sábado, 31 de agosto de 2013
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Centenas de pessoas formam a frase 'Reduzir para metade a pobreza 2015', em Sydney (Austrália); o evento foi realizado pelo eleitorado de Tony Abbott, líder da oposição conservadora.
Padre engravidou namorada e anuncia durante a missa que vai casar com ela
A última das três missas do domingo celebradas pelo padre Gerônimo Moreira,
de 32 anos, na Igreja Matriz de Gavião, interior da Bahia, surpreendeu os
fiéis.
Ao fim da cerimônia, Moreira começou a ler uma carta na qual se despedia da
igreja para "assumir a paternidade e a vida familiar".
Pouco depois, o padre publicou a carta em sua página no Facebook.
A decisão veio depois de a namorada do padre, funcionária pública no
município de Conceição do Coité, vizinho de Gavião, Emília Carneiro, de 23 anos,
contar ao religioso que estava grávida.
A descoberta foi feita em maio e, segundo o padre, desde lá os dois entraram
em crise.
"Assumi a paternidade, mas tinha muito medo da reação das pessoas da
comunidade e da família dela".
Moreira conta que conheceu Emília ainda durante seu seminário, em 2007, e que
eles desenvolveram uma "amizade especial", baseada em telefonemas e mensagens de
texto.
Em 2011, depois de Moreira assumir a paróquia de Gavião, ela passou a
frequentar as missas no local.
O primeiro beijo, porém, só foi dado no ano passado.
"No primeiro momento, veio a sensação de que aquilo era um erro, que não
deveria ter acontecido, mas depois a vontade de ficar junto foi ficando
maior."
Nas redes sociais, o padre recebeu homenagens e mensagens de apoio de
funcionários e frequentadores da paróquia. "Fiquei muito emocionado no dia da
despedida, com o carinho das pessoas ainda na igreja, e com as manifestações de
apoio que tenho recebido desde minha decisão", disse ele.
Aos três meses de gravidez, o casal planeja se mudar para Feira de Santana,
onde mora um irmão de Moreira.
O ex-padre começou a fazer bicos como pedreiro e planeja fazer faculdade de
engenharia. Diz que quer se casar com Emília na igreja, mas depende de
autorização do papa para isso.
Fontes: Agência Estado
Blog do Tião Lucena
As Mulheres e a Vida contemporânea
Já notaram que se fala muito de “mulher contemporânea” em nossos dias e muito menos em homem contemporâneo? Pois é, as mulheres estão em alta. Vemos uma tendência geral crescente de valorizar o lugar das mulheres na sociedade. Esta tendência nasce das próprias demandas e necessidades das mulheres. Alguns homens capazes de pensar em termos de “reconhecimento” até aderem e defendem as mulheres, sua competência no trabalho, seus direitos em geral. Muitos homens pensam que as mulheres devem ter direitos assegurados como os dos próprios homens. Diria que esse é o “homem” contemporâneo. Um homem que ultrapassou o desejo de dominação. É bom para os próprios homens que pensem assim. Mas é fato que se as próprias mulheres não defendessem seu lugar e seus direitos, eles não fariam nenhum sentido.
Alguém que ainda não analisou a questão historicamente falando pode se perguntar: “por que isso está acontecendo agora?”. Ora, não foi de repente que as mulheres começaram a se ocupar de suas próprias questões e passaram a construir um mundo onde haja espaço para elas. Antes, digamos que há meio século atrás, as mulheres viviam para a família e para seus maridos, correspondiam às expectativas dos homens, hoje elas são muito mais capazes de viver para si mesmas. Mesmo aquelas que escolhem casar e ter filhos não abdicam tão facilmente de si mesmas. Tentam equilibrar trabalho e família.
Pesquisadores dizem que esse desejo de dar conta das duas causas (família e trabalho) é muito brasileiro. Em outros países, ou as mulheres trabalham ou tem filhos. Isso se explica, aliás, pelo fato de que no Brasil, as mulheres da classe média podem contar com o trabalho barato de mulheres de classes menos favorecidas. Na Europa ninguém consegue uma babá senão a preço de ouro. Isso desglamoriza um pouco o sucesso profissional e familiar da mulher brasileira, é verdade. Mas, muito melhor, nos dá o senso de uma verdade que implica a desigualdade de classes. Nenhum feminista que se preze pode esquecer esse fato, sob pena de mistificar as conquistas femininas como se elas não se dessem nos limites dos contextos sociais e históricos.
Mesmo assim, ainda estamos no quadro da valorização das mulheres como era impossível em outras épocas. Esta valorização é evidentemente “autovalorização”. Hoje em dia, quando conhecemos uma mulher que não trabalha fora de casa, que não tem projeto profissional, somos capazes de olhar com estranheza para tal postura. Por mais que em nossa época as pessoas infelizmente vivam sob o jugo do poder do capital, há, na contramão, para as mulheres, uma expectativa de realização pessoal por meio de projetos de vida. Isso, é preciso enfatizar, vale muito mais para as mulheres do que para os homens. Dos homens ainda se espera que sejam provedores, que paguem as contas, que cumpram um papel no campo do poder e da hierarquia. Os poucos surge também a preocupação com a realização do homens. Mas ainda é rara diante da força do papel hierárquico que, a propósito, muitos deles também já não desejam.
