocou:
“Como explica votação tão expressiva conhecendo São Paulo tão pouco?”
Ela respondeu: “Deve haver algum engano de sua parte. Eu fui candidata a deputada federal e não a chofer de táxi…”
Eleita com o peso do sobrenome ilustre, ela pegou um avião e seguiu para a capital do Estado. Ao desembarcar, um jornalista logo a provocou:
“Como explica votação tão expressiva conhecendo São Paulo tão pouco?”
Ela respondeu: “Deve haver algum engano de sua parte. Eu fui candidata a deputada federal e não a chofer de táxi…”
DiáriodoPoder
O Senado Federal e a Ditadura do STF
Há quem, diante dos problemas do país, intimado a reagir, proclame como sublimando sua cidadania: “Faço mais nada, cansei”. A
energia cívica durou até a eleição? Não resiste o enfrentamento com a
oposição? Subestimava, tanto assim, os interesses contrariados?
Os corruptos e os corruptores, os que contam bandidos mortos e não contam suas vítimas, os jornalistas a serviço “da causa”, os “intelectuais”
cuja fonte secou, os professores de narrativas ensaiadas, os abortistas
e ideólogos de gênero não cansaram, não chutaram o balde e não mudaram
de vida. Jamais!
A política, principalmente numa democracia instável como a nossa, não é um jogo que se assiste. É um jogo que se joga! Não faz sentido à cidadania ser exercida da arquibancada, entre os bocejos dos entediados. Não
cabem, não hoje, não agora, neutralidades de observador forasteiro, sem
interesse no resultado do jogo, sem conhecimento de que há um
campeonato cujo resultado impactará a vida de todos. Esse tipo de alheamento, sim, cansa!
Muitos brasileiros, com razão, perderam a confiança nas instituições, notadamente em relação ao Congresso Nacional e ao STF. O compadrio tem sido evidente. Uma mão lava a outra; ambas, porém, não lavam a imagem refletida no espelho. Simultaneamente,
poderosos setores da imprensa, para os quais “anormal” é o Presidente,
buscam aparentar normalidade institucional mesmo quando o Congresso vota
uma lei que vai inibir a persecução criminal, ou aumentar verbas
partidárias, ou perdoar multas aplicadas pela Justiça Eleitoral. Até o velho realismo cínico do “é dando que se recebe”,
graças ao qual centenas de parlamentares condicionam seus votos a
favores oficiais, recebeu um polimento midiático e passou a ser
demandado como desejável e normal “capacidade de interlocução”.
Não! Isso é um escândalo. E note-se bem: na avaliação desse tipo de
conduta, não se sonegue a informação de que nosso sistema de governo é
ficha suja e, como tal, concede vantagem a quem dele se vale para tais
práticas.
Estou convencido de que, hoje, nenhuma atitude política é mais
relevante do que dar força a grupos parlamentares que se articulam para
um upgrade nos padrões de conduta do Congresso Nacional. Refiro-me de
modo especial ao Muda Senado, cujos atuais 21 membros organizam-se para
forçar a Casa e, especialmente seu presidente, Davi Alcolumbre, a
cumprir seus deveres democráticos e regimentais. Só o Senado tem o
poder de reagir à ditadura do STF, seus desmandos, sua abusiva
interferência na vida nacional, sua acintosa irreverência aos valores
cultivados pelas famílias brasileiras e julgar a suspeitíssima conduta
de alguns de seus membros, tantas vezes denunciados perante os
silenciosos arquivos do nosso Senado.
O Muda Senado agendou grande mobilização popular para Brasília, no próximo dia 25 de setembro. Tão
importante quanto o comparecimento de quantos possam é a pressão dos
cidadãos sobre os senadores que desejam a eterna inviolabilidade dos
arquivos onde Eunício de Oliveira, Renan Calheiros e Davi Alcolumbre têm
sepultado todas as acusações formuladas contra ministros do STF. Têm
explicações a dar aos eleitores de seus Estados. Querem eles que o
Senado continue exatamente como está? Omisso? Escorando esse STF? Têm
companheiros a proteger na Suprema Corte? São coniventes com a ditadura
do Judiciário? Com a palavra os outros 60 senadores e seus eleitores.
Percival Puggina
Envelhecer
Antes, todos os caminhos iam. Agora todos os caminhos vêm. A casa é acolhedora, os livros poucos. E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
– Mario Quintana, in: Sapato Florido, 1948.
