domingo, 7 de maio de 2017

Arara azul

Todo adulto tem na memória de sua infância uma ave. A minha é a arara azul. Ela ficava solta no mirante, que também servia de suporte para a caixa d´água, da sede da fazenda. Todas as férias escolares passávamos lá. A arara azul falava duas palavras, Arara e Paulo. Paulo é o nome do meu irmão, porém não sei a razão dela ter escolhido o nome dele, e não o meu. Talvez porque ele era mais traquina, e nossa mãe sempre estava aos gritos chamando Paaualoo por alguma razão. A arara repetia: Paulo. E quando falávamos com  ela, com a arara, ela repetia araaraa para nosso deleite. Meus filhos não conheceram a arara azul. Mas tiveram algum contato com o interior, passando algumas férias na fazenda. Já no tempo deles era proibido manter aves em cativeiro. Conheceram os sabiá, bem-te-vi, anu preto e anu branco, periquito, papagaio e maritaca. Mas nenhum deles tem a beleza, graça e inteligência da minha arara azul. Agora, meus netos, já vão pouco para a fazenda. São muito mais urbanos. Tem se contentado com pombos nas calçadas da cidade. Levei minha neta de dois anos ao Zoológico e o único pássaro entre os hospedes que ela realmente se encantou, correu atrás, e quis alimentar, foram os pombos que corriam trás dos visitantes, para ganharem amendoim, e milho de pipoca. Pombos urbanos. As aves, e as cores de suas penas, estão sofrendo o mesmo empobrecimento que vive o país. Não se pode comparar uma arara azul, com um pombo. Por mais que eu goste de pombos, seu andar, suas plumagens, e seu  arrulhar não se compara ao colorido, ao voo, e a inteligência e grito das araras. Meu avô teve em plena rua Treze de Maio, em São Paulo, um grande viveiro de pássaros no jardim. Muitas gaiolas com canários. E era permitido cria-los em cativeiro. Hoje isso parece coisa do tempo da escravidão. A liberdade que foi dada às aves, nem sempre ajudou a preserva-las. Ou porque foram perseguidas, ou seus habitas naturais foram dizimados pelo homem.

As araras azuis eram mais comuns que as vermelhas. Mas vi bandos de araras vermelhas em Mato Grosso, no Pantanal, em Goiás e no Pará. Faz tempo que não vou para aquelas bandas, mas tenho notícia que diminuíram muito. Uma pena, minha neta vai ter que se contentar com pombos. 
 
Eduardo P. Lunardelli

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