O feminismo irônico da mulher contemporânea
Mas é verdade que enquanto o patriarcado põe todo mundo sob seu jugo, uma revolução vem acontecendo, às vezes mais silenciosa, às vezes mais falante. O que chamo de patriarcado é a lógica da “dominação masculina”. Ela não faz bem a ninguém, mas está ainda em voga na violência contra a mulher (seja doméstica, seja na mídia), e também na homofobia. A revolução é há muito tempo o feminismo que cresce como lógica interna da sociedade democrática que exige cada vez mais liberdade de ser e estar.
Essa liberdade de ser e estar é a maior ofensa ao patriarcado que se impõe com todo o peso possível. Um peso que perde terreno se suas “vítimas” se contrapõem a ele em uma luta de vida e morte tal como, tantas vezes, fazem as diversas modalidades de feminismos. Mas o patriarcado é vencido também pelo cansaço, por aquilo que podemos chamar um feminismo irônico. O feminismo irônico não é estressado nem histérico. Ele é divertido. E muitas vezes quieto. Vejamos um exemplo interessante: é muito comum que em uma família as filhas mulheres possam estudar, mas que no fundo, se espera delas que casem com um bom marido e tenham filhos. Nesse campo é que as mulheres muitas vezes surpreendem justamente por que não se esperava muita coisa delas. Elas aproveitam que foram esquecidas e fazem o que querem na vida pessoal e no trabalho. Realizam-se como pessoas e profissionais sem se importar com o que os outros vão pensar. Aproveitam o vão onde não estão sendo observadas e seguem em frente.
Um outro lado da questão que começa a surgir no campo do feminismo irônico que é, ao mesmo tempo, orgânico. Quando as mulheres falam em seu próprio trabalho não esperam apenas pagar contas e fazer sucesso segundo os padrões do capital, mas esperam estar se realizando como seres que são capazes de mudar o seu próprio mundo e o mundo ao seu redor. Tantas artistas, ativistas, empreendedoras sociais existem em nosso tempo que vemos a criatividade como uma marca feminina no campo do trabalho.
Se há alguma diferença no modo de pensar das mulheres que em nossa época surgem em busca de direitos, creio que seja esta. As mulheres querem “ser” algo muito diferente do que os homens foram. Tendo a apostar que a cultura cooperativa e colaborativa tem a ver com esse desejo que nasceu no projeto feminista há 200 anos na forma de luta pelos direitos da “humanidade” como um todo. Humanidade na qual devem estar inclusas todas as pessoas independente de características biológicas ou fenótipos, independentemente de suas escolhas e destinos, inclusive as escolhas e experiências sexuais que hoje em dia vão para além do binômio “mulher” e “homem” e põem em cena a expressão de singularidades diversas.
Pertencer a seu tempo, ser dona de seu próprio tempo
Alguém poderá dizer que essa autovalorização e esse desejo de realização é uma questão de classe social. E que as mulheres de classe média e mais escolarizadas se envolvem com um tipo de liberdade que não é comum entre as classes menos favorecidas. Não é verdade, a tendência de lutas pelos direitos ou a mera consciência de si cresce entre as mulheres em todas as esferas. E é preciso fomentar essa liberdade. Conheço uma moça que é manicure, ou seja, pertence a classe social trabalhadora. Ela é mãe de três garotas jovens, ficou viúva, envolveu-se com outro homem e teve mais um filho. Trabalha muito e cria seus filhos todos. O pai do menino mais novo quer casar com ela. Mas ela não quer casar com ele. E quando pergunto a ela o motivo, ela sempre responde que ela ama a própria solidão, que ela precisa do seu próprio tempo.
Achei revelador ela dizer que precisa de seu próprio tempo.
Conto o exemplo dessa moça de quarenta e poucos anos porque me parece um ótimo caso para pensarmos na descoberta da liberdade de ser e estar. A nossa personagem é uma moça que é do seu tempo por que quer ter seu próprio tempo. A meu ver essa é a característica comum das mulheres contemporâneas. Há ainda muitas mulheres que se submetem ao patriarcado, que tentam agradar não apenas aos homens, mas a toda a moral masculinista, que sonham com um casamento ideal e a maternidade como se este fosse um objetivo de vida. Mas muitas outras já desconstruíram esse paradigma e defendem a liberdade de cada uma a partir da defesa da liberdade pessoal. Por isso, vemos tantas mulheres que ainda querem casar, ter filhos, etc. e outras tantas que não desejam fazer nada disso. Muitas mulheres hoje adoram crianças sem terem se casado, outras tantas casam e optam por não ter filhos. Outras tantas descobrem na homossexualidade uma vida mais feliz.
Todas elas rompem com o padrão de subjugação que sempre fez tantas mulheres infelizes. Isso significa que encontram a liberdade que não pode ser realizada por ninguém, senão por elas mesmas.
Isso significa ser uma mulher contemporânea: ser dona do seu próprio tempo respeitando o tempo de cada uma, respeitando primeiramente a si mesma.