– Mario Quintana, in: Sapato Florido, 1948.
sábado, 21 de setembro de 2019
Se
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar –sem que a isso só te atires,
De sonhar –sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais –tu serás um homem, ó meu filho!
Rudyard Kipling
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar –sem que a isso só te atires,
De sonhar –sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais –tu serás um homem, ó meu filho!
Rudyard Kipling
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
Os limites da inteligência artificial no Direito
A importância da IA no Direito, (resolução de problemas jurídicos mais
corriqueiros e simples), sem menosprezar o argumento ora defendido
segundo o qual a IA artificial não pode se prestar à solução jurídica de
questões mais complexas, intrincadas e peculiares.
Nos
dias atuais, tem sido recorrente, principalmente nas mídias escrita e
falada, a afirmação de que a inteligência artificial poderá vir a
substituir a atividade humana em todos (para alguns mais extremados) ou
quase todos quadrantes da vida em sociedade.
No
que diz respeito ao Direito, tema do presente artigo, ousamos divergir
da afirmação de que a inteligência artificial, mesmo num futuro
distante, substituirá totalmente o labor dos operadores do Direito, a
saber, juízes, promotores, procuradores, advogados, etc.
Dizemos
isso com amparo na constatação fática de que a atividade jurídica é
complexa e multifacetada, não se reduzindo à inteligência lógica e
pragmática que emana dos robôs e das máquinas.
Não
se pode deixar de reconhecer o progresso advindo da aplicação da IA no
Direito. Com efeito, os operadores do Direito podem sim louvarem-se na
AI para dar cabo de uma miríade de processos, ações, petições, etc, que
lhes acorrem, tudo isso com eficiência e produtividade ímpares.
Ao
nosso ver isso já está ocorrendo notadamente em casos ou situações
corriqueiras e mais simples, não revestidas de complexidades ou
peculiaridades.
Essa
constatação, de outro lado, não nos autoriza a dizer, de revés do que
pensam algumas pessoas menos avisadas, que a IA poderá abarcar
empiricamente, mesmo num futuro menos próximo, a totalidade do fenômeno
jurídico, este dotado de grandes complexidades e intrincamento.
Efetivamente,
nessa linha de raciocínio, é importante explicitar três dimensões da
condição humana, que apartam a máquina do homem: o logos, que significa a
inteligência ou razão humana; o phatos, vale dizer, os sentimentos e
paixões humanas; e o virtus, componente ético ou moral das ações
humanas.
Assim
- sem prejuízo da utilização da IA nas questões jurídicas mais simples
ou corriqueiras, o mesmo não acontecendo com aquelas impregnadas de
particularidades e complexidades, e que reclamam a presença do logos, da
razão (não a razão pragmática de que dotados os equipamentos de IA), do
phatos (sentimentos e paixões), que não é compatível com a IA, bem
assim do virtus, este revelador de comportamentos éticos e morais só
existentes no ser humano -, é imperioso reconhecer que o fenômeno
jurídico, por envolver aspectos racionais, sentimentais e morais, não
pode se circunscrever à utilização da inteligência artificial.
Nessa
esteira, tomemos como exemplo as questões forenses de família. Sem
prejuízo de tantas outras onde emergem, visivelmente, os aspectos
racionais, sentimentais e morais, para afirmar, sem a menor dúvida, que a
AI é impotente para resolvê-las de forma adequada e justa.
Cabe
– nos assinalar, por outro lado, que os cursos jurídicos , inclusive os
de pós-graduações, que quase sempre foram afeitos puramente à
dogmática jurídica, estão atualmente, mesmo que de forma insipiente,
revendo seus currículos para introduzir o estudo da filosofia,
sociologia, ética, ciência política, etc, de modo a poder solver as
questões jurídicas que medram nas sociedades extremamente complexas
como as da atualidade.
Desse
modo, é forçosa a conclusão de que a IA não está dotada, em
profundidade, de aportes sociológicos, filosóficos e éticos, de molde a
poder resolver de forma justa e adequada as questões jurídicas
submetidas ao seu crivo.
Acresce
ao que vem de ser exposto, sob outro prisma, o argumento de que,
segundo o jusfilosofo Hans Kelsen, em sua obra Teoria Pura do Direito,
Armênio Amado – Editora Coimbra, 1984, pags 463 a 473, a interpretação
jurídica não é só ato de conhecimento, mas sim sobretudo ato de vontade.
