Apenas a título de esclarecimento, aos
que respeitam opiniões contrárias, e apenas a esses, é que escrevo
agora.
Fui alvo de críticas e agressões acerca de
minha opinião avessa ao Bolsa Família, programa criado pelo Governo Federal há
10 anos.
Grande parte optou por uma justificativa
simplista: “é rica, juíza, elite, fala porque nunca passou necessidades,
nunca passou fome...”. Pronto, essa justificativa encerra a questão e
resolve o problema. É uma idiota que nada sabe sobre a vida.
Apenas a título de informação saibam que não
sou rica, nunca fui e nunca serei. Meu salário é bom, e com ele, se Deus
quiser, nunca passarei fome nem necessidade, mas lutei por ele, e como lutei.
Sofri, estudei, trabalhei e lutei, repita-se. Mas isso é uma outra história que
em outro momento, se interessar a alguém, posso contar. Contudo, existem outros
motivos que levam as pessoas a formarem suas opiniões que não necessariamente as
suas condições financeiras.
Nunca passei fome, graças a Deus e ao trabalho
de meus pais, mas da mesma forma que nunca faltou, também nunca sobrou. Trabalho
desde os 18 anos de idade, quando me submeti a concurso público e fui ser
funcionária pública, trabalhar oito horas diárias e ganhar menos do que um
salário mínimo, apesar da Constituição Federal já vedar tal conduta. Mas como já
disse, isso é uma outra história.
O final de semana passado retrata exatamente um
dos fatores que me levam a formar a opinião que tenho. Um simples
“boato” de que o Bolsa Família iria acabar foi suficiente para causar um
caos em várias agências da Caixa Econômica Federal. Uma pessoa me disse que
teve que pedir dinheiro emprestado para sair do seu sítio para receber o bolsa
família que “ía acabar”...
A pergunta é: de que viveriam essas pessoas
se o bolsa família acabasse? A minha resposta: passariam ainda mais fome do
que tinham quando começaram a recebê-lo. E sabem porque? Porque agora, com a
certeza do “benefício”, não se propõem mais a trabalhar, ou estudar ou se
profissionalizar. Enfim. Estão escravizados.
É a isso que me oponho.
Quando esse programa foi implantado a
situação das pessoas era caótica, lastimável. Essas pessoas estão sendo tratadas
como inúteis, incapazes. A partir do momento em que se implanta um
programa de assistência sem uma política paralela de reestruturação, capacitação
para restabelecimento de condições de trabalho, auto sustento, enfim, de
independência, ou se considera que essas pessoas não tem capacidade para tanto
ou não se está querendo ajudar, mas tão somente escravizar. É no que
acredito.
A ONU, embora elogie o programa, critica o
assistencialismo e o apelo político que ele gera. Segundo essa
Organização o programa rendeu muita popularidade e votos, mas as desigualdades
continuam elevadas com pequenos progressos.
Como programa de caráter EMERGENCIAL, o Bolsa
Família foi importante, mas onde está a inclusão socieconômica sustentável
das populações?
O saudoso Luiz Gonzaga já dizia em uma de suas
canções, de composição com Zé Dantas: “Seu Doutor uma esmola para o homem
que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão...”. É nisso que
acredito muito antes de me tornar Juíza.
A Coordenadora do Fórum Nacional de
Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil afirmou que da forma como o
programa funciona, não tem sido útil para identificar e retirar as crianças do
trabalho e que esse programa não tem impacto nenhum na redução do trabalho
infantil.
Vejam a entrevista de Frei Beto ( que não é
juiz), um dos líderes do Fome Zero e me digam o que acham.
O programa existe há 10 anos e pouquíssimo
foi mudado na vida dessas pessoas. O que foi feito de efetivo para reestruturar
essas famílias? Visitem as casas dessas pessoas e me digam o quanto
mudou!
Enquanto apresentam índices de redução de
evasão escolar, em razão do Bolsa Escola, os adolescentes que passam pela Vara
que ocupo não sabem a data de seus nascimentos, não sabem o seu nome completo,
não sabem o nome de seus pais e, pasmem, não tem a menor ideia de seus
endereços. Que noção de civilidade esses meninos tem? Esses mesmos meninos
que estão querendo jogar na prisão!?!