Márcia Tiburi
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
A Falsa Polidez
As ofensas, que na verdade consistem sempre na exteriorização da falta de consideração, colocar-nos-iam bem menos fora de nós mesmos se, por um lado, não nutríssimos uma representação tão exagerada do nosso elevado valor e da nossa dignidade - portanto, um orgulho desmesurado - e, por outro, se estivéssemos bastante cientes daquilo que, via de regra, no fundo do coração, cada um crê e pensa dos outros.
Que contraste flagrante entre a susceptibilidade da maioria das pessoas à mais ténue alusão de censura a seu respeito, e aquilo que ouviriam de si, caso surpreendessem as conversas dos seus conhecidos! Deveríamos, antes, ter em mente que a polidez habitual é apenas uma máscara burlesca; desse modo, não gritaríamos tão alto todas as vezes que esta fosse deslocada ou retirada por um breve instante. Todavia, quando se torna de facto rude, é como se tivesse despido todas as suas roupas e se postasse de nós in puris naturalibus (nu em pêlo). Decerto, assim o fazendo, desempenha uma figura bastante feia, como a maioria dos homens nesse estado.
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
A mais nova gafe de Maduro: ‘Cristo multiplicou os pênis’
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, adicionou mais um item à sua lista
de frases inesquecíveis. Autor de expressões curiosas e deliberadas (como quando
comentou que seu antecessor e padrinho político, Hugo Chávez, havia reencarnado
em um “pequeno passarinho”), na terça-feira ele cometeu um deslize ao afirmar
que Cristo “multiplicou os pênis” ao invés de pães (panes, em espanhol).
Constrangido, Maduro se corrigiu logo em seguida. O ato falho aconteceu
durante um compromisso de campanha, quando ele fez alusão a uma passagem da
Bíblia.
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O Globo
Câmara dos Deputados livra Natan Donadon de cassação
A Câmara dos Deputados livrou de cassação o deputado federal Natan Donadon
(sem partido/RO, foto acima) — condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias por
peculato e formação de quadrilha. Na noite desta quarta-feira, 28, dia em que o
deputado completou dois meses preso no Complexo Penitenciário da Papuda, a
votação sobre a perda do mandato teve 233 votos a favor, 131 contra e 41
abstenções, mas eram necessários 257 votos para a cassação, o que configuraria a
maioria dentro do total de 513 parlamentares da Casa. O voto nesse tipo de
sessão é secreto.
Diante da situação, presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
considerou o deputado afastado do cargo e decidiu convocar o suplente de Donadon
para assumir a função enquanto ele estiver preso.
Daiene Cardoso, Estadão
Nietzsche e o fim da filosofia de parachoque
Aquilo que não me mata, só me fortalece”. Assina que é teu, amado mestre
Friedrich Nietzsche, aquele do vassourístico bigode.
“O que não mata, engorda”. Essa é frase de qualquer vagabundo anônimo de olho
gordo mesmo, aquele sujeito que se expressa apenas em ditados populares.
Aí é que você vê, nos exemplos, como a filosofia de pára-choque de caminhão
sempre foi nietzscheana ou tradutora do alemão para a estrada.
Reflito aqui à beira do caminho, na cidade de Iconha (ES), a encruzilhada que
mais junta caminhoneiros no Brasil. Venho de Cachoeiro, terra do Roberto, terra
de Sérgio Sampaio, terra de Rubem Braga.
É filosofia alemã pura, havia me alertado, muitos anos antes dessa viagem, o
amigo Paulo Mota, cearense de Sucesso. Agora faço um eterno retorno do tema.
O pior, porém, é que não é mais possível filosofar em parachoquês. Já era.
Havia tomado um susto, dez anos atrás, sobre a escassez das frases nos
caminhões. Foi em uma jornada entre Juazeiro do Norte/SP, na boleia de uma
possante carreta, em reportagem sobre caminhoneiros para a revista “V”, na
companhia do fotógrafo Tiago Santana.
Agora é para valer: a filosofia de parachoque morreu na buraqueira da
estrada. Nietzsche deve estar molhando seu bigodón em lágrimas de Viena.
Sai a filosofia popular-nietzchiana e entra a louvação religiosa.
Jesus, aqui resguardado todo respeito e devoção cristã, acabou com as
clássicas frases, sempre sábias e decifradoras da vida. Jesus invadiu todos os
parachoques, lameiras e painéis de caminhões.
Quando não tem Jesus, vai o escudo de time, mas o amor clubístico também não
é mais o mesmo. Um Flamengo aqui, um Corinthians acolá, um São Paulo mais
adiante, um Vasco, um Atlético Mineiro…
Os mais românticos ainda pintam lá um coração com o nome dela, a amada, como
na canção do Roberto. O mais lindo que avistamos foi um “Eu te amo, Joaninha,
luz da minha vida”.
No que Caetano, o motorista cearense que nos conduzia, sábio de rodagem, não
se contém: “Ser caminhoneiro tudo bem, ninguém escolhe o destino; mas ser
caminhoneiro e corno também já é demais da conta!”
Manda a pérola e aperta a trilha sonora, DJ de boleia, na marcha lenta:
Benito de Paula. “Ah, como eu amei…”
É, amigo, a filosofia de parachoque já era, mas você há de ter na memória a
sua preferida. Vamos recuperar essa memória da estrada? Deixe nos comentários,
por favor, a sua pérola.
Xico Sá
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
O riso
O humor, com todas as suas esplêndidas variedades, pode simplesmente ser definido como um tipo de estimulação que visa a provocar o reflexo do riso. O riso espontâneo é um reflexo motor, produzido pela contração coordenada de quinze músculos faciais, num padrão estereotipado, e
acompanhado por alteração da respiração.
Uma estimulação elétrica do músculo risório, principal músculo suspensivo do lábio superior, com correntes de intensidade variada, produz expressões faciais que vão desde o leve sorriso, passando pelo amplo arreganho, até chegarem às contorções típicas da risada explosiva.
Naturalmente, a risada e o sorriso do homem civilizado são, muitas vezes, de um tipo convencional, em que o esforço voluntário substitui a espontânea atividade reflexa ou nela interfere.
A involuntária contração de quinze músculos faciais, acompanhada de certos ruídos irreprimíveis, surpreende-nos como uma atividade sem qualquer valor prático, e sem relação com a luta pela sobrevivência.O riso é um reflexo, embora ímpar, pelo fato de não apresentar nenhuma utilidade aparente. Podemos chamá-lo de reflexo de luxo. Seu único objetivo parece resumir-se no fato de proporcionar alívio temporário à tensão provocada pelas atividades importantes.
acompanhado por alteração da respiração.
Uma estimulação elétrica do músculo risório, principal músculo suspensivo do lábio superior, com correntes de intensidade variada, produz expressões faciais que vão desde o leve sorriso, passando pelo amplo arreganho, até chegarem às contorções típicas da risada explosiva.
Naturalmente, a risada e o sorriso do homem civilizado são, muitas vezes, de um tipo convencional, em que o esforço voluntário substitui a espontânea atividade reflexa ou nela interfere.
A involuntária contração de quinze músculos faciais, acompanhada de certos ruídos irreprimíveis, surpreende-nos como uma atividade sem qualquer valor prático, e sem relação com a luta pela sobrevivência.O riso é um reflexo, embora ímpar, pelo fato de não apresentar nenhuma utilidade aparente. Podemos chamá-lo de reflexo de luxo. Seu único objetivo parece resumir-se no fato de proporcionar alívio temporário à tensão provocada pelas atividades importantes.
*Este capítulo baseia-se no sumário da teoria que elaborei para a 15ª ed. da
Enciclopédia Britânica.
Arthur Koestler: Humor e Espírito, in Jano: Uma Sinopse São Paulo: Melhoramentos, 1981. (excertos)
Enciclopédia Britânica.
Arthur Koestler: Humor e Espírito, in Jano: Uma Sinopse São Paulo: Melhoramentos, 1981. (excertos)
Humor
Qual a diferença entre um advogado e uma sanguessuga? R: A sanguessuga vai embora quando sua vítima morrer.
Tem de ser equilibrista até o final. E suando muito, apertando o cabo da sombinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame ainda a percorrer - e sempre exibindo para o público um falso sorriso de serenidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros, como se na vida você não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse a primeira vez, e a mais perigosa. Do contrário, seu número será um fracasso.
Só
Muito embora as estrelas do Infinito
Lá de cima me acenem carinhosas
E desça das esferas luminosas
A doce graça de um clarão bendito;
Embora o mar, como um revel proscrito,
Chame por mim nas vagas ondulosas
E o vento venha em cóleras medrosas
O meu destino proclamar num grito,
Neste mundo tão trágico, tamanho,
Como eu me sinto fundamente estranho
E o amor e tudo para mim avaro…
Ah! como eu sinto compungidamente,
Por entre tanto horror indiferente,
Um frio sepulcral de desamparo!
João da Cruz e Sousa
Lá de cima me acenem carinhosas
E desça das esferas luminosas
A doce graça de um clarão bendito;
Embora o mar, como um revel proscrito,
Chame por mim nas vagas ondulosas
E o vento venha em cóleras medrosas
O meu destino proclamar num grito,
Neste mundo tão trágico, tamanho,
Como eu me sinto fundamente estranho
E o amor e tudo para mim avaro…
Ah! como eu sinto compungidamente,
Por entre tanto horror indiferente,
Um frio sepulcral de desamparo!
João da Cruz e Sousa
Uma forma de censura
Como não sou biógrafo e nem pretendo ser, não é em causa própria que defendo
a liberdade de um escritor contar a história de uma personalidade pública —
político, artista, jogador de futebol, cientista — sem autorização prévia dele
ou de seus familiares quando ele não está mais aqui. É o que se faz nas grandes
democracias. Só na nossa é que vigora a “biografia autorizada”, um artifício
legal que confere ao biografado ou a seus herdeiros o poder de decidir o que
deve ou não chegar ao leitor.
Assim, no país que lutou tanto para abolir a censura do Estado, pratica-se
nos livros a censura privada, já que, como diz o ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal Ayres Brito, liberdade de expressão é “antes de tudo liberdade
de informação”, e a ela tem direito todo cidadão.
Alega-se que é para resguardar a intimidade alheia. Tudo bem, mas essa
dispensa de consentimento antecipado não concede ao autor imunidade, não o
isenta de responsabilidade em casos de informações falsas ou ofensivas à
honra.
Não se trata de um liberou geral. O que se quer evitar é a proliferação da
prática perniciosa de busca e apreensão, ou seja, o recolhimento compulsório de
obras literárias para impedir o acesso de terceiros.
Essa restrição caracteriza-se como censura, e censura de natureza artística é
constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. Outro efeito nocivo é que a
exigência de permissão prévia está criando um “balcão de negócios de valores
vultosos”, conforme denúncia dos editores de livros, que há anos vêm se
movimentando por meio de seu sindicato para derrubar o que consideram ser uma
“ditadura da biografia chapa-branca”.
Eles estão lutando em duas frentes: uma no Congresso, onde tramita um projeto
propondo a modificação do artigo 20 do Código Civil, que permite a apreensão de
biografias não autorizadas. A outra, no STF, no qual ingressaram com uma ação
direta de inconstitucionalidade do tal artigo, com o objetivo de acabar com a
necessidade de autorização prévia.Afinal, a Constituição de 1988 garante, junto
com a liberdade de imprensa e de expressão, o direito à informação.
Com pedido de liminar, a ação foi distribuída à ministra Cármen Lúcia,
abrindo uma perspectiva de luz no fim do túnel. Por sua sensatez, ela costuma
ser chamada de “Carmen lúcida”.
Zuenir Ventura é jornalista.
O Globo
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Idosa de Cajazeiras visita filho preso em Pombal e é acolhida por jovens em rodoviária
Uma senhora de 84 anos foi encontra em condições de risco na rodoviária de Pombal, a mesma havia visitado um filho na cadeia e estava sozinho em sinais de abandono quando foi acolhida pelos jovens Erik Pedroso e Danila Leandro.
Acompanhe abaixo o relato dos jovens:
“Era aproximadamente 23:50 do domingo (25/08), quando fui acompanhar Erick na espera do ônibus que voltaria para Campina Grande e encontramos esta senhora deitada em um dos guichês que estão em reforma na rodoviária de Pombal.
Ficamos indignados com a cena que encontramos, afinal, o que faria uma senhora dona de um sorriso singelo e marcas faciais de quem já viveu muito, sozinha na rua? Ao nos sentirmos incomodados por fazer algo, logo nos aproximamos. Maria, assim ela me respondeu como se chamava, e logo perguntou meu nome.
A mesma tem 84 anos, com um filho preso na cadeia pública de Pombal; dona Maria vagava pelas ruas desde a sexta-feira, como ela mesma indagou: "Mãe, faz tudo pelos filhos. Estou passando fome, ninguém me dá comida, estou sofrendo muito ao ver meu filho naquela situação." A mesma me respondeu que era natural daqui de Cajazeiras, estava tentando voltar para casa, mas não tinha mais dinheiro. Providência divina! É a única explicação que eu tenho para esse encontro.
Enfim, fizemos nossa parte. Compramos sua passagem de volta para casa, deixamos alimentada naturalmente e espiritualmente, afinal, Deus proveu tudo! O que me faz compartilhar esse momento com vocês, é render Glória somente a Deus! Pois Ele é o responsável disso tudo”.
Fonte e créditos para o site
falanotícia
A Falsa Sabedoria Política
É reduzido o número daqueles que vêem com os seus próprios olhos e sentem com o próprio coração. Mas da sua força dependerá que os homens tendam ou não a cair no estado amorfo para onde parece caminhar hoje uma multidão cega.
Quem dera que os povos vissem a tempo, quanto terão de sacrificar da sua liberdade para escapar à luta de todos contra todos! A força da consciência e do espírito internacional demonstrou ser demasiado fraca. Apresenta-se agora superficialmente enfraquecida para consentir a formação de pactos com os mais perigosos inimigos da civilização. Existe, assim, uma espécie de compromisso, criminoso para a Humanidade, embora o considerem como sabedoria política.
Não podemos desesperar dos homens, pois nós próprios somos homens.
Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo'
Imagem do dia
Chineses preparam lanterna de papel de 30 metros de diâmetro no vilarejo de Xiapo, província de Hainan, na China; a lanterna foi feita em homenagem ao tradicional festival do Fantasma Faminto Chinês
Médicos hostilizam colegas estrangeiros em Fortaleza
Grupo de médicos cubanos durante treinamento Foto: Jorge
William / O Globo
Selecionados pelo programa Mais Médicos, 96 profissionais com formação no
exterior foram hostilizados na noite desta segunda-feira, 26, em Fortaleza, por
um grupo de médicos cearenses. O incidente ocorreu quando os estrangeiros saíam
da aula inaugural do treinamento a que se submetem na capital. Cerca de 50
médicos brasileiros fizeram um corredor humano e hostilizaram os estrangeiros -
entre eles 70 cubanos - gritando palavras de ordem como "Revalida".
A manifestação, puxada pelo Sindicato dos Médicos do Ceará, cobra do governo
federal que os médicos vindos de fora sejam submetidos ao exame de revalidação
do diploma. "Não aceitamos que eles apenas passem por avaliação de português e
Sistema Único de Saúde", reclamou o presidente do Sindicato, José Maria
Pontes.
Lauriberto Braga, Estadão
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Morre em João Pessoa o Sr. Rivaldo do Ó Farias (Catita)
Faleceu no dia de ontem, na cidade de João Pessoa, o Sr. Rivaldo do Ó Farias, figura folclórica e bastante conhecida na cidade de Pombal-PB pela alcunha de "Catita".
Rivaldo, 66 anos de idade, foi atropelado por um ônibus na manhã da última segunda-feira quando tentava atravessar a Avenida Getúlio Vargas na capital da Paraíba.
"Catita" era natural da vizinha cidade de Condado-PB mas residia em Pombal-PB há muitos anos e costumava caminhar pelas ruas da cidade com fotografias de políticos da região penduradas em um quadro.
Escultura
Não é carne. É mármore. Esta escultura de Bernini é paradigma na arte desde que concebida. O detalhe da coxa de Proserpina, apalpada, é algo que beira a perfeição absoluta e total domínio da técnica da escultura
Nudez
Não cantarei amores que não tenho, e, quando tive, nunca celebrei.
Não cantarei o riso que não rira e que, se risse, ofertaria a pobres. Minha matéria é o nada.
Jamais ousei cantar algo de vida: se o canto sai da boca ensimesmada, é porque a brisa o trouxe, e o leva a brisa, nem sabe a planta o vento que a visita.
Ou sabe? Algo de nós acaso se transmite, mas tão disperso, e vago, tão estranho, que, se regressa a mim que o apascentava, o ouro suposto é nele cobre e estanho, estanho e cobre, e o que não é maleável deixa de ser nobre, nem era amor aquilo que se amava. Nem era dor aquilo que doía: ou dói, agora, quando já se foi?
Que dor se sabe dor, e não se extingue? (Não cantarei o mar: que ele se vingue de meu silêncio, nesta concha.) Que sentimento vive, e já prospera cavando em nós a terra necessária para se sepultar à moda austera de quem vive sua morte?
Não cantarei o morto: é o próprio canto. E já não sei do espanto, da úmida assombração que vem do norte e vai do sul, e, quatro, aos quatro ventos, ajusta em mim seu terno de lamentos.
Não canto, pois não sei, e toda sílaba acaso reunida à sua irmã, em serpes irritadas vejo as duas.Amador de serpentes, minha vida passarei, sobre a relva debruçado, a ver a linha curva que se estende,ou se contrai e atrai, além da pobre área de luz de nossa geometria. Estanho, estanho e cobre, tais meus pecados, quanto mais fugi do que enfim capturei, não mais visando aos alvos imortais. Ó descobrimento retardado pela força de ver. Ó encontro de mim, no meu silêncio, configurado, repleto, numa castaexpressão de temor que se despede. O golfo mais dourado me circunda com apenas cerrar-se uma janela.
E já não brinco a luz. E dou notícia estrita do que dorme sob placa de estanho, sonho informe, um lembrar de raízes, ainda menos um calar de serenos desidratados, sublimes ossuários sem ossos; a morte sem os mortos; a perfeita anulação do tempo em tempos vários, essa nudez, enfim, além dos corpos, a modelar campinas no vazio da alma, que é apenas alma, e se dissolve.
Carlos Drummond de Andrade
Senador denuncia relação do governo boliviano com o narcotráfico
Depois de chegar ao Brasil com a ajuda da embaixada brasileira, o senador
boliviano que estava asilado há um ano em La Paz, defendeu-se das denúncias de
crimes de corrupção que pesam contra ele na Bolívia, e revelou que denunciou o
envolvimento de líderes do governo de seu país com o narcotráfico.
Em entrevista à GloboNews, Roger Pinto Molina disse que se coloca à
disposição do Brasil para ratificar denúncias. Mesmo sem ter salvo conduto do
governo da Bolívia para deixar aquele país, o político da oposição viajou de
carro por cerca de 1,6 mil quilômetros de carro até a cidade de Corumbá, Mato
Grosso do Sul.
O Globo
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
Justiça autoriza psicólogos e assistentes sociais a ouvir depoimento de criança vítima de violência
Brasília – A Justiça Federal no Ceará acatou pedido do Ministério Público Federal (MPF) e decretou a nulidade das resoluções do Conselho Federal de Psicologia e do Conselho Federal de Serviço Social que impediam profissionais das categorias de atuarem no chamado Depoimento sem Dano ou Depoimento Especial. A sentença suspende, em todo o país, os efeitos das resoluções. Com a decisão, psicólogos e assistentes sociais poderão acompanhar depoimentos de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, sem correrem o risco de responder a processos administrativos. Os processos instaurados pelos conselhos com base nas resoluções, que foram anuladas, devem ser paralisados.