Com
efeito, os modelos normativos (a Constituição , as leis, etc.)
apresentam ao intérprete e aplicador do Direito mais de uma
possibilidade de interpretação, cabendo a eles, sobretudo em face dos
conteúdos ou conceitos indeterminados e plurissignificativos dos textos
da legislação , a escolha, no exercício de ato vontade, da alternativa
que mais lhes pareça acertada e justa.
Assim,
como as máquinas ou os robôs não têm vontade, resulta claro que deixar
ao alvedrio da IA a resolução de conflitos complexos e dotados de
peculiaridades é empobrecer e a apequenar, por demais, a atividade
jurídica.
Além
do mais é preciso registrar, por outro lado, na linha do pensamento do
filósofo Gadamer, na sua obra Verdade e Método I, Ed. Vozes, 8ª edição,
que em todo ato de interpretação emerge a pré – compreensão do
intérprete , esta fundada em suas, dele intérprete, tradições, valores,
cultura, costumes , etc , nele enraizados.
Por
óbvio que a IA, a par de não ter vontade na interpretação do Direito,
com mencionado, não pode ter, ademais, valores, tradições, costumes (pré
– compreensão), o que frustra um sadio ato de interpretação do Direito.
Além
de tudo isso, soma-se o argumento de que, para efeito da
responsabilidade civil e penal, os atos decorrentes do uso da IA não
podem ser dolosos os culposos, na medida em que as máquinas não possuem
intenção.
Nesse
particular, mister se faz a elaboração de legislação densa e minuciosa
vocacionada para coibir os abusos e desvios no manejo da IA, mediante a
imputação de responsabilidade civil e penal a terceiros, a exemplo de
fabricantes e produtores da IA.
Ademias, os limites da utilização da IA devem ser precedidos de ampla discussão ético – jurídica.
Por
outro lado, não é demasia lembrar que o fenômeno da política -
entendida esta como o exercício do poder político pelos poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário - é, de igual forma que o jurídico,
dinâmico, rico , complexo e multifacetado, sendo certo que o Direito
significa - para alguns juristas renomados, como o saudoso professor JJ
Calmon de Passos, em sua obra "Direito, Poder, Justiça e Processo,
Revista Forense, 1999 - um discurso do poder político, vale dizer, se
presta a instrumentalizar as decisões emanadas dos poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário.
Em
sendo assim, é dizer, o Direito como o mais eminente instrumento do
poder político, forçosa deve ser a conclusão de que ambos (direito e
política) estão umbilicalmente relacionados, sendo certo afirmar-se ,
nesse diapasão, que a IA não é meio idôneo para compreender a
correlação entre política e Direito, caso contrário estaríamos diante da
possibilidade de empobrecimento de ambos.
Para
finalizar, podemos realçar a importância da IA no Direito, (resolução
de problemas jurídicos mais corriqueiros e simples), sem menosprezar o
argumento ora defendido segundo o qual a IA artificial não pode se
prestar à solução jurídica de questões mais complexas, intrincadas e
peculiares.
_________
*Gustavo Hasselmann é advogado e procurador do município de Salvador/BA
As três experiências
Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha
vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar
meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para
mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha
vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso
perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única
salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às
vezes receber amor em troca.
E nasci para escrever. A palavra é o
meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que
me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por
quê, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu
precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o
aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que
não sei estudar. E, para escrever o único estudo é mesmo escrever.
Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a
língua em meu poder. E no entanto cada vez que vou escrever, é como se
fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa
capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu
chamo de viver e escrever.
Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser
mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos
estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu
acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível
dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma
descendência e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei
que um dia abrirão as asas para o voo necessário, e eu ficarei sozinha. É
fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os criamos
para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei cumprindo o destino
de todas as mulheres.
Sempre me restará amar. Escrever é alguma
coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um
dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo e que eu devo
aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao
passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se
o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me
espera.
Espero em Deus não viver do passado. Ter sempre o tempo presente e, mesmo ilusório, ter algo no futuro.
O
tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar, mas ao mesmo tempo
viver como se esta minha vida fosse eterna. E depois morrer vai ser o
final de alguma coisa fulgurante: morrer será um dos atos mais
importantes da minha vida. Eu tenho medo de morrer: não sei que
nebulosas e vias lácteas me esperam. Quero morrer dando ênfase à vida e à
morte.
Clarice Lispector
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