Schopenhauer se volta para as “dores do mundo”, mas de forma
existencial e não mais platônica ou kantiana, e buscará na compaixão e
na bondade um fundamento para a ética, renegando o frio e abstrato
imperativo categórico kantiano que se baseia no dever e na dignidade.
Schopenhauer
irá introduzir, na filosofia ocidental, elementos do budismo, que
considera a compaixão e a bondade virtudes fundamentais nas relações
humanas, enquanto que a tradição ocidental, e principalmente Kant, não
consideram a compaixão uma virtude.
Para Schopenhauer, o mundo é
vontade e representação. Essa representação segue os moldes kantianos,
uma vez que Schopenhauer se apropriou de parte da filosofia de Kant. Não
conhecemos o mundo em si, mas o mundo que nos é apresentado através dos
sentidos e processados por nosso aparelho cognitivo. Não conhecemos o
mundo, mas os fenômenos que se apresentam. Conhecemos nossa
representação da realidade , — os fenômenos — mas não a realidade em si.
Mas
a vontade, muito além da “boa vontade” kantiana e do imperativo
categórico, se estende a toda a natureza, que nos demonstra todos os
dias que essa vontade, irracional e cega, move todos os seres vivos.
Todos os seres lutam por sua vida, desde insetos até as plantas, e o ser
humano não está além da natureza.
A ilusão da razão
A
razão iludiu o homem com a sensação de controle, mas Schopenhauer
mostrou que o homem mal tem o domínio de si mesmo, sendo movido por uma
vontade irracional. Descartes descobriu o “eu”, e Schopenhauer, antes
mesmo de Nietzsche ou Freud, mostrou que não temos controle algum sobre
este “eu” racional.
A princípio, esta parece ser uma perspectiva
pessimista que retira do homem qualquer ilusão de controle. Essa força
que move a natureza (e, por conseguinte, todos os homens) é também
egoísta e centrada na subsistência. É um conatus , por assim dizer, que
busca apenas existir e permanecer vivo apesar de todas as enormes
dificuldades e sofrimentos que o mundo nos impõe.
As dores do mundo
Em
Schopenhauer, a filosofia contemporânea prossegue com a desconstrução
da metafísica tradicional, uma vez que esse filósofo volta sua reflexão
para “este mundo” conforme expõe em sua obra As Dores do Mundo.
A Ética da compaixão
Diante
de um mundo de dores e sofrimentos, Schopenhauer propõe uma ética
prática e vivencial baseada na compaixão. Apesar do egoísmo e da
crueldade que fazem parte da existência humana, a caridade e a compaixão
são o contraponto do egoísmo. O egoísmo é fruto do “eu” e do “ego”, que
faz o homem se considerar o “centro do mundo” e se opor violentamente
contra tudo que impeça seu bem-estar. O egoísmo separa os homens, a
compaixão, por sua vez, nos aproxima. A compaixão, enquanto princípio
ético fundamental, é a proposta de Schopenhauer. Contra a razão pura
kantiana, Schopenhauer acredita que é a compaixão inata e
verdadeiramente capaz de fundar a ética.
Schopenhauer busca fundar
uma ética da compaixão, e para isso estabelece uma metafísica baseada
em uma vontade universal, que é a essência de todos os seres. Através da
compaixão, percebo a unidade de todas as coisas e consigo estabelecer
uma relação que me une e me conecta com os outros, enquanto o egoísmo
seria uma “ausência metafísica” que separa os homens.
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