O Depoimento sem Dano é uma prática que vem sendo adotada em casos de violência sexual de crianças e adolescentes, e que visa a reduzir traumas aos jovens e testemunhas de violência sexual durante a produção de provas judiciais. No depoimento, a vítima e o réu não ficam frente a frente. A criança, neste caso, fica em outra sala e dá o seu depoimento a um psicólogo ou assistente social. O relato é transmitido na sala de audiência por um sistema interno de TV.
Para o MPF, a ação quis assegurar a liberdade do exercício regular dos profissionais. De acordo com a procuradora da República Nilce Cunha Rodrigues, as resoluções "violam os direitos do psicólogo e do assistente social porque afrontam o livre exercício profissional destas categorias, como também o dever destes profissionais de contribuir para a prestação jurisdicional concernente às crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual".
O Conselho Federal de Psicologia sugere substituir a inquirição da vítima pela perícia psiquiátrica, ou uma avaliação psicológica. O entendimento é que o profissional é colocado em uma situação de intermediário, com o juiz ditando as perguntas por meio de um ponto no ouvido. E é preciso tirar o psicológo e a criança do papel de produção de prova.
O Conselho Federal de Serviço Social reafirmou, em nota, que "não reconhece como atribuição ou competência de assistentes sociais a inquirição de crianças e adolescentes, vítimas de violência sexual, no processo judicial" e que considera a utilização da metodologia função "própria da magistratura, e não possui nenhuma relação com a formação ou conhecimento profissional de assistentes sociais". O conselho também informou que está empenhado em "adotar todas as medidas judiciais cabíveis a fim de reverter tal decisão".
Psicólogos e assistentes sociais argumentam que devem atuar dentro de um processo de escuta – a ideia é estabelecer uma relação acolhedora e não invasiva que visa a superação dos traumas e a não revitimização, sem a necessidade de produção de provas.
A ação proposta pelo MPF teve como base denúncia apresentada em 2012 pela Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza, órgão vinculado ao Gabinete do Prefeito. Segundo a secretaria, os atos normativos dos conselhos estariam inviabilizando a implantação, na capital cearense, de projeto semelhante ao Depoimento sem Dano, que teve origem em Porto Alegre, mas que em Fortaleza ganhou o nome de Depoimento Especial.
Edição: Carolina Pimentel
Senado aprova veto a alimento não saudável em escolas
A Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou uma proposta que proíbe a
venda de alimentos considerados não saudáveis em escolas do país. Como tramita
em caráter terminativo, o texto segue direto para a Câmara dos Deputados - a não
ser que algum parlamentar peça a apreciação pelo plenário do Senado. A votação
foi unânime.
O projeto veta o comércio de “bebidas com baixo teor nutricional e alimentos
com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans ou de
sódio”. A proposta não especifica quais itens ficam proibidos e diz apenas que
esse detalhamento será feito em regulamentação posterior. Mas o texto abre a
possibilidade de que refrigerantes, salgadinhos, bolachas e frituras sejam
vetados.
Gabriel Castro, Veja
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Ariano Suassuna teve infarto de pequenas proporções, diz boletim
O comprometimento cardíaco do escritor Ariano Suassuna, 86 anos, foi considerado de pequenas proporções, informou a equipe médica da Unidade Coronária do Real Hospital Português, em boletim divulgado no início da última quarta-feira (21). O escritor sofreu um infarto agudo do miocárdio e está internado na unidade de saúde desde a manhã de hoje.
Ariano foi submetido a exames habituais, e o estado de saúde dele é considerado clinicamente estável. Ainda não há previsão de alta.
Ariano foi submetido a exames habituais, e o estado de saúde dele é considerado clinicamente estável. Ainda não há previsão de alta.
G1
Penas e pênaltis
Sou radicalmente contra a pena de morte, mas faço algumas exceções. Quem
conversa no cinema durante todo o filme e, por uma estranha deformação da lei
das probabilidades, sempre senta atrás de você, merece execução sumária.
Quem liga o seu celular no meio do filme para ver se tem alguma mensagem, e
por outra cruel casualidade sempre senta do seu lado: execução sumária — se
possível por garrote vil.
Gente que imita aspas com dois dedos de cada mão... Está bem, isto é só uma
implicância minha. Sete anos de trabalho forçado.
Casal que se chama de “fofo” e “fofa”: banimento para a Ilha do Diabo, ou
similar.
PÊNALTIS
Para um esporte tão antigo, o futebol até que mudou pouco através do tempo.
Pensando bem, a única mudança significativa nas suas regras foi na que trata do
que podem ou não podem os goleiros. Métodos de aferição eletrônica para ajudar o
juiz cedo ou tarde serão adotados, mas não afetarão as regras do jogo. A mudança
que eu proponho, sim, é radical. Seguinte: o que determinaria o pênalti não
seria o local da falta, mas a sua natureza. Como no basquete.
Em qualquer lugar do campo em que acontecesse uma falta mais violenta...
Priii. Pênalti. Caberia ao juiz decidir o que mereceria pênalti ou não, como
hoje ele já decide o que merece cartão vermelho, cartão amarelo ou só um aviso.
Isto coibiria as entradas criminosas e o jogo violento em geral. Hein? Hein?
Eu sei. Mal tive a ideia e já me ocorreram várias objeções. A nova regra
aumentaria demais o poder do juiz de influir no resultado final do jogo. E
dobraria o incentivo à encenação dos jogadores para simular uma gravidade
inexistente. Pelo menos nos jogadores brasileiros, que já são os mais dramáticos
do mundo.
Esquece.
Luis Fernando Veríssimo é escritor.
Esquecimento
Esse de quem eu era e era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...
E desse que era eu meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos...!
Florbela d'Alma da Conceição Espanca
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...
E desse que era eu meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos...!
Florbela d'Alma da Conceição Espanca
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Índios isolados fazendo contato com povoado no Peru
Um grupo de índios da tribo Mashco-Piro, uma das mais isoladas do mundo, fez contato com pessoas em um povoado da região da Amazônia peruana para pedir comida, cordas e machetes, de acordo com autoridades locais.
As dezenas de índios foram filmados em junho tentando atravessar o rio Las Piedras, no povoado de Monte Salvado, no sudeste do Peru.
Preocupados em preservar a saúde dos nativos - cujo sistema imunológico pode não resistir a doenças de pessoas que vivem no povoado - guardas da região dissuadiram os índios que tentavam chegar à outra margem do rio.
Saúl Puerta Penha, diretor da ONG Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Floreta Peruana conta que os índios no vídeo estão pedindo bananas para se alimentar.
As dezenas de índios foram filmados em junho tentando atravessar o rio Las Piedras, no povoado de Monte Salvado, no sudeste do Peru.
Preocupados em preservar a saúde dos nativos - cujo sistema imunológico pode não resistir a doenças de pessoas que vivem no povoado - guardas da região dissuadiram os índios que tentavam chegar à outra margem do rio.
Saúl Puerta Penha, diretor da ONG Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Floreta Peruana conta que os índios no vídeo estão pedindo bananas para se alimentar.
BBC Brasil
Nariz e narizes
O segredo da arte — e o segredo da vida — é se-
guir o seu próprio nariz.
Não deixes que outros lhe ponham argola.
Sim, é verdade que há narizes tortos, uns para a
esquerda, outros para a direita... Não perca tempo,
telefone ao Pitanguy.
Um verdadeiro nariz conduz para a frente.
(A vaca e o hipogrifo, Mário Quintana)
P.S. Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
São flores ou são nalgas
São flores ou são nalgas
estas flores
de lascivo arabesco?
São nalgas ou são flores
estas nalgas
de vegetal doçura e macieza?
estas flores
de lascivo arabesco?
São nalgas ou são flores
estas nalgas
de vegetal doçura e macieza?
Carlos Drummond de Andrade
Frase do dia
"O bate-boca entre dois ministros do Supremo Tribunal Federal
mostrou que ainda não chegamos ao ponto ótimo de uma democracia, quando o
respeito pela opinião alheia - por mais estranha que seja - é a condição
primeira e última de uma sociedade realmente livre.”
Carlos Heitor Cony, colunista da Folha de
S. Paulo
O contrário do Amor
O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.
O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.
O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.
O menino que escrevia versos
De que vale ter
voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(VERSOS DO MENINO QUE FAZIA VERSOS)
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(VERSOS DO MENINO QUE FAZIA VERSOS)
— Ele escreve versos!Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.— Há antecedentes na família?
— Desculpe doutor?O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:— Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela, tinham sido lua-de-mel. Para ele, não fora senão período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas confissões de amor.
Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.— São meus versos, sim.O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?
Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.— O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte eléctrica.Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar.
Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:— Dói-te alguma coisa?
—Dói-me a vida, doutor.
O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:— E o que fazes quando te assaltam essas dores?
— O que melhor sei fazer, excelência.
— E o que é?
— É sonhar.Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.
O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:— Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clinica psiquiátrica.A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.
Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendi dos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.— Não continuas a escrever?— Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio.O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.— Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços.
— Não importa — respondeu o doutor.Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.
Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:
— Não pare, meu filho. Continue lendo...
— É sonhar.Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.
O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:— Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clinica psiquiátrica.A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.
Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendi dos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.— Não continuas a escrever?— Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio.O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.— Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços.
— Não importa — respondeu o doutor.Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.
Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:
— Não pare, meu filho. Continue lendo...
Mia Couto nasceu na Beira, em Moçambique, em 1955. Foi jornalista e atualmente é professor e biólogo. É sócio correspondente, eleito em 1998, da Academia Brasileira de Letras, sendo sexto ocupante da cadeira 5, que tem por patrono Dom Francisco de Sousa. Como biólogo, dirige a Avaliações de Impacto Ambiental, IMPACTO Lda., empresa que faz estudos de impacto ambiental, em Moçambique. Mia Couto tem realizado pesquisas em diversas áreas, concentrando-se na gestão de zonas costeiras. Além disso, é professor da cadeira de ecologia em diversos cursos da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
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Garoto carrega cão durante alagamento causado por chuvas de monção na região metropolitana de Manila
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