Quem ou que vai dar essa noção de civilidade
senão um programa sério de educação, capacitação, dignificação das pessoas?
Bolsa família não dignifica. Escraviza. É o que acho.
As pessoas se tornam escravas da vontade
política e não formadoras dessa vontade. E isso para mim é um faz de
conta sim. Não disse que a Presidente era um faz de conta. Disse que o Brasil
é um País de faz de conta.
Defender a redução da maioridade penal é um
exemplo disso. Defender a pena de morte também. Fazem de conta que isso vai
resolver a criminalidade e não vai. Da mesma forma que fazem de conta que
cumprem o ECA, que existe há mais de vinte anos, e não cumprem. Nunca cumpriram.
Como eu posso cobrar de alguém a quem eu nunca dei a chance???
As pessoas não podem viver de esmolas.
Precisam aprender a andar com as próprias pernas e precisam saber que isso é
responsabilidade delas também. É dever dos Governos Federal, Estadual e
Municipal oferecer essas condições e dos cidadãos escolher uma delas e seguir
suas vidas com a dignidade que cada profissão oferece, porque todas a tem.
Vejo mulheres jovens e saudáveis pedindo
dinheiro nas ruas. Cada uma com seus três ou quatro filhos. Mas nenhuma pede um
emprego. Por que?
Os senhores tem ideia de quantos cartões
desse programa estão nas famosas “Bocas de fumo”?
Vejo homens jovens e saudáveis nas portas dos
bares ou papeando nas esquinas em pleno dia da semana. Porque não estão
trabalhando? Qual o trabalho que as políticas públicas oferecem ou a
capacitação?
É certo que existem alguns programas
profissionalizantes. Mas são tímidos, limitados, e não recebem a milésima parte
do investimento que o programa de “caridade” gasta.
A quê isso vai nos levar, senhores? A quê
nos levou até agora? Como estão essas pessoas? Sem fome? Tem certeza que R$
130,00 (cento e trinta reais) realmente mata essa fome?
Não sou contra partido político algum. Sou
contra políticas públicas inúteis e danosas ao futuro da nossa Nação. Sou e
serei sempre.
É a minha opinião senhores. Respeitem.
Discordem, mas respeitem. E não sejam tão simplistas assim. As coisas não
são simples e não podem ser “explicadas” dessa forma principalmente por quem não
me conhece.
O homem precisa ser dignificado e não
escravizado.
As pessoas continuam sofrendo com a seca
absolutamente TODOS OS ANOS HÁ DÉCADAS. E o que foi feito de política de
irrigação, de política que permaneça que se perpetue e que de fato transforme a
vida do sertanejo?
É contra isso que sou. Sou Nordestina com muito
orgulho e me sinto humilhada com notícias como as que passaram no Jornal
Nacional com pessoas “famintas” na porta do Banco para receberem suas
migalhas.
Não precisamos disso. Somos inteligentes e
capazes. Temos força e vontade de trabalhar. Só precisamos de oportunidades e
onde elas estão? Onde está a água das chuvas do ano passado?
Bem. Não sei se melhorei muito a situação.
Mas não foi essa a minha intenção. Precisava apenas explicar os meus
motivos. Aos que me criticaram com decência, fico com as críticas para
refletir sobre elas na construção de minhas opiniões futuras.
Aos que apenas me agrediram, fico com a dor que
me causaram e com o consolo de que o tempo cura quase tudo.
Aos que perderam alguns minutos de suas vidas
para lerem essa minha resposta. Agradeço a atenção.
A todos. Reafirmo. Esta é a minha opinião.
Não a de uma Juíza, mas a de uma mulher que quer muito mais do que esmolas para
o cidadão brasileiro e, principalmente, para os jovens adolescentes.
Que Deus esteja conosco!
Cajazeiras – PB, 26 de maio de 2013.
Adriana Lins de Oliveira Bezerra
Juíza de Direito, Eleitora e Cidadã
Fonte: Setecandeeiroscajá