Na primeira República, após a vitória de 1915 que lhe deu a chefia política do Estado, Epitácio Pessoa indicou Francisco Camilo de Holanda para mandatário da Parahyba. Sua
escolha não foi das mais pacíficas. Encontrou barreira no irmão de
Epitácio, coronel Antonio Pessoa, que o detestava. Antonio Pessoa era o
vice-presidente do Estado em exercício, face
à renúncia do presidente Castro Pinto. A escolha de Camilo irritou
Antonio Pessoa a tal ponto que o fez abandonar o cargo e retirar-se para a sua fazenda em Natuba. Entregou o
governo a Solon de Lucena, presidente da Assembleia. Camilo era general
médico e reformou-se como tal. Sua carreira política registra o
exercício de vários mandatos de deputado federal: em 1900, 1909, 1912 e 1915. Portando, deixou a Câmara para assumir a presidência da Parahyba em 1916, até 1920.
A
gestão de Camilo de Holanda foi das mais profícuas. Erigiu a Escola
Normal, prédio onde hoje se encontra o Tribunal de Justiça, e a sede de A
União; abriu a avenida Epitácio Pessoa e construiu a praça Venâncio
Neiva, sem o Pavilhão do Chá, que foi obra de João Pessoa, conforme
lembra Osvaldo Trigueiro Melo. Construiu a balaustrada das Trincheiras,
onde, alguns anos mais tarde, Osvaldo Pessoa,como prefeito, plantou um
estátua do seu construtor. O volume de obras despertou o ciúme da
oposição, que lhe moveu impiedosa campanha, alegando desperdício e
desvio de verbas. Chegaram a, maldosamente, chamar o seu período de “governo do racha” numa alusão dúbia e injusta à qualidade das obras e a possíveis beneficiamento
de correligionários. Nada, porém, teria sido provado. A honra de Camilo
permaneceu intacta e reconhecida pelos seus pósteros. Remanesce,
apenas, como censura, uma carta de Epitácio, em janeiro de 1920, que
pergunta: “Por que despender mil contos numa Escola Normal?”.
Epitácio
Pessoa chefiava a política da Parahyba à distância, com a caneta em mão
de ferro. Por cartas e telegramas, dava as ordens e era obedecido. Por
alguns, a exemplo de Solon, cegamente. Por outros, como Camilo, dentro
das suas próprias conveniências. E quando Epitácio indicou um sobrinho
para governar o estado encontrou os maiores obstáculos às suas
determinações. Mas essa é outra história. Quero contar como, Camilo de
Holanda, para quem Epitácio abriu um exceção e
lhe ofereceu jantar, quando de sua escolha para a presidência da
Parahyba, terminou proibido de sentar à mesa de qualquer integrante da
família Pessoa, apesar dos reconhecidos serviços prestados à oligarquia
que dominou a terrinha por mais de quinze anos.
Um grupo de epitacistas autodenominados de “jovens turcos”
era ligado ao coronel Antonio Pessoa e fazia oposição a Camilo. Poucos
dias depois de se tornar inquilino do Palácio, Camilo acreditou na
existência de um complô para matá-lo. O matador seria alguém da
confiança do prócer dinamarquês e naturalizado campinense, Cristiano
Lauritzem. O facínora estaria
escondido na casa do prefeito Antonio Pessoa Filho aguardando o momento
de eliminar o presidente. De imediato, Camilo mandou cercar a casa do
prefeito da capital à procura do pseudo as sassino. Essa ação policial
foi levada ao conhecimento de Antônio Pessoa que, apoplético com a desfeita, sofreu um ataque fulminante.
Ao
tomar conhecimento do passamento do ex-presidente Antonio Pessoa, o
juiz federal Caldas Brandão dirigiu-se ao Palácio, como de praxe, para
apresentar as condolências ao chefe do Executivo. O presidente Camilo,
mesmo educado com o visitante, jocosamente, asseverou: “Ora, Caldas, você se dando a esse trabalho...Com a chegada de Antonio Pessoa, o inferno vai dar três dias de festa”. Esse fato inusitado aprofundou as mágoas dos epitacistas ligados ao Coronel morto e, em consequência, Antonio Pessoa Fi lho deixou a prefeitura da Capital. Por outro lado, Solon de Lucena, que chefiava os jovens turcos,
nomeado Secretário Geral do Estado, recusou-se a assumir o cargo. O
humor fúnebre de Camilo, segundo contam, teve continuidade:
constrangido, Caldas Brandão teria procurado o bispo, Dom Aurélio de
Miranda Henriques que, por sua vez, procurou confirmar com Camilo aquele
agressivo remoque contra Antonio Pessoa. Camilo, só fez piorar a
situação: “Jamais diria tal coisa! Que mal Satanás me fez para eu lhe desejar essa péssima companhia?
Na
sucessão de Camilo de Holanda, Epitácio ainda era Presidente da
República. O destino de todo ex-presidente do Estado, sempre foi a
Câmara ou o Senado. Camilo estava na lista dos deputados que seriam
eleitos em 1920. Eis que chega ao Catete a viúva de Antonio Pessoa para
contar a desfeita de Camilo com a memória do seu marido. A viúva queria a retirada do nome de Camilo da chapa federal. Epitácio telegrafou a
Caldas Brandão pedindo confirmação da ti rada zombeteira de que fora
testemunha. Confirmada a versão, Epitácio concedeu a Camilo o direito de
anunciar sua renúncia à candidatura. Na sua resposta Camilo negou o fato: “Informação
caluniosa levada ao seu conhecimento por quem jamais terá coragem de
sustentá-la minha presença, não passa de intriga. Causando admiração ser
acreditada.Deposito, pois, suas mão, minha candidatura”.
Epitácio não acreditou em Camilo e simplesmente o alijou da chapa e da
vida pública. Nunca mais foi nada na Parahyba. Em 1930, tentaram
ressuscitá-lo incluindo seu nome na relação de candidatos de oposição a João Pessoa. Foi substituído por João Suassuna.
Relegado ao ostracismo e alimentando até a morte um ódio incontido pelos Silva Pessoa, Camilo
chegou ao fim da vida morando em uma modesta pensão no Rio de Janeiro,
onde passou a viver com seus proventos de general médico reformado. Seu
único luxo era uma viagem sentimental, todo ano, para o veraneio em Praia Formosa, Cabedelo.
Ramalho Leite
( Consultei Osvaldo Trigueiro Albuquerque Melo, Apolônio Nóbrega, Ademar Vidal e Lin da Lewin